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Ir para o campo à hora de vir

por Carlos Neves, em 21.01.25

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“Ides pró campo à hora de vir!”, dizia a minha avó Esperança. Lembrei-me dela mais uma vez ao percorrer o meu arquivo de fotos, porque tenho muitas fotos do pôr do sol.

E porque vou “para o campo à hora de vir”? De uma forma resumida, a resposta pode ser “porque posso e porque quero”, uma expressão partilhada há dias por um avô que sigo  nas redes sociais (que se mete frequentemente em polémicas por causa de frases como esta, sempre que o assunto não são as fotos dos netos) e que deu esta frase como um exemplo de boa resposta para quando queremos dizer a verdade sem dar muitas explicações. Mas eu quero dar algumas essas explicações e por isso vou usar a frase como mote.

Porque posso? Porque, ao contrário da minha avó que nasceu no início do século XX e ia para o campo num carro de vacas com uma sachola e uma foicinha ou foucinhão (foucinhão é aquela coisa que a geração da minha avó usava para cortar erva e a geração Z só conhece das brincadeiras do halloween ou do carnaval), eu vou para o campo num trator com cabine, sem apanhar frio e com boa iluminação fazer trabalhos com máquinas. E também posso porque, ao contrário da minha avó e dos meus pais, não tenho que voltar ao fim da tarde para fazer a ordenha das vacas, porque tenho um “robô” de ordenha a trabalhar há 12 anos. É sempre preciso acompanhar e tocar alguma vaca atrasada, mas é um trabalho mais leve e mais rápido do que a ordenha tradicional, manual ou com máquinas, por isso posso aproveitar o fim da tarde noutras atividades.

Porque quero? Porque, como li há muito tempo num cartoon de uma  revista agrícola, “gosto da liberdade que a agricultura me dá, com licença do banco e do governo posso fazer tudo o que quero”. Isto para dizer que, apesar das regras que quem nos governa nos vai impondo cada vez mais, umas vezes com boa intenção, outras vezes com intenções que temos de enfrentar e muitas vezes a complicar, apesar de tudo, a atividade agrícola, sobretudo de quem trabalha por conta própria, é uma atividade livre em que podemos fazer escolhas. E eu escolho muitas vezes “ir para o campo à hora de vir”, mas não demoro muito, não fico lá toda a noite e escolho voltar a casa a horas decentes para jantar, ou “cear”, como dizia a minha avó, que almoçava de manhã, jantava ao meio dia e “ceava” à noite. #carlosnevesagricultor #pordosol #agricultura

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publicado às 07:48

Farpas e javalis

por Carlos Neves, em 09.01.25

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Um dia, há mais de 30 anos, na Casa-Escola Agrícola Campo Verde, o professor de português trouxe-nos um texto das “Farpas”, de Ramalho Ortigão. Nunca mais encontrei esse texto, até comprei e li o livro, mas descobri depois que existe outro volume onde deve estar essa “farpa”, de modo que vou citar “de cor” conforme me recordo. Ramalho comentava uma notícia da chegada do Rei, de comboio, a um determinado sítio, e criticava o floreado do discurso do autarca local, algo sobre a alteza real e um trono ou degrau imaginário, e também a resposta do Rei, cheia de maneirismos e vazia de conteúdo. Dizia Ramalho que, em vez dessa treta, os discursos deviam ser sobre os problemas concretos das pessoas, por exemplo “Majestade, o povo está a passar fome porque os pomares desta terra estão a ser atacados por pulgões” e o Rei devia responder: “Muito bem, logo quando regressar ao palácio vou chamar o Primeiro-ministro para ele chamar o Ministro da agricultura para que dêem ordens aos agrónomos para investigar o vosso problema e trazer-vos uma solução!”. Pronto.
Se fosse em 2025 e eu tivesse a oportunidade de falar, diria assim: “Senhor Presidente / Primeiro-ministro / Senhor Ministro ou secretário de Estado, os Javalis estão a tornar-se um problema cada vez mais grave em todo o país e também nesta região. Na semana passada, um amigo meu fotografou um bando de 15 javalis aqui ao lado em Bagunte, Vila do Conde. Contou-me o meu amigo que nunca tinham andado javalis por ali, que no próximo verão vai haver destruição de milho como já acontece noutros locais e que os caçadores não podem ajudar a controlar a espécie por causa dos distâncias de segurança que tem de manter em relação a casas e equipamentos, distâncias que podem fazer sentido nas regiões com grandes áreas e povoação concentrada, mas que tornam impossível a caça nas zonas de minifúndio”. E ficava à espera de uma resposta. Concreta.
#carlosnevesagricultor #agricultura #javali #javalis #milho #umdiaistovaicorrermal

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publicado às 20:24

As crianças e os tratores

por Carlos Neves, em 28.12.24

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“Alguns miúdos crescem a brincar com tratores, os mais sortudos ainda o fazem.” Li esta frase há poucos dias, numa publicação da AGDAILY e lembrei-me dela ontem quando fui
com o trator cortar erva no terreno de um colega meu em Mindelo. Nas traseiras de uma casa vizinha, dois miúdos, que não conheço e certamente também não me conhecem, brincavam sob o olhar atento de uma mãe. Ao passar perto, acenaram-me com alegria e acenei também para eles. Percebi que brincavam no chão com tratores e reboques. Estavam quase novos, devem ter sido presentes deste Natal. Os miúdos vieram mostrar-me os brinquedos deles enquanto eu trabalhava com o meu. Fizeram uma festa de cada vez que passei perto e, já recolhidos porque o fim da tarde trouxe o frio, vieram cá fora acenar e despedir-se quando perceberam que eu ia embora. Não me parece que fossem agricultores, porque a casa não tinha aspecto de “casa de lavoura” com espaço para guardar um trator no alpendre das traseiras. Acho que são miúdos que gostam de tratores… e de agricultores, já agora, o que é de destacar nos dias de hoje em que tanta gente tem uma imagem negativa da agricultura e dos agricultores. Ou talvez, porque “uma árvore a cair faz mais barulho do que uma floresta inteira a crescer”, talvez sejamos nós que damos mais importância às críticas do que aos elogios, ou pelo menos ao “apoio” implícito da maioria silenciosa que não anda na rua ou nas redes sociais a defender os agricultores mas vai ao mercado e compra os nossos produtos agrícolas.
Também no desfile de natal com tratores, na semana passada, em Vila do Conde, organizado pelos Tainadas Mundiais , havia na rua muitos rostos felizes por verem tratores e agricultores. E, se houvesse prémios para o público como houve para os tratores melhor decorados, também merecia prémio um pequenino que, acompanhado pelo pai, trouxe o seu trator para ver os nossos passar. Não tirei foto, mas houve gente que reparou, tirou foto e fez-me chegar a imagem, de que ocultei os rostos por razões óbvias de privacidade.
No artigo que li no AGDaily, sob o título “O significado de um trator para uma criança no Natal”, Kacie Hulshof escreveu que “Muitos de nós percebemos que nem todos tiveram a mesma educação. No entanto, uma coisa que temos em comum é o amor pelos tratores desde tenra idade. Seja pela admiração de ver a mãe e o pai a conduzir o trator ou simplesmente por contemplar uma máquina enorme.
Quando era miúda da quinta, ainda me lembro de ter recebido o meu primeiro trator de brincar, um John Deere. Tendo crescido apenas com irmãs, fazia com que as nossas barbies conduzissem os tratores juntamente com os cavalos que fui acumulando ao longo dos anos. Tinha apenas 4 anos. As minhas irmãs e eu brincamos com ele durante horas. Não nos preocupávamos com a marca ou com o quão novo ele era, o meu pai sempre disse que o melhor tipo de trator era aquele que funcionava(...)”
#carlosnevesagricultor #tratores #cronicasagricolas

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publicado às 07:54

Um parto difícil

por Carlos Neves, em 25.12.24

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25 de dezembro de 2024. São 19h00 e, aparentemente, o trabalho na quinta está feito, por hoje. Normalmente trabalho até às 20h30 mas aos domingos e dias de festa tentamos simplificar e reduzir o trabalho aos cuidados essenciais com os animais. Apesar disso, às vezes parece que está tudo calmo e as coisas complicam-se. Há alguns anos, neste mesmo dia 25, por esta hora, chamei a veterinária para me ajudar num parto difícil e acabámos a noite com uma cesariana complicada.
Este ano aqui na quinta já nasceram 68 vitelos. Desses, 56 nasceram sozinhos, sem qualquer ajuda e quase todos os restantes apenas precisaram de ajuda fácil, com excepção de dois ou três casos complicados. Nem sempre foi assim. Antigamente tínhamos de ajudar na maior parte dos casos e às vezes fazer muita força e pedir ajuda dos vizinhos. O que mudou? Com os registos que se fazem há décadas, em todo o mundo, fomos selecionando as vacas e touros cujas crias nascem em “parto fácil”. Além disso, temos à disposição “sémen sexado” para a inseminação artificial que permite ter 90% de fêmeas e usamos esse sémen nas novilhas, pois o primeiro parto é sempre o mais complicado. Tendo muitas fêmeas filhas das novilhas, podemos inseminar algumas vacas adultas com a raça angus, melhor para a produção de carne mas que também dá crias pequenas ao nascer e por isso partos fáceis.
Na manhã de 5 de novembro, estava tudo calmo na vacaria. Normalmente somos dois, mas nessa manhã eu estava sozinho, porque o Hugo tinha saído para levar uma pessoa da família a uma consulta médica. Passei perto do lote das “vacas secas” e procurei uma vaca que sabia estar em fim de tempo, para ver se deveria retirá-la para a maternidade, um espaço reservado, com palha. Percebi que já era tarde, porque a vaca tinha-se antecipado e já estava em trabalho de parto. Via-se uma pata do vitelo (para quem não saiba, os vitelos nascem com as patas para frente junto à cabeça, como os nadadores que se atiram para a água na piscina). Pensei que estava tudo bem e continuei o que estava a fazer por mais alguns minutos. A regra geral é que não devemos atrapalhar, devemos observar, deixar a vaca dilatar e a natureza seguir o seu caminho. Pensei melhor. Faltava a parte de “observar”. Há quanto tempo estaria a vaca em trabalho de parto? Calcei luvas obstétricas e meti a mão dentro da vaca (uma vaca é muito grande e os vitelos nascem com cerca de 40 kgs, há algum espaço). Vi que tinha uma pata virada para trás, por isso não tinha nascido sozinha. Foi fácil endireitar. Fui buscar os “forceps”, a que chamamos aparelho, amarrei as cordas às patas do vitelo, comecei a puxar com calma e o vitelo começou a sair normalmente. Também aqui, regra geral, devemos dar tempo para a vaca dilatar. De repente, quando já faltava pouco para sair, a cria (uma vitela) deu dois esticões, estrebuchou! Percebi que devia estar há muito tempo para nascer e que podia perdê-la. Não vais morrer na praia, caramba, pensei (devo ter dito palavras piores, que já não lembro e se lembrasse não escrevia aqui). Puxei rapidamente para acabar o parto. Percebi que a vitela não tinha movimentos de respiração. Tentei pendurá-la para sair alguns líquidos do nariz que deve ter ingerido durante o parto. Não consegui à primeira. Agarrei-a junto a mim, a vitela ainda molhada e escorregadia cheia do líquido amniótico, que se lixe a roupa, vai para lavar e depois eu também tomo banho, que a água lava tudo menos a má-língua. Adiantou pouco. Puxei-a para fora do estábulo, tentei provocar tosse / espirro com uma palhinha no nariz, também não vi resposta. Fui buscar o feno que tinha preparado para a cama da vitela, ajoelhei-me, esfreguei-a com força, mexia as patas, fiz compressões no peito (boca-a-boca não dá jeito). Comecei a vê-la respirar, levantou a cabeça. Escapou! Às vezes perdemos estas batalhas, mas esta ganhei e não vou esquecer. Algumas horas mais tarde, novo susto, mas falso alarme, estava só a dormir. Não mamou como é normal, mas é normal não mamar depois de uma cena destas. Um vitelo normal levanta-se ao fim de meia hora e vai procurar as tetas da vaca. Dei mais tempo. Não fazia sucção. Temos uma sonda para essas situações, para dar o leite entubando o vitelo, mas temos que usar com cuidado, para não ir líquido para os pulmões e perder tudo. Demos-lhe o leite com sonda dois ou três dias, foi vista e medicada pela veterinária, demorou mais alguns dias a levantar-se e algumas semanas até ficar com a pata direita (a tal que estava virada para trás no momento do parto). Chamei-lhe "Pretinha" mas posso mudar o nome se tiverem outra sugestão que eu goste mais.
Felizmente, isto não acontece todos os dias, mas qualquer criador de vacas têm histórias como esta para contar. Na Natureza, o final seria diferente. A vaca e a vitela teriam morrido ao fim de horas ou dias de sofrimento, sem assistência. Aqui a sua vida também terá um fim daqui a alguns anos, mas até lá daremos todos os cuidados e assistência médica para estarem com o melhor conforto possível a produzir leite e bifes para vos alimentar.
#carlosnevesagricultor #vacas #leite #vitela #angus

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publicado às 21:21

Cinco fardos, dois rolos e favores em cadeia

por Carlos Neves, em 20.12.24

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“Cinco pães e dois peixes” é o nome de uma campanha solidária que a ACR (*) tem há vários anos, onde o pouco se torna muito para ajudar quem mais precisa.
Antes desta campanha surgir, noutra atividade da ACR, eu ouvi um dia alguém, talvez o saudoso Padre Rui Osório, Assistente da ACR no Porto, talvez outro que não recordo, levantar a hipótese de que o milagre da multiplicação dos peixes não tivesse sido multiplicação mas antes um “milagre da divisão”. Talvez não houvesse apenas um rapaz com cinco pães e dois peixes. Talvez o exemplo de partilha desse alimento tenha contagiado outros que também tinham trazido uma merenda escondida e dessa partilha tenham sobrado doze cestos.
Não sabemos exatamente o que aconteceu e não quero discutir isso. Sabemos que a Bíblia não é para ler “à letra”, como uma notícia de um acontecimento ou um livro de história. É muita coincidência ter cinco pães e dois peixes, 7 alimentos, como os sete dias da semana, e tenham sobrado 12 cestos como os 12 meses do ano e as doze tribos de Israel. Sabemos que 3, 7 e 12 são números que representam a plenitude na Bíblia. Pode ter sido multiplicação ou divisão. Foi impressionante e inspirador e deve servir de exemplo.
Assisti aos incêndios de Setembro de 2024 com o coração apertado, debaixo do fumo trazido pelo vento, mas longe do fogo, orgulhoso por ver o contributo que a agricultura e muitos agricultores deram para proteger as casas e bens de muita gente, com tratores, cisternas e depósitos improvisados, combatendo o fogo onde os bombeiros não conseguiram chegar. Entre muitos relatos de heroísmo que devem ser recordados, Impressionou-me o relato do trabalho de um estudante universitário com o trator do avô, a lutar contra o fogo num trator com o motor de arranque avariado, que só pegava de empurrão (agora os tratores novos com caixa de velocidades automática já não arrancam assim). Já depois de ter escrito este artigo fiquei feliz ao saber que a empresa que importa os motores Perkings já lhe ofereceu a revisão e reparação do trator. Merecido!
Alguns dias depois, recebi um pedido para ajudar os agricultores de Castro Daire que perderam tudo nos incêndios, nomeadamente pastagens e feno. Quem pediu ajuda não era agricultor, mas alguém preocupado com os agricultores e sabia que no Verão de 2017 também andei de trator, reboque e camião a recolher rolos de fenosilagem para ajudar um pouco quem precisava mais.
Este ano tínhamos menos tempo e mais experiência, por isso dei a volta com o “chapéu” a “fazer o peditório” de forma moderna. Discutimos o assunto num grupo online de produtores de leite da Aprolep Associação dos Produtores de Leite de Portugal e quem quis ajudar escreveu num formulário Google que valor estaria disponível para dar e contratámos a compra de feno para enviar. Contactámos a associaçao de criadores da raça arouquesa, responsáveis locais da ACR e da autarquia de Castro Daire para organizar a distribuição local do feno aos pequenos agricultores de Cinfães e Castro Daire. Muito obrigado a quem ajudou e trabalhou em todo este processo! Para acabar de encher o segundo camião de feno, porque ainda havia espaço após esgotar as primeiras ofertas, coloquei à venda alguns exemplares do meu livro de crónicas agrícolas e o valor, descontando o custo do envio dos livros, foi todo para converter em feno. Da minha parte, só dei algum tempo para isto.
A impressão desses livros já tinha sido paga pela generosidade de um amigo e o valor da venda tem me permitido tornar real o que vi no filme “Favores em cadeia”, em que alguém ajuda outro, de alguma forma, e quem é ajudado não pode agradecer, mas é “obrigado” a fazer três boas ações a três pessoas diferentes, numa espécie de “reação em cadeia”.
A nossa intenção é preservar a privacidade de quem ofereceu e quem deu ajuda, mas é importante divulgar estas coisas para que os agricultores, enquanto grupo, não sejam notícia apenas para pedir ajuda, mas também quando são solidários. Para que isto sirva de exemplo para outras situações e para que exista um controlo público sobre as ofertas e ajudas, de modo a que a repartição seja o mais justa, equilibrada e abrangente.
É claro que o Estado deve ajudar e vai ajudar, mas as ajudas do estado demoram tempo, há sempre leis a fazer, formulários a preparar, faturas a exigir, controlos a fazer. Por isso as pequenas ajuda privadas imediatas são importantes (e houve muitas que não foram notícia!), não só pela ajuda em si, mas sobretudo porque são um sinal de esperança, de ânimo para quem perdeu muito, para quem passou por muito. Permitem-nos dizer a essas pessoas que não estão sozinhos e dizer que os apoiamos porque sabemos que a agricultura é importante para produzir alimentos, para ocupar o território, para modelar a paisagem e para proteger as populações dos incêndios ao manter os terrenos limpos pela pastagem ou cultivados junto às povoações. E por ter os tratores que ajudam a apagar incêndios, mesmo sem motor de arranque!...
Que esta minha história aconchegue os vossos corações neste Natal. Um santo e feliz para todos! (*) Escrito para a revista da Acção Católica Rural - ACR - Mundo Rural
Carlos Neves
#feno #incendios #agricultura #mundorural

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publicado às 08:18

Novembro quente

por Carlos Neves, em 03.12.24

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Chegámos a Dezembro e as árvores do meu pomar ainda não perderam as folhas. Pelo contrário, nasceram folhas novas nos pessegueiros e os marmeleiros estão em flor. O milho de algumas espigas que caíram durante a silagem está nascido no meio do nabal, onde os grelos se adiantaram e não sabemos se chegam ao Natal. Novembro foi quente e a primeira semana de Dezembro continua igual. Não está fácil para a agricultura, sobretudo para aquela que é mais sensível ao clima, por exemplo a fruta e a vinha. Mas nunca foi fácil para a agricultura e se houver investigação, tecnologia e partilha, a agricultura vai lutar, adaptar-se e resistir. Felizmente, o nosso sistema milho - erva - vacas estabuladas, apesar de ser tão criticado, é um dos mais resistentes às alterações climáticas. Os silos estao cheios e a erva está a crescer. Este campo de azevém que semeei no fim de Setembro já deu um corte e está pronto a dar outro, sem ter levado qualquer adubo ou estrume, apenas aproveitando o que sobrou do milho e o estrume liquido colocado antes da sementeira. Pela nossa parte (nossa, de todos os agricultores) , não vai faltar comida na vossa mesa.

#carlosnevesagricultor #agricultura #desconfinaraagricultura #milho #erva #azevem #azevemgalego

 

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publicado às 08:34

Visita da Escola

por Carlos Neves, em 24.11.24

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No início de Novembro, assim que terminámos as sementeiras, começámos a preparar a quinta para uma visita de gente pequena mas muito importante: os colegas da escola do Luís, do primeiro ao quarto ano. No dia de S. Martinho, tentámos receber bem aqui em casa tal como ele foi bem recebido na escola e também, na posição de "embaixadores" da agricultura, mostar o melhor possível como os agricultores cultivam os campos e criam animais para alimentar a população, para que os miúdos saibam que o leite não nasce no supermercado. 

 Falei da história da nossa família e da "casa de lavoura", expliquei a função do Sinal, respondi a muitas perguntas, mostrei as vitelas, as novilhas e as vacas e o "passaporte sanitário" que é o seu boletim de vacinas. As crianças deram feno aos vitelos e novilhas. Em pequenos grupos viram o robô a ordenhar as vacas que esperavam em fila pela sua vez. Os miúdos sentiram a temperatura do leite quente, acabado de ordenhar, no vaso de vidro do robô. Meteram as mãos no milho e desfolharam algumas espigas na eira improvisada com os tratores à volta (Era isso que os tratores faziam reunidos ao sol, num vídeo que mostrei dias atrás). Sentiram o cheiro do feno, da silagem e do estrume, porque não há rosas sem espinhos. No final, enquanto viram alguns vídeos sobre colheita de milho silagem e milho grão e a transformação e embalamento do leite na fábrica da Lactogal, foi a hora do lanche que incluiu leite chocolatado que a Agros nos ofereceu para esta visita, junto com um pequeno livrinho sobre a origem do leite. Foi um gosto receber estes meninos, as professoras e auxiliares.

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publicado às 06:35

Previsão do tempo

por Carlos Neves, em 23.11.24

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Antigamente, prever o tempo para além das horas seguintes era um exercício de adivinhação. Víamos uma “barra ao mar” e sabíamos que vinha chuva no dia seguinte. Com o céu muito vermelho ao pôr do sol tínhamos um sinal de calor. Ver as andorinhas a voar baixo era e sinal de chuva, porque as moscas também estão mais baixas (e já agora, ferram mais, porque tem que guardar provisões antes da chuva).
Há uns 30 anos, as previsões eram muito genéricas e para uma previsão mais específica tinha de se ligar para uma linha de valor acrescentado do Instituto de meteorologia. Um dia algum colega mais desenrascado, querendo cortar erva, precisava saber se teria dias suficientes de sol para secar, de modo a fazer feno. Ligou para o nosso aeroporto, então chamado “Pedras Rubras” e pediu informações. A coisa espalhou-se e foi muito útil durante algum tempo até que os funcionários do aeroporto se cansaram de dar informações a cada vez mais agricultores.
Nos últimos anos, as previsões tornaram-se mais precisas, pelo menos até 10 dias e muitos sites oferecem, de forma gratuita, previsão de chuva e vento quantificados para cada local. Todas as previsões são, como o nome indica, previsões, não são garantias e têm um grau de falibilidade. Ainda assim, há sites que nos permitem comparar as previsões dos vários “modelos” que se baseiam em diferentes computadores e fontes de informação, como as estações meteorológicas e os radares meteorológicos. Se pagarmos, podemos ter informações mais precisas e atualizadas.
Ora acontece que nós já pagamos, com os nossos impostos, o IPMA, Instituto português do mar e da atmosfera, que apresenta as suas previsões de forma muito genérica e que, na minha opinião, devia quantificar as previsões com o número de litros de chuva por metro quadrado e os kms/hora de vento previsto, como fazem sites como o windguru ou weather underground. Estou convencido que tem essas previsões disponíveis, mas não estão à vista como nos sites que referi.
Um último ponto: temos observado nos últimos anos, com mais frequência, fenómenos extremos de chuva, vento e temperaturas que afetam a agricultura e muitas vezes põe em risco os bens e a vida das pessoas . Por isso acho super-importante dar ao instituto de meteorologia todos os meios necessários para terem à disposição a melhor tecnologia existente e, por outro lado, para além de quantificar as previsões, fazê-la chegar rapidamente às pessoas em caso de alerta grave, para não suceder o que aconteceu em Valência.
Em casos extremos, como tivemos a tempestade Kirk, que estava prevista desde 10 dias antes de ocorrer, penso que os governantes devem ajudar a divulgar a informação e apelar às pessoas para se protegerem (como fazem os governadores nos Estados Unidos em caso de furacões).
E devem também dar mais formação sobre os fenómenos meteorológicos, porque o desconhecimento aliado à facilidade de espalhar qualquer teoria trouxe-nos a um paradoxo. Até à pouco tempo as pessoas duvidavam da capacidade dos meteorologistas preverem o estado do tempo. Agora acham que os meteorogistas manipulam o tempo. E os meteorologistas que deviam estar a investigar têm de passar o tempo a explicar e discutir com quem leu umas coisas na Internet e acha que sabe mais do que Acontece o mesmo na saúde e na agricultura.

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publicado às 06:59

Lições de Valência

por Carlos Neves, em 14.11.24

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Em Valência, os agricultores não falharam. Falhou muita coisa e muita gente, mas não falharam os agricultores. Pouco tempo após a catástrofe, foram com os tratores ajudar a limpar a lama e o entulho das ruas inundadas e depois de uns foram outros. Li uma frase muito forte alguns dias mais tarde, algo deste género: “Estais a ver aqueles tratores que vieram ajudar? São os agricultores locais. Lembrem-se deles também quando estiverem no mercado a escolher as vossas compras!”
Os agricultores espanhóis não são melhores nem mais generosos que os agricultores marroquinos, argentinos, portugueses ou de qualquer ponto do mundo. Eram os que estavam próximos e podiam ajudar.
Aposto que foram agricultores de todos os tipos, grandes e pequenos, horticultores ou “ganaderos”, biológicos ou convencionais, intensivos ou extensivos, como às vezes gostamos de classificar e catalogar, com um julgamento moral subentendido. Foram os que tiveram tempo, disponibilidade e “ganas” de ajudar. Não foram todos, uns porque não puderam, outros porque não quiseram, porque os agricultores são como as pessoas, há um pouco de tudo. E, como na guerra, também a família ou outros funcionários ficaram em casa a aguentar o barco e assumir as tarefas sozinhos enquanto alguns saíram para ajudar.
Foram com tratores grandes e pequenos, novos e velhos, de todas as cores e marcas, herdados dos pais (atenção à taxa de 40% sobre a herança de terra agrícola que o governo inglês quer impor, livrem-se de copiar isso!), tratores comprados usados ou comprados novos com os “subsídios” que tanta inveja causam, apesar de haver cada vez haver menos agricultores e menos jovens no setor.
Foram desimpedir as ruas com os tratores que normalmente impedem os condutores apressados de chegar tão rápido como queriam e às vezes causa longas filas de “seguidores”, sabe-se lá com que palavrões, que felizmente não ouvimos porque a cabine é insonorizada e mesmo que não seja o trator faz muito barulho. Barulho que faz algumas pessoas chamar a polícia quando tentamos fazer as colheitas à noite, antes que venha a chuva e o vento.
Foram com as cisternas que escoam a água ou combatem incêndios, com as mesmas cisternas que levam o estrume líquido para a terra e por causa das quais também muitas pessoas chamam a polícia (nunca me vou esquecer de quando o Sr. Maia me telefonou a dizer “Não vás agora ao campo porque a polícia anda à tua procura”).
Numa situação de catástrofe, mesmo que tudo esteja preparado e corra bem (o que manifestamente não aconteceu, mas essa discussão é para outro momento e outro local que não este post e esta página), é importante mobilizar toda a sociedade e todos os meios. Tal como aconteceu com os incêndios em Portugal, onde, entre muitos heróis, tivemos o exemplo do jovem que combateu o fogo na sua aldeia com alguns amigos e o trator do avô, com o motor de arranque avariado (se alguém os conhecer, diga-me se já repararam o Massey Ferguson 240, por favor), também nas cheias de Valência tivemos a prova da importância de ter uma agricultura viva, capaz de produzir alimentos, ocupar o território… e ajudar nas emergências.
#carlosnevesagricultor #agricultura #valencia #cheias #inundaciones

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publicado às 19:02

Aparências que iludem

por Carlos Neves, em 07.11.24

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Vi esta imagem há meses, sem indicação do autor. Discordo. Sugere uma ideia repetida nos últimos anos com tal insistência que se tornou “senso comum”. Segundo essa ideia, a fruta maior e mais bonita é produzida ou conservada usando venenos (pesticidas), enquanto a fruta mais feia e mais pequena é produzida “sem venenos”. Pode ser uma imagem enganadora.
O medo é uma emoção essencial à nossa sobrevivência, porque nos afasta dos perigos, mas é também uma emoção aproveitada para nos manipular de modo a afastar-nos de umas escolhas e conduzir-nos para outras, regra geral, para o negócio que interessa a quem instiga esse medo.
Mas então não será preferível comer fruta feia sem resíduos de pesticidas em vez de fruta bonita com venenos? Certamente que é preferível comer fruta sem resíduos, seja feia ou bonita. O problema é que a beleza da fruta, das hortícolas ou das pessoas, por si só, não é garantia de nada.
Duas caixas de fruta, pequenas ou grandes, feias ou bonitas, sãs ou com pontos de podridão, podem ter sido produzidas no mesmo pomar, submetidas aos mesmos tratamentos, e ter sido feita uma escolha separando por calibre e por aspeto ou estado de conservação.
É muito provável que ambas tenham sido tratadas com pesticidas, porque se não combatemos as pragas e doenças a produção é reduzida ou pode ser toda destruída. Poderão ter sido usados pesticidas de origem natural ou de síntese, mas para terem efeito protetor terão que ser “venenosos” em relação às pragas e doenças. Por isso, procurar o selo de certificação do modo de produção na embalagem (biológico, produção integrada ou outro sistema), é mais importante do que o aspeto da fruta.
Pode ter acontecido muita coisa. Pode ter acontecido que na fruta com bicho, com pior aspeto, tenham sido usados um ou vários pesticidas, mas pesticidas errados ou na dose errada, enquanto na fruta mais bonita foi tudo feito de acordo com as regras.
No limite, pode ter acontecido que ambas as frutas tenham sido tratadas com o mesmo produto, mas por causa da dose ou da data de aplicação uma das frutas já não tenha resíduos, já tenha passado o devido intervalo de segurança (intervalo de tempo) e na outra ainda haja resíduos.
Há pessoas que vivem assustadas com a ideia de serem usados produtos químicos na produção de alimentos. Mas os pratos onde comem todos os dias também são lavados com um produto químico (detergente), só que nas últimas lavagens a água arrasta os resíduos do detergente. Também na comida, o importante é que não fiquem resíduos, e isso garante-se usando produtos legais, aplicados por pessoas com formação, seguindo conselho técnico, usando equipamentos afinados, com a dose correta, aplicada da forma correta, na data indicada e respeitando o intervalo de segurança e fazendo controlos.
Por outro lado, pode acontecer que não tenha sido feito qualquer tratamento, pode não haver qualquer resíduo de produto químico, mas o alimento estar contaminado com sujidade que pode conter bactérias que causam doenças mais ou menos graves.
O meu ponto é o seguinte: pode ter acontecido muita coisa que não podemos adivinhar ao tirar conclusões precipitadas através do aspeto, seja feio ou bonito.
Acusar a fruta mais bonita de ter veneno é como acusar os vencedores de uma corrida de usarem doping ou os estudantes com melhores notas de copiarem. Ora nós sabemos que "copiar" ou "dopar", só por si, não é garantia de bons resultados. De Doping não tenho experiência, mas do tempo da escola lembro-me que quem copiava, regra geral, era quem estava mais atrapalhado e mesmo a copiar muitas vezes tirava as piores notas. Insisto: a seriedade de agricultores, estudantes ou desportistas não se pode determinar apenas ordenando ao contrário a tabela de resultados.
Eu não sou produtor de fruta para vender. Não escrevi isto para me defender. Tenho apenas uma dúzia de árvores no pomar que às vezes produzem bem, outras vezes não produzem e muitas vezes dão apenas fruta pequena e feia, porque não faço os tratamentos que devia. Gosto de comer essa fruta de casa e também do mercado, de uma pequena loja ou do supermercado. E sei que uma loja ou supermercado tem que ter mais cuidado a analisar e controlar regularmente os alimentos que vende, porque se for encontrada uma peça de fruta ou uma alface contaminada numa loja, os consumidores de todo o país vão fugir dessa cadeia de supermercados.
Uma ressalva: Este texto não é, de modo nenhum, uma crítica a um projeto fantástico chamado "fruta feia", que coloca à venda as frutas fora de calibre, com pior aspeto. É ótimo evitar o desperdício de fruta que esteja boa, só por ter mau aspeto, mas ter mau aspeto também não quer dizer que seja boa. Só isso.
Tanto quanto possível, tenha o seu pomar ou uma fruteira no jardim. Tanto quanto possível, compre produtos locais ou nacionais. Tanto quanto possível, compre fruta e hortícolas da época, numa dieta completa com um pouco de tudo, mas sem medos irracionais que parecendo lógicos são enganadores. Adaptado do que escrevi para os leitores do Mundo Rural em setembro-outubro de 2024. Bom apetite!

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publicado às 13:15


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