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Na segunda-feira, estando vazio o corredor de alimentação das novilhas, o Hugo perguntou-me o que ia ser “a comida daquele gado”. Elas não estavam de estômago vazio, pois já tinham tomado os seus “cereais de pequeno almoço” (ração), mas faltava dar a forragem que enche a pança. No domingo à noite, tinha-lhes colocado na manjedoura a última parte do rolo de feno que comeram durante o fim de semana. Respondi que íamos buscar luzerna, porque tinha uma pequena parcela com essa erva já crescida e pronta a cortar, mas depois mudei de ideias. Entre os tratores que costumamos usar para cortar erva, um estava engatado à cisterna e o outro à grade de discos para fazer a incorporação imediata do chorume. Teria de desengatar o trator da grade, engatar a gadanheira, cortar a erva, depois ir buscar com outro trator, descarregar no corredor e depois dar a erva manualmente, com o gancho ou a forquilha, como habitualmente fazemos e tudo isso ia demorar tempo e no fim voltar a desengatar a gadanheira e engatar a grade de discos para colocar o chorume previsto em dois terrenos. Então mudei de ideias, dei silagem de erva às novilhas, muito mais rapidamente, fizemos o espalhamento e incorporação do chorume e deixei para hoje o trabalho com a erva verde.
Tudo isto fez-me lembrar uma conversa que tive há cerca de 25 anos com a Engª Ana Gomes, nutricionista da minha cooperativa, quando me instalei como jovem agricultor e comecei a tomar as rédeas do negócio agropecuário. Perguntei se devia dar erva verde às vacas leiteiras, como era tradicional, ou dar apenas a mistura de palha, silagem de milho, às vezes silagem de erva e ração, tudo misturado no unifeed, como faziam algumas vacarias, em geral as maiores e mais modernas. A resposta foi muito prática: “os seus colegas que não dão erva verde têm maior produção por vaca”. Segui esse conselho, mas isso causou muitas discussões com o meu pai, que queria continuar a dar erva fresca aos animais. Então, para fazer a vontade ao meu pai sem afetar a produção das vacas, passei a dar apenas erva às novilhas que ainda estão em crescimento, e que precisam de uma alimentação com mais proteína e menos energia.
Mas então a erva verde não é um bom alimento para as vacas? Sim, é excelente, mas tem dois defeitos: como expliquei, exige mais mão de obra e nem sempre temos erva disponível. No verão há pouca, em dias de chuva não podemos ir ao campo buscar e noutras ocasiões temos demais. No outono-inverno, quando as primeiras aveias cresciam, havia o risco da erva “melar” (acamar) e andávamos aflitos a cortar erva e dar como alimento em quantidades exageradas. Ora as vacas dão mais leite e com mais qualidade se tiverem uma alimentação regular, porque de cada vez que mudamos a alimentação alteramos a flora ruminal (as bactérias que a vaca tem no primeiro estômago e que são fundamentais para a digestão dos alimentos fibrosos).
Ainda há quem dê erva fresca às vacas leiteiras, mas em geral as vacarias que cresceram e ganharam dimensão para serem competitivas e resistir foram as que simplificaram a alimentação dos animais. A mão de obra é cara, escassa e temos de ser mais eficientes, fazer mais trabalho no mesmo tempo, ganhar dimensão e conseguir economia de escala. Iremos continuar nessa tendência ou voltaremos à erva diária para as vacas? Não sei. Vou manter a erva fresca para as novilhas alguns dias por semana? No imediato sim, mas vou reavaliar, ver outras experiências e repensar o assunto. E se algum colega quiser comentar, partilhar a sua experiência e dar a sua opinião, faça favor!
#carlosnevesagricultor