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Três recordações de uma viagem a Paris

por Carlos Neves, em 19.02.25
 

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Fui passar um fim de semana a Paris com a família e quero partilhar convosco três recordações:
 
Liberdade. Perguntaram-me há pouco tempo se concordava que "a produção de leite é uma prisão". Respondi que às vezes estamos presos, mas temos de fazer sempre um esforço para sair. Cada saída, cada viagem, seja a Aveiro ou ao estrangeiro, é um objetivo de “libertação” que me proponho alcançar. O meu pai dizia que havia quem chamasse ao nosso trabalho "escravatura branca" (por causa da cor do leite). E cada publicação minha sobre férias é um desafio, um incentivo que vos faço para também sair desta "prisão" que, às vezes, é psicológica.
 
Igualdade. Viajar é uma aula prática de igualdade, diversidade e encontro com o diferente em múltiplas situações. Descontando a excepção das pessoas muito ricas que viajam em jatos privados, a igualdade começa logo na revista de segurança do aeroporto que nos obriga, todos, a colocar os pertences na caixa que vai ao raio-x e passar o detetor de metais com as calças na mão e às vezes descalsos. Diversidade que depois continua com os turistas de todos os cantos do mundo que nos pedem para tirar uma foto junto à Torre Eifel ou com os imigrantes de todas as origens que nos vendem souvenirs, conduzem os táxis ou ubers e nos atendem nos cafés, restaurantes e hotéis.
 
Fé e fraternidade. A fraternidade vem de fraterno, frater, irmão. A “fraternidade”, enquanto valor da sociedade ocidental, tal como outros valores, bebe na fonte do cristianismo, à luz do qual todos somos irmãos por sermos “filhos de Deus”. Sejamos ou não crentes ou praticantes, a nossa cultura, aquilo que somos, tem um chão comum que nos marcou nos últimos 2000 anos, que devemos conhecer e proteger. Por isso todos nos comovemos com o incêndio da Catedral de Notre-Dame e rejubilámos com a sua recuperação. De cara lavada, a catedral, onde fomos à missa no domingo, tal como o Sacré-coeur (igreja jubilar) ou a igreja de S.Severin, que encontrámos por acaso, são casas de porta aberta para os crentes que queiram rezar, para os turistas que querem visitar enquanto obras de arte ou para quem quiser simplesmente entrar e meditar ou descansar.
#carlosnevesagricultor #ferias #feriasdosagricultores #paris #turismo #europa #france

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publicado às 13:50

O preço dos ovos e o custo das regras

por Carlos Neves, em 10.02.25

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Para o “Dia dos namorados” de 2025, o “presente de luxo” mais sugerido pelos utilizadores de redes sociais nos Estados Unidos são… ovos!

O site AGDAILY mostrou várias dessas publicações e deu um exemplo de Lisa Shepard que publicou: “Não sou de me gabar, mas o meu marido comprou-me 4 dúzias de ovos de presente de dia dos namorados hoje!”
As piadas multiplicaram-se à medida que o sentido de humor acompanhou a subida do preço dos ovos registada nos últimos meses. A principal causa desta subida parece ser a gripe aviária, que tem levado ao abate de muitas galinhas e consequente redução da produção, mas o meu colega Derick Josi, TDF Honest Farming, não sendo produtor de ovos, chamou a atenção para outra hipótese que merece ser considerada: Esta subida do preço dos ovos acontece depois da imposição de uma série de regras nos últimos anos ao nível de aviários, nomeadamente a obrigação das galinhas terem acesso ao ar livre, regras que aumentam os custos.
Já agora, convém lembrar que a gripe aviária é transmitida pelas aves migratórias e quando as galinhas têm acesso ao exterior o risco de contrair a doença é maior.
E outra coisa ainda: as regras de bem-estar animal, que podem parecer razoáveis, que muita gente defende preocupando-se genuinamente com o bem-estar dos animais de produção, também podem ser um “truque” para causar o aumento do preço da proteína animal, nomeadamente o custo dos ovos e da carne de frango e assim favorecer o mercado das alternativas de base vegetal ou as imitações de carne produzidas em laboratório...

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publicado às 07:40

Gente como vós

por Carlos Neves, em 07.02.25

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Lembram-se do filme Forrest Gump? Protagonizado por Tom Hanks, conta-nos 40 anos de história dos Estados Unidos de uma forma divertida, através das histórias da vida de um rapaz com Q.I. abaixo da média. Numa das cenas mais comoventes do filme, Forrest, com o coração nas mãos, pergunta se uma certa criança (ao contrário dele) é normal. Noutra cena, corta a relva. Cortar a relva também é uma coisa que eu gosto de fazer. Sinto-me “normal”, igual a qualquer outra pessoa de classe média, de qualquer profissão, que corta a relva do seu jardim. 

Na cabeça de muita gente, trabalhar na agricultura não é ser normal, é estar um bocadinho abaixo do normal na pirâmide da sociedade. Lembro-me, ainda criança, de ouvir coisas como “desperdiçar na agricultura uma cabecinha boa para estudar”. Lembro-me mais tarde de me aperceber que muitos e muitas jovens preferiam trabalhar numa fábrica de confeções a ganhar o salário mínimo (que já foi muito mais mínimo do que é hoje) em vez de trabalhar na agricultura da família. Lembro-me ainda de ler George Stilwell relatar o “orgulho de ser agricultor” que observou no Royal Show em Inglaterra, por oposição à baixa autoestima dos agricultores em Portugal… 

Com tudo isto, com o trabalho às vezes duro, com os preços baixos dos produtos agrícolas, não admira que uma parte significativa dos agricultores tenha saído do meio rural em direção à cidade ou ao estrangeiro ou diga aos filhos para fugirem da agricultura e procurarem um trabalho atrás de uma secretária.

Entretanto, se antigamente os portugueses tinham pena dos agricultores, por causa da dureza do trabalho e da pobreza da maioria dos trabalhadores agrícolas, hoje, por vezes, têm medo e veem os agricultores como malfeitores que poluem o ambiente, maltratam animais e enchem a comida de químicos que fazem mal. 

No entanto, com as novas tecnologias, a agricultura pode ser mais confortável e cativante. Há muitas pessoas descontentes noutras profissões, a trabalhar por turnos, a fazer trabalhos duros e repetitivos que na agricultura poderão encontrar um trabalho mais compensador… se forem chamados, se lhes for proposto um ordenado compensador, se o preço dos produtos agrícolas compensar esse pagamento e ainda se não acontecer a resistência social que referi atrás. 

Com a saída da mão de obra agrícola, com a redução normal do número de filhos por família, com o fim do trabalho infantil, a solução de quem fica na agricultura manter a atividade passa pela mecanização possível e pela contratação de imigrantes para o trabalho agrícola. 

Neste momento, 40 em cada 100 trabalhadores agrícolas em Portugal já são estrangeiros. São 40% da força de trabalho e também são 40% das pessoas que fazem descontos para a segurança social… 

Por muito que alguns possam ter saudades do passado em que não faltava gente (pelo contrário, havia tanta gente que emigrar era a única forma possível de fugir à pobreza), por muito medo que possa haver em relação a rostos e línguas estranhas que chegaram, esta é a realidade atual da nossa agricultura. 

A dignidade desses imigrantes é posta em causa pelas redes de tráfico humano, pelas condições miseráveis em que por vezes são alojados, pela falta de resposta dos serviços do Estado que deviam proceder ao seu registo e tratar da documentação e pela insegurança que a população portuguesa vai percecionando com o aumento da imigração. Os imigrantes são essenciais na agricultura e noutras atividades económicas, são essenciais para manter viva essas atividades, para manter vivo o meio rural português, mas tem de ser integrados e acompanhados para não serem marginalizados ou se tornarem marginais com todas as consequências sociais que se podem esperar. Escrito para Mundo Rural - Janeiro / Fevereiro 2025

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publicado às 19:00


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