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O caminho do presépio até à bouça

por Carlos Neves, em 06.12.20

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No ano seguinte à morte da avó Esperança, meu pai e os irmãos venderam a última bouça que ficara como a “reserva de usufruto” da matriarca da família. Caso alguém não saiba, “bouça” é o nosso regionalismo para dizer floresta. A nossa floresta, quase sempre pequena e parcelada, como os nossos campos. Era a essa bouça que ia com o meu pai buscar o musgo e cortar um verdadeiro “pinheiro bravo” para árvore de Natal. Procurávamos numa zona da bouça onde houvesse muitas árvores e fosse útil fazer uma monda que deixasse espaço para as árvores restantes crescerem fortes e saudáveis. Nesse tempo, pinheiros e eucaliptos cresciam tranquilos e desordenados lado a lado por entre mato e fetos, sem as polémicas florestais do século XXI.
Depois, mantive o presépio, troquei o musgo por papel verde e comprei a árvore artificial que ainda hoje faz companhia ao presépio, que voltou a ter musgo. Sobre isso, podem (re)ler aqui a minha publicação de 15 de dezembro do ano passado (anda tudo adiantando neste 2020😊) (https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=171859227545718&id=109029053828736 ).
Com a venda da bouça, ficámos com uma “casa de lavoura” sem bouças, o que era estranho há 30 anos, mas também deixámos de andar com o coração nas mãos por causa dos incêndios. Ir à bouça cortar e carregar mato é trabalho de que não tenho saudades, mas, como expliquei aos meus filhos enquanto procurávamos musgo na bouça do avô Ribeiro, foi esse mato que serviu para “astrar” a cama dos animais e esse mato, devidamente amassado e misturado com os excrementos dos animais e depois curtido ao longo de meses, deu o estrume que tornou as nossas terras férteis e produtivas (transportado até lá em carros de bois). A bouça dava também a lenha para cozinhar e aquecer a casa dos lavradores e dos outros que, com ou sem autorização do dono, iam lá buscar lenha. A bouça servia, ainda serve para quem as tem e consegue escapar aos incêndios, como reserva ou “mealheiro” para acudir a uma despesa inesperada da família.
Curiosamente, hoje pela manhã o facebook mostrou-me uma imagem da página Farmers Against Misinformation (Agricultores contra a desinformação) com uma imagem que explica que tudo é agricultura: floresta, pecuária e cultivo dos campos. Mesmo a pecuária “sem terra”, por exemplo a criação intensiva de porcos, aves ou coelhos, é baseada na compra de alimentos a outro agricultor que os cultivou nas suas terras. Apesar de tudo isto, há algum tempo atrás, apagaram-me uma publicação sobre leite num grupo do facebook porque o tema do grupo era “agricultura”...
Estamos no inverno, todos preocupados e ocupados a comentar o vírus, mas era agora que devíamos estar a pensar e comentar como integrar a floresta de forma moderna num ciclo de equilíbrio com o cultivo dos campos e a criação de animais. Era agora que devíamos preparar a defesa da floresta para os incêndios do próximo ano, para continuarmos a ter tudo de bom que ela nos dá, incluindo o musgo e o serrim para o presépio cá de casa!

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publicado às 23:42



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