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Tiro às vacas

por Carlos Neves, em 22.10.23

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Algures na década de oitenta, quando não havia redes sociais, nem Internet, nem televisões privadas, passou no canal 1 da RTP a primeira novela de que me recordo: “O bem-amado”. Não se lembram? Eu também já tinha esquecido o nome, mas bastou-me pesquisar o nome do personagem principal: “Zeca Diabo”, interpretado por Lima Duarte, mais tarde consagrado como “Sinhozinho Malta” no “Roque Santeiro”.

Ainda recordo as primeiras imagens: Dois homens carregam um defunto num enxerga. Não havia cemitério naquela pobre terra. Paulo Gracindo, o “Coronel Odorico”, candidatou-se a prefeito (presidente da câmara). “Povo de Sucupira…”, começavam assim os discursos. Prometeu construir um cemitério. Ganhou as eleições e fez o cemitério, mas ninguém morria e não o conseguia inaugurar. Desesperado, conseguiu que Zeca Diabo, um perigoso pistoleiro, voltasse à terra e foi tentando arranjar sarilhos para morrer alguém e inaugurar o cemitério, tendo a oposição da “Delegada”, mulher do Delegado que estava paralítico, de um médico com problemas de bebida e de mais gente que compunha a trama e não faz agora aqui falta para o que quero explicar.

Lembro-me desta história muitas vezes para ilustrar coisas que começam com boa intenção e depois fogem ao controlo e à intenção inicial. Por exemplo, alguém decide lançar uma bebida vegetal alternativa ao leite, porque há pessoas que são intolerantes ou alérgicas. Ou lançar uma “carne artificial”, feita em laboratório, porque lhes dizem que isso vai emitir menos carbono. Ou, muito simplesmente, porque é um investimento que vai dar dinheiro (o que é legítimo). Mas depois é preciso vender. E para vender um novo produto, ou para aumentar as vendas de um produto com pouca saída, há um truque velho que se usa na política, em todas as sociedades e até entre as crianças desde a idade escolar: puxar os outros para baixo para tentar subir. Por exemplo, dizer que o leite faz mal. Dizer que as vacas libertam carbono e, estrategicamente, esconder que a erva que elas comem, que fertilizam com os seus excrementos, que o agricultor semeou, foi quem captou esse carbono. 

Agora imaginem que quem investiu nesses novos “produtos alternativos” foram pessoas com muito dinheiro, atores e realizadores de filmes, capazes de fazer ou financiar documentários a deitar a culpa para as vacas de modo a que as pessoas troquem a carne e o leite pelas alternativas que as empresas querem vender… E pelo meio disto há uns “Zecas Diabos”, que agora não são pistoleiros mas “ativistas”, muitas vezes com até com a melhor das intenções, mas a quem deram informação deturpada para os fazerem “atirar”, (atacar, criticar) as vacas que foram domesticadas e vivem em harmonia com os humanos há 10.000 anos… Agora são as vacas, entretanto serão as galinhas para alavancar os ovos artificiais e por aí fora... 

Não quero agora aqui abrir um tiroteio contra os ativistas que, como disse, agem muitas vezes com a melhor das intenções. Quero apenas apelar ao bom senso e sentido crítico de todos, todos... em relação às mensagens que nos chegam pela comunicação social ou pelas redes sociais. Pensem nisto. 

#carlosnevesagricultor

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publicado às 12:32



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