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Tempo de discussões sobre o tempo

por Carlos Neves, em 25.01.25

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Tenho saudades do tempo em que o estado do tempo era um desbloqueador de conversas e não um detonador de discussões entre guerreiros do teclado. Uma pessoa chegava à sala de espera do médico, comentava que estava frio ou vinha chuva e uns acenavam com a cabeça, outros ficavam calados e outros, se quisessem, tinham conversa para ocupar o tempo de espera comentando o calor das férias do Algarve, o frio de Trás-os-montes ou a nortada da Póvoa. As discussões aconteciam entre os adeptos dos boletim meteorológico, das fases da lua, do almanaque ou dos ditados antigos como o humor da Senhora das candeias.
Agora, aparece uma notícia sobre vento e chuva e começa a discussão entre os adeptos da teoria do “fim do mundo” (que vai acabar por causa do aquecimento global) e do “fim do mês” (o que interessa é ganhar o dia a dia e depois vê-se). Para os primeiros, no limite, cada vez que alguém espirra a culpa é das alterações climáticas, para os segundos ventos de 200 km / hora é normal no inverno. Pelo meio, ou por trás de tudo isto, há sempre negócios. Uns tentam manter as vendas e outros vender novas coisas e às vezes até são os mesmos que vendem gasóleo e eletricidade, que furam num lado e colocam painéis solares no outro e ganham em ambos enquanto nós, o povo, nós consumimos a consumir, a discutir e a fazer publicidade grátis.
Para complicar, a própria meteorologia “privatizou-se” e agora em vez do boletim meterológico no fim do telejornal temos 20 canais de televisão, 40 jornais e 400 páginas “meteo” a lutar por likes e visualizações, e se alguns tentam manter o rigor, outros não se importam de anunciar a “tempestade do século” em letras garrafais quando o centro da tempestade está a milhares de kms e aqui “só” está previsto um bocado de vento e chuva. E depois, como na história do Pedro e do lobo, o povo deixa de dar atenção aos avisos e responde sempre “é inverno, é normal”, e não toma os cuidados que devia ter…
Ó gente, quando a Proteção civil faz avisos, é como quando a vossa mãe dizia “Está frio, leva o casquinho! Vem chuva logo à noite, leva o guarda-chuva ou anda para casa mais cedo!” Vocês respondiam “Ó mãe, é normal, estamos no inverno?” Então…
#carlosnevesagricultor #tempo #meteo #chuva #vento #herminia

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publicado às 19:34

Leite inteiro e "gordofobia"

por Carlos Neves, em 22.01.25

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Andam por aí "mosquitos por cordas" com um polémica por causa de algumas marcas terem passado a chamar "Leite inteiro" ao que até agora se chamava "leite gordo". Eu não tenho tempo para discutir o assunto nem tenho qualquer esperança de acabar com essa polémica, porque polémica é precisamente o que toda a gente quer (a comunicação social, os donos das redes sociais e as pessoas que estão aborrecidas e querem resmungar com alguma coisa), mas venho aqui dar o meu contributo, não sei se estou a deitar "água no lume" ou "achas para a fogueira", mas cá vai.
Eu acompanhei a "luta" de dezenas de anos de pessoas como o Dr Pedro Pimentel, que foi secretário-geral da ANIL, Associação dos Industriais de Lacticínios, para que se pudesse chamar "inteiro" ao leite gordo. Fez-se essa luta porque nos diziam que as pessoas não bebiam leite gordo com medo da gordura e portanto seria bom para o setor mudar o nome para "leite inteiro", como sempre se chamou nos outros países, e portanto, posso testemunhar que, na origem, isto não teve nada a ver com as modas "woke" dos últimos anos.(C.N.) Passo a palavra ao Pedro Pimentel:
"O tema da 'gordofobia' no leite tem uma história longa.
Em Portugal vingou, de há muito, a designação de magro, meio-gordo gordo para os leites que apresentam um teor de gordura inferior a 0,5%, a entre 1,5 e 1,8% e acima de 3,5%.
Refira-se que quando o leite é ordenhado tem, em média 3,7% de gordura. Ou seja o leite tal como é produzido pela vaca tem essa parcela de gordura, mas convencionou-se - noutros tempos - que essa seria a designação de venda do produto.
Como refere a notícia do DN a designação INTEIRO (a também as designações DESNATADO e SEMI-DESNATADO) é a que prevalece na generalidades dos países: Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Itália, Reino Unido, EUA, Canadá, Brasil e em muitos mais e corresponde ao que efetivamente acontece: leite com a gordura natural ou leite a que foi parcial ou totalmente retirada a respectiva nata (a gordura do leite).
Em boa verdade, é muito redutor falar num produto GORDO quando o mesmo contém apenas 3,5% de gordura, quando existem no mercado inúmeros produtos magros ou light que têm 5 ou 10 vezes mais gordura.
No final dos anos 90, quando exercia as funções de secretário geral da associação de lacticínios portuguesa, fiz inúmeras démarches para alterar a nomenclatura utilizada ou, pelo menos, permitir às marcas que tivessem a hipótese de utilizar a designação de venda que entendessem.
Na altura, a autoridade portuguesa que poderia propor essa alteração legal opôs-se sempre a essa modificação com o extraordinário argumento, apresentado pelo responsável à época, de que "a minha mulher está habituada a essa designação e não perceberia a nova terminologia".
A coisa, não tendo qualquer graça, converteu-se em piada e dizia-se que as leis teriam que ser previamente validadas pela mulher do Eng.º X.
Contudo, num contacto totalmente fortuito com os serviços de tradução da União Europeia, consegui convencer a tradutora de um Regulamento sobre as designações de Leite, a - na versão portuguesa - referenciar as duas famílias de terminologias: gordo, meio-gordo, magro ou inteiro, desnatado e semidesnatado.
Ou seja, 'venceu-se' na secretaria um jogo que estava engalinhado dentro de campo.
Apesar disso, as marcas mantiveram a terminologia utilizadas por muitos anos, não sei se por temerem confundir o consumidor se por alguma cristalização de raciocínio.
E, sim, acredito que a mudança de designação de venda é um sinal-dos-tempos. Mas que poderia estar em prática, já não tenho de cor, mas há pelo menos dezena e meia de anos.
Uma das peripécias que, um dia, farão parte, por certo, de um livro de memórias que esses tempos me deixaram."(PP)

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publicado às 13:37

Ir para o campo à hora de vir

por Carlos Neves, em 21.01.25

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“Ides pró campo à hora de vir!”, dizia a minha avó Esperança. Lembrei-me dela mais uma vez ao percorrer o meu arquivo de fotos, porque tenho muitas fotos do pôr do sol.

E porque vou “para o campo à hora de vir”? De uma forma resumida, a resposta pode ser “porque posso e porque quero”, uma expressão partilhada há dias por um avô que sigo  nas redes sociais (que se mete frequentemente em polémicas por causa de frases como esta, sempre que o assunto não são as fotos dos netos) e que deu esta frase como um exemplo de boa resposta para quando queremos dizer a verdade sem dar muitas explicações. Mas eu quero dar algumas essas explicações e por isso vou usar a frase como mote.

Porque posso? Porque, ao contrário da minha avó que nasceu no início do século XX e ia para o campo num carro de vacas com uma sachola e uma foicinha ou foucinhão (foucinhão é aquela coisa que a geração da minha avó usava para cortar erva e a geração Z só conhece das brincadeiras do halloween ou do carnaval), eu vou para o campo num trator com cabine, sem apanhar frio e com boa iluminação fazer trabalhos com máquinas. E também posso porque, ao contrário da minha avó e dos meus pais, não tenho que voltar ao fim da tarde para fazer a ordenha das vacas, porque tenho um “robô” de ordenha a trabalhar há 12 anos. É sempre preciso acompanhar e tocar alguma vaca atrasada, mas é um trabalho mais leve e mais rápido do que a ordenha tradicional, manual ou com máquinas, por isso posso aproveitar o fim da tarde noutras atividades.

Porque quero? Porque, como li há muito tempo num cartoon de uma  revista agrícola, “gosto da liberdade que a agricultura me dá, com licença do banco e do governo posso fazer tudo o que quero”. Isto para dizer que, apesar das regras que quem nos governa nos vai impondo cada vez mais, umas vezes com boa intenção, outras vezes com intenções que temos de enfrentar e muitas vezes a complicar, apesar de tudo, a atividade agrícola, sobretudo de quem trabalha por conta própria, é uma atividade livre em que podemos fazer escolhas. E eu escolho muitas vezes “ir para o campo à hora de vir”, mas não demoro muito, não fico lá toda a noite e escolho voltar a casa a horas decentes para jantar, ou “cear”, como dizia a minha avó, que almoçava de manhã, jantava ao meio dia e “ceava” à noite. #carlosnevesagricultor #pordosol #agricultura

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publicado às 07:48

Farpas e javalis

por Carlos Neves, em 09.01.25

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Um dia, há mais de 30 anos, na Casa-Escola Agrícola Campo Verde, o professor de português trouxe-nos um texto das “Farpas”, de Ramalho Ortigão. Nunca mais encontrei esse texto, até comprei e li o livro, mas descobri depois que existe outro volume onde deve estar essa “farpa”, de modo que vou citar “de cor” conforme me recordo. Ramalho comentava uma notícia da chegada do Rei, de comboio, a um determinado sítio, e criticava o floreado do discurso do autarca local, algo sobre a alteza real e um trono ou degrau imaginário, e também a resposta do Rei, cheia de maneirismos e vazia de conteúdo. Dizia Ramalho que, em vez dessa treta, os discursos deviam ser sobre os problemas concretos das pessoas, por exemplo “Majestade, o povo está a passar fome porque os pomares desta terra estão a ser atacados por pulgões” e o Rei devia responder: “Muito bem, logo quando regressar ao palácio vou chamar o Primeiro-ministro para ele chamar o Ministro da agricultura para que dêem ordens aos agrónomos para investigar o vosso problema e trazer-vos uma solução!”. Pronto.
Se fosse em 2025 e eu tivesse a oportunidade de falar, diria assim: “Senhor Presidente / Primeiro-ministro / Senhor Ministro ou secretário de Estado, os Javalis estão a tornar-se um problema cada vez mais grave em todo o país e também nesta região. Na semana passada, um amigo meu fotografou um bando de 15 javalis aqui ao lado em Bagunte, Vila do Conde. Contou-me o meu amigo que nunca tinham andado javalis por ali, que no próximo verão vai haver destruição de milho como já acontece noutros locais e que os caçadores não podem ajudar a controlar a espécie por causa dos distâncias de segurança que tem de manter em relação a casas e equipamentos, distâncias que podem fazer sentido nas regiões com grandes áreas e povoação concentrada, mas que tornam impossível a caça nas zonas de minifúndio”. E ficava à espera de uma resposta. Concreta.
#carlosnevesagricultor #agricultura #javali #javalis #milho #umdiaistovaicorrermal

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publicado às 20:24


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