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As vacinas e uma história deliciosa

por Carlos Neves, em 01.02.20

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"Vacina": de "vaca"

Em plena emergência de saúde global devido ao coronavirus, milhares de cientistas em todo o mundo estão certamente a trabalhar noite e dia para descobrir a vacina para esta nova ameaça. Lembrei-me disso hoje enquanto vacinava as minhas turinas🐄🐄🐄. Elas não gostam da picada, eu também não, mas é o melhor para nós.
Não há vacinas obrigatórias para as vacas leiteiras, portanto esta e outras vacinas são uma opção para proteger os nossos animais de doenças que nos fazem gastar mais medicamentos e provocam baixa de produção e até mortes. Por isso, sob orientação veterinária, estou a usar cada vez mais vacinas e menos antibióticos.
A propósito disto, vale a pena recordar que a palavra "vacina" vem de vaca e aproveito para fazer uma pequena citação de um artigo que publiquei no "mundo rural" precisamente com o título "Vacinas"
"(...) As investigações🔬 do médico inglês Edward Jenner, publicadas em 1796, podem ser consideradas como as bases científicas da vacinação. Jenner tinha decidido investigar uma crença muito popular entre os camponeses, e que era a de que os trabalhadores rurais que lidavam muito directamente com vacas doentes com a varíola das vacas, conhecida como “cowpox”, e que desenvolviam pústulas semelhantes às dos animais, (uma condição benigna conhecida por “vaccinia”, do latim “vacca”), não eram contagiados com a varíola humana. Com base nessa investigação, Jenner inoculou um rapaz de 8 anos saudável, que nunca tinha tido nem varíola nem “vaccinia”, com pús de “cowpox”. A criança rapidamente desenvolveu sintomas benignos de “vaccinia” e, mais tarde, foi inoculado com o vírus da varíola humana mas não desenvolveu a doença (...)
Apesar dos erros que se cometeram e possam cometer, porque risco zero não existe, quero aproveitar para manifestar a minha confiança no método científico, na investigação médica, na medicina veterinária ou humana, cujo saber ensinado nas universidades e praticado nos hospitais é um saber acumulado ao longo de séculos, devidamente registado nos livros guardados nas bibliotecas e avaliado pelos cientistas ao longo do tempo. É desse trabalho minucioso de milhares de estudiosos e investigadores, passando por avaliações e testes de segurança, que se chega às vacinas, antibióticos ou outros medicamentos disponíveis.

Ainda a  propósito de vacinas - uma história deliciosa
Houve um tempo, até há 30 anos, em que a vacina da febre aftosa era obrigatória para os bovinos. Nessa altura o meu pai fazia engorda dos novilhos🐃 e um nosso vizinho, o senhor António, tinha um talho e comprava-nos alguns desses animais. Um dia combinámos vender-lhe um touro, ele veio vê-lo, eu entreguei-lhe o "boletim de sanidade” do animal e a folha comprovativa da vacina. Recordo bem que era uma folha A5, letra azul e papel fino. O Sr António quis ver novamente a traseira do novilho, para se certificar que estava bem gordo. O animal estava preso à manjedoura num anexo com 3 animais. O Sr António pousou os papéis na manjedoura, que ficava a 50 cm do chão, à moda antiga, e lá fomos todos avaliar a gordura do touro. Quando voltámos à frente a folha da vacina já estava na boca do animal😀. Basicamente, comeu a sentença de morte e durou mais uma semana, enquanto esperámos pela segunda via pedida na Zona agrária. Lembrei-me disso estes dias porque também foi ilibado em tribunal um autarca que comeu uns papéis.
De volta a coisas mais sérias, as vacinas que hoje damos às vacas são opcionais, mas, apesar dos custos, os agricultores aceitam bem os conselhos dos médicos veterinários. Aqui na agricultura não há moda anti-vacinas com teorias de autismo nas vacas ou conspirações de bigpharma. E podemos dar graças pelo trabalho conjunto de agricultores e veterinários para ter na Europa saúde e segurança alimentar.
#carlosnevesagricultor

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publicado às 18:48



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