Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Andou exacerbado o debate ecológico nos últimos meses. Vi muita raiva e pouco amor, muito acusar e pouco fazer, muita ignorância e falta de gratidão pelo que foi feito, muita greve e pouco estudo, muita arrogância e pouca humildade, muita discussão a favor e contra a Greta Thumberg e pouca vontade de procurar consenso e avançar.
Gostaria, por exemplo, que os jovens e menos jovens que tiraram os seu tempo para limpar as praias que ficaram cheias de lixo após a tempestade Elsa tivessem o mesmo destaque mediático de quem fez “greve climática”. E que a luta por um mundo mais limpo e ecológico não seja usada só para atacar “a América” ou “o capitalismo”. Houve bombas atómicas e desastres ecológicos em todos os regimes políticos, nenhum sistema político ou económico tem as mãos limpas, mas, ainda assim, nos países com “capitalismo”, democracia e crescimento económico temos menos fome, controlamos o crescimento da população, temos mais cuidado com o ambiente e podemos manifestar-nos e discutir isso. O mesmo não acontece nos países onde não há “capitalismo”, como a Coreia do Norte ou Cuba…
Não nego as alterações climáticas nem a urgência de corrigir erros. Mas desde que a terra é terra e somos uma sociedade civilizada, os avanços conseguiram-se com estudo e trabalho, com a gente que passa horas na biblioteca, em frente ao computador ou no laboratório à procura de soluções ou no cimo das chaminés das fábricas a colocar filtros de partículas. Há uma injustiça e uma ignorância enormes em certas acusações de quem acordou há meses, face a quem fez o melhor que soube e pôde para deixar um mundo mais confortável para quem veio a seguir, face a quem trabalha há muitos anos a controlar e reduzir as emissões dos automóveis ou das fábricas, ainda que se tenham cometido erros e excessos.
«Nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor”, entrará no Reino do Céus». Nem todo aquele que enche a boca com o ambiente, o verde, as energias renováveis, está a ser “ecológico” de corpo e alma. Também pode haver boa intenção sem conhecimento, também pode haver interesses económicos por trás das energias renováveis como há por parte das energias fósseis. Não acuso, não digo quer há, peço prudência na avaliação. Não existe um céu para empresários, engenheiros e funcionários das renováveis e um inferno para o pessoal das petrolíferas. As senhoras que fazem a limpeza ou os senhores que fazem a manutenção da central nuclear, da central termoelétrica a carvão, de biomassa ou de painéis solares, não são mais santos ou impuros por causa disso, são gente como nós que trabalha para alimentar e abrigar a família e sonha com um futuro melhor para os filhos.
Um exemplo que me intriga é o plástico. Quase de repente, o plástico tornou-se o último cavaleiro do apocalipse. Quase de repente apareceram imagens terríveis de ilhas de plástico no mar, de baleias com toneladas de plástico no seu interior, rios forrados de lixo plástico nos países subdesenvolvidos… a solução? Sacos de papel no supermercado, palhinhas de papel nos pacotes de sumo… se eu fosse dado a teorias da conspiração, diria que a indústria do papel está por trás disto, para compensar a redução do uso do papel nas cartas, faturas e jornais… Mas deixo três perguntas para refletir:
1) Li que a maior parte do plástico no mar são restos de material de pesca… que estamos a fazer para reduzir esse problema?
2) Quando substituímos o plástico por papel, vidro ou algodão, estamos a comparar os custos ecológicos alternativos, oo peso superior do vidro, da lavagem para reutilizar? Até acredito que sim, mas nunca vi explicar isso…
3) Em vez de culpar “o plástico”, como se tivesse vida própria, porque não condenamos e combatemos com toda a força o pecado de deitar plástico para o chão ou para os rios? O plástico não sabe nadar, não sabe andar nem voar, não vai sozinho para o mar… se for papel já podemos ser “porcos” à vontade? Bem dizia um grande amigo que “a culpa é sempre dos porcos” e não se referia aos suínos…
Retomo a minha proposta para um futuro mais ecológico e sustentável: mais amor e menos raiva, mais estudo e menos greve, mais trabalho e menos desperdício de alimentos e menos lixo para o chão. (escrito em Janeiro e publicado na revista "mundo rural" de Fevereiro 2020)
#carlosnevesagricultor
#mundorural
#ambiente
#plástico