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“Quando vires as barbas do teu vizinho a arder, põem as tuas de molho”...
...e se o vizinho estiver com ”água pela barba”, prepara-te para a inundação!
Impressionantes as imagens da tragédia e os números de mortos e desaparecidos que nos chegam de Valência, Espanha. Esta semana, na Rádio Renascença, Ana Galvão, ao relatar a história de sobrevivência de uma jovem, contou também de forma emocionada como os tratores agrícolas estavam a ser importantes para ajudar nas limpezas da lama após as inundações. Entretanto tornaram-se virais as imagens de dezenas de tratores a chegar a Valência para esses trabalhos.
Sem querer ser oportunista, penso que é oportuno lembrar que a importância da agricultura ultrapassa a produção de alimentos.
A agricultura, os agricultores e os tratores que por vezes incomodam na estrada, que às vezes até levam alguma lama dos campos para a estrada, também servem para limpar as estradas nestas situações em que os bombeiros, autarquias e exército não chegam para acudir a tudo e a todos ao mesmo tempo. As cisternas, que às vezes incomodam ao fertilizar a terra com os excrementos dos animais, e por causa das quais algumas pessoas chamam a polícia, são as mesmas que servem para proteger as casas dos incêndios ou acudir nas inundações. Os campos junto às linhas de água servem para a água se espalhar e reduzir velocidade em vez de inundar rapidamente as zonas urbanas.
Há cerca de 15 anos, também aqui na minha freguesia houve inundações e o presidente da junta de então veio pedir aos agricultores para ajudarem os bombeiros pois só tinham pequenas motobombas incapazes de escoar as caves inundadas de alguns prédios.
A nossa situação não será muito diferente de outras no país. Temos uma ribeira que é um fio de água ao longo de todo o ano. Parte dos seus braços afluentes secam no verão, mas entretanto nos últimos 30 anos, na sua pequena “bacia hidrográfica” foi construída uma autoestrada, uma zona industrial, foi duplicada a linha do comboio para receber a linha do metro e foram construídas muitas casas. Tudo coisas que impermeabilizaram áreas onde a água antes se infiltrava ou escorria lentamente. A hipótese de uma chuva forte causar inundações aumentou. E, como vamos observando, as hipóteses de haver eventos extremos como chuva ou vento forte são mais frequentes.
É verdade que pouco podemos fazer perante fenómenos dantescos, mas será que fizemos esse pouco? Será que as nossas autarquias e governos fizeram tudo o que podiam para limpar as linhas de água ou seguiram a velha máxima romana de “pão e circo”, nas festas no Verão como a cigarra da fábula de La Fontaine? O dinheiro nunca chega para tudo e haverá que escolher as prioridades.
Assim como se ensinaram as populações rurais a proteger-se dos incêndios no centro da aldeia, não haverá nada a treinar sobre inundações nas zonas baixas das cidades? Estamos a dar todos os meios aos meteorologistas para fazerem as previsões? Essas previsões estão a ser comunicadas de forma clara, objetiva e eficaz? Em países que costumam ser afetados por furacões vemos os governadores a avisar as pessoas para se protegerem. Não ficaria mal e não custará muito se os nossos governantes fizerem o mesmo. Temos de aumentar a nossa cultura de segurança e prevenção, porque vai fazer cada vez mais falta. Como a agricultura.