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A colheita é para o agricultor motivo de alegria e realização, mas no caso concreto da colheita da erva escolher a data é uma decisão difícil, sobretudo se o objetivo é fazer feno. Decidir primeiro quando cortar a erva e depois decidir quando “enfardar” para guardar são duas angústias habituais na primavera de um agricultor (com a vantagem de nos fazer esquecer angústias mais graves😉).
Aqui na região “Entre Douro e Minho” o risco de chover é sempre elevado, o que é bom porque não falta água, mas dificulta fazer feno. Por isso os agricultores guardam a maior parte da erva sob a forma de silagem. Bastam 3 dias de sol para cortar, mexer para secar um pouco (fazer uma “pré-fenação”) e ensilar, no silo ou em rolos plastificados, mas a silagem é uma técnica relativamente recente. Eu também guardo a maior parte da erva sob a forma de silagem e rolos de fenosilagem, mas procuro fazer sempre algum feno, principalmente por causa dos vitelos mais pequenos.
Antigamente, a única forma de conservar e armazenar a erva era colocá-la, depois de seca, em pequenos montes, as “medas” de feno. Depois, há cerca 40 anos, quando muitos emigraram, vieram as máquinas de enfardar. Com ajuda de família e amigos, quase todos fazíamos feno em fardos pequenos, carregados à mão para os reboques bem amarrados e novamente descarregados à mão para o armazém (e às vezes carregados duas vezes porque se perdiam-se uns fardos com os solavancos dos caminhos de cabras de então). Dias de trabalho duro e também por isso ao lanche, aqui em casa, o pão de ló torrado que sobrara da Páscoa tinha um sabor ainda melhor...
Seria mais fácil deixar o corte de feno para o Verão, mas como a terra disponível é pouca, precisamos de cortar na primavera para semear o milho no mesmo terreno. Noutros tempos a previsão do tempo era uma lotaria, quando o Instituto de meteorologia anunciava “chuva para o Norte” não sabíamos se era apenas aguaceiros no Gerês ou chovia no Porto. Depois os meus colegas começaram a telefonar para o Aeroporto✈️ (na altura, Aeroporto de “Pedras Rubras”), a perguntar a previsão. Ao princípio davam resposta, depois começou muita gente a ligar a acabou-se a história… Hoje temos na internet previsões mais rigorosas e localizadas mas sempre com algum grau de incerteza. Às vezes temos uma previsão para 10 dias sem chuva, cortámos a erva e ao fim de 5 dias, com a erva ainda mal seca, temos de escolher se arriscamos guardar com alguma humidade, sujeita a ganhar bolor, ou deixar ser “lavada” pela chuva e perder nutrientes. Há uma terceira opção, mais cara mas que evita os problemas anteriores, que é enrolar e plastificar, como já mostrei em publicação anterior. Da silagem falarei numa próxima oportunidade. Fiquem bem, com poucas angústias e, para os colegas, boas colheitas!
#carlosnevesagricultor