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Eu sei que chego um bocado atrasado à pancadaria, porque o primeiro-ministro já veio hoje dizer que acabou o recreio e às 13h00 de sábado vai tudo para casa, mas não resisto a comentar o que se passou no meu feed do Facebook durante os últimos dias. Se me permitem, vou pegar no comando e andar atrás na gravação automática para rever o filme dos últimos dias:
Sexta-feira, 7 de novembro, 19h00 – o Governo reúne-se para tomar as medidas para conter a segunda vaga que quase todos os países da Europa já tomaram e que, na opinião de muitos médicos que estão na frente da batalha, chegam atrasadas.
Sábado, 8 de novembro – Acordamos, vamos ao Facebook e ficamos a saber as medidas que o primeiro-ministro anunciou à meia noite, nomeadamente o recolher obrigatório ao fim de semana das 13h00 às 6h00 do dia seguinte; Imediatamente, e durante todo o sábado e o domingo, o meu feed de noticias do Facebook (aquilo que vemos quando rolamos o dedo) enche-se de críticas e indignações porque fechar os supermercados à tarde vai concentrar toda a gente nas lojas durante a manhã. Só ao fim do dia vejo uma pequena publicação a lembrar que antigamente não havia hipermercados abertos ao domingo e também se vivia.
Domingo à noite, 9 de novembro – quando finalmente é publicada a lei que regula o recolher obrigatório, aparece a exceção para ir ao supermercado, mercearia e etc. comprar comida durante a tarde; imediatamente começo a ler críticas porque são muitas exceções e assim não adianta nada…
Quarta-feira, 11 de novembro – O Facebook fica inundado de publicações indignadas porque o Pingo Doce vai abrir as lojas às 6h30 aos sábados e domingos. Eu pensei que fosse para evitar a tal concentração de pessoas na loja que toda a gente criticava no sábado, mas devo ter sido o único a entender assim. Hoje os autarcas e sindicatos juntaram-se às criticas, referindo a injustiça de horários dos hipermercados face ao pequeno comércio e o sacrifício que seria para os empregados estar nas lojas às 4h00 da madrugada, sem transportes, etc – e eu acho que estas críticas tem razão.
Quinta-feira, 12 novembro – o Pingo doce percebe que fez asneira, pede desculpa e volta ao horário normal; A situação da epidemia está pior e o primeiro-ministro diz que fecha tudo às 13h00 exceto farmácias, combustíveis e mercearias até 200 m2.
Entretanto, não percebo as críticas ao Pingo Doce porque a empresa proprietária destes supermercados mudou a sede para a Holanda de modo a pagar menos impostos. Aliás, pela análise do meu Facebook, não sei como é que tem lucros, ou como conseguem manter as lojas abertas, ou vender alguma coisa! Ninguém vai ao pingo doce ou outros hipermercados, toda a gente diz que só compra no comércio local…
Eu, que devo ser insuspeito de defender os hipermercados, que já organizei várias manifestações contra as práticas do pingo Doce e de outros hipermercados, incluindo duas “invasões” pacíficas de lojas por causa da importação de leite (que entretanto acabou, fruto dessa pressão que fizemos), não acredito que o pingo doce esperasse vender mais por causa de abrir às 6h00, parece-me que queriam talvez ficar bem na fotografia. Fiaram-se nas opiniões das redes sociais e correu mal. As opiniões mudaram mais depressa que o vento de incêndios traiçoeiros e queimaram-se bem. Basicamente, acho que andamos todos zangados com o vírus e disparamos indignação sobre tudo o que mexe. Mas, no Pingo Doce, no Continente, nos outros hipermercados, nas mercearias do bairro ou dos centros comerciais, nos mercados municipais e nas feiras de levante, em todos os lugares vendem-se produtos dos nossos agricultores; em todos esses sítios trabalham pessoas que precisam do salário para sustentar a família. Não deixem de comprar o que precisam no sítio em que confiam e se sentem seguros. Ah, a mim não me apanhavam lá às 6h30 nem conto lá ir durante o fim de semana. Vou ficar em casa e só sair em caso de extrema necessidade. Temos de reduzir saídas e contactos. Vai doer para muita gente (restauração, etc), que vai precisar de muita ajuda, ma tem de ser. Quanto mais a sério levarmos este assunto, mais depressa recuperamos e com menos vítimas.
#carlosnevesagricultor