Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Investigar e semear para vencer a seca

por Carlos Neves, em 23.02.22

20220221_085611.jpg

20220211_162545_resized.jpg

 

20220221_085424.jpg

 

20220222_122921.jpg

Costuma dizer-se que os vagões vazios do comboio são os que fazem mais barulho. O ditado também é válido para carroças, reboques agrícolas e especialistas sobre a seca. Por exemplo, ainda não vi entrevistar especialistas em rega para mostrar como poupamos água na agricultura sem deixar a sociedade passar fome.

Eu não sou “especialista”, mas quero acrescentar mais uma reflexão a partir da minha experiência e da cabine do trator. Segunda-feira de manhã, estando vazia a manjedoura das novilhas, fui cortar erva. O ideal era esperar pelo meio-dia, porque a erva estava molhada, mas os animais precisavam de comer. As gotas de orvalho douradas pelo sol que nascera há pouco desafiavam-me a fotografar e partilhar as imagens, com o orgulho habitual do agricultor que mostra a sua colheita de batatas, milho, fruta, ou de um arquiteto que mostra a última obra. Num ano normal teria publicado essas fotos, mas contive-me, pensando nas pastagens secas de outros agricultores por todo o país, sobretudo no interior e no Alentejo.

Escolhi apenas umas imagens mais bonitas para o instagram e para as “stories”, sem mostrar exactamente o que era, mas depois pensei que seria útil falar sobre isto. A erva que consegui agora colher nesta parcela, o campo do sol, semeada em outubro, sem rega nem adubação (levou chorume antes da sementeira) é uma “mistura biodiversa de aveia, azevém, ervilhaca e trevos anuais". Trabalho de investigação de uma empresa de sementes. Fizeram um ensaio aqui perto e publicaram os resultados. Escolhi esta opção por ser a mais rústica, com boa produção em colheita precoce e estou a gostar dos primeiros resultados.

Por curiosidade, eu tinha deixado de semear aveia, como o meu pai usava, porque ao semear cedo variedades precoces e não conseguindo gastar toda a erva nem armazenar, se não cortássemos, a aveia caia, “melava” e matava as outras ervas. Ou então em abril ganhava “ferrugem” e perdia qualidade. Nos últimos anos voltei a usar aveia com variedades mais tardias, que funcionam melhor.

É isto a solução para todas as terras e regiões? Certamente que não! É só um exemplo para mostrar que a pastagem não é solução para tudo. Aquilo que observo é que este sistema de colher e armazenar a erva e o milho silagem é o mais resistente à seca. Mas não dá para todo o lado. Em cada tipo de solo, em cada clima diferente é preciso experimentar, colher dados, analisar e publicar resultados. Investigar e comparar culturas, variedades, técnicas de rega, consumos de energia, estratégias de economizar água e resultados económicos. É preciso investigar e comunicar. Isso é agricultura moderna, de precisão, a agricultura que funciona, a que nos permite sobreviver como agricultores e alimentar os outros 98% da sociedade. Investigação das empresas, das cooperativas, das casas de sementes, das universidades, agora que a tarefa de investigação agrícola parece ter sido transferida das estações agrárias para as universidades. Precisamos de investigar mais, comunicar mais, partilhar mais e mandar menos “bitaites” genéricos sobre a agricultura que “gasta” 75% da água. Agrónomos, cheguem-se à frente neste debate!

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 08:29



Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D