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Um parto que se tornou fácil

por Carlos Neves, em 28.08.23

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Algum tempo depois de jantar, como é habitual, fui "dar a volta ao gado", isto é, ver se estava tudo bem, incluindo a vaca em fim de gestação que tínhamos colocado de manhã na maternidade. Por sorte, mesmo antes de ir dormir, vim ao exterior da casa e pareceu-me ouvir uma vaca a berrar da forma aflita que fazem quando estão a parir. Fui ver e estava de facto em trabalho de parto, já com uma pata do vitelo à vista. Equipei-me, calcei as luvas obstétricas (que vem até ao ombro) e meti a mão para observar. A pata do vitelo que não se via estava dobrada no "cotovelo" e foi fácil de puxar para a posição correta. A vaca tinha-se levantado quando me aproximei e assim foi mais fácil ajudar no parto com os forceps e o vitelo, nos segundos que esteve pendurado, deitou fora os líquidos amnióticos que tinha nas vias respiratórias. A vaca veio logo lamber o vitelo e por isso fui descansar e deixei-a cuidar dele. É um macho cruzado de angus, por isso é preto. Foi fácil e correu bem. 70% dos partos aqui em casa não precisam de ajuda, mas neste caso podia correr mal. É a vida.
#carlosnevesagricultor

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publicado às 13:42

Falta uma feira agrícola em Vila do Conde

por Carlos Neves, em 20.08.23

 

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Já foram à Feira de Gastronomia de Vila do Conde? Podem lá encontrar o melhor da gastronomia portuguesa e também um “boteco” onde podemos comprar produtos típicos do Brasil incluindo um bolo património imaterial da humanidade que é de comer e chorar por mais. Também podem encontrar o melhor dos produtos portugueses: vinho, azeite, mel, vários queijos de cabra e ovelha bem como queijo de vaca “Senras” (de Famalicão) e queijos dos Açores. Falta o leite e derivados com origem em Vila do Conde. 

O leite é o principal produto agrícola de Vila do Conde que assegura quase 10% da produção nacional. Em Modivas está localizada a maior fábrica de leite UHT do pais, da Lactogal, empresa detida a 33% pela AGROS que nasceu em Vila do Conde e tem agora sede na Póvoa de Varzim.

Até 2019, a ausência do “leite vilacondense” na feira de gastronomia foi compensada pela Feira de atividades agrícolas, sob o nome “Portugal Rural”, realizada no mesmo local no início de setembro, recuperando a tradição da “feira das colheitas”. Dei o meu contributo para a organização das diversas edições e tive um gosto enorme em contactar com as pessoas no stand da AJADP / APROLEP. Em 2020 e 2021 não houve feira agrícola por causa da pandemia e depois não houve conjugação de vontades para voltar a organizar o certame.

Eu compreendo que o surgimento e crescimento da AGROSEMANA, realizada no final de Agosto no Espaço AGROS entre Póvoa e Vila do Conde obrigou a repensar a realização da “Portugal Rural”, mas fico triste e preocupado pela falta de alternativas de comunicação da agricultura vilacondense com a população.

Em Vila do Conde , nas primeiras décadas após o 25 de abril, agricultores, poder autárquico e população urbana de Vila do conde viveram de “costas voltadas. Mais recentemente, as 16 edições da “Portugal Rural” permitiram aproximar as pessoas, levar o campo à cidade e criar uma dinâmica e um relacionamento diferente entre todos, com um enorme trabalho didático desenvolvido por associações e casas agrícolas.

Não sendo possível mudar as datas nem realizar a feira nos mesmos moldes, ocorreu-me que se podia juntar a agricultura à Feira de Gastronomia, com a presença dos produtos agrícolas de vila do conde, a começar pelo leite e produtos lácteos mas sem esquecer frutas, hortícolas e flores. Poderia haver uma concentração e passeio de tratores antigos como já fizemos em 2009 em jeito de manifestação na Póvoa, aconteceu há semanas na Maia e vai voltar a realizar-se na Póvoa no próximo dia 27 de agosto, numa nova dinâmica. A maior dificuldade seria a gestão do espaço, mas poderia usar-se a parte de baixo dos jardins da avenida Júlio Graça como já costumava acontecer na Portugal Rural. Estas ideias podem ser melhoradas ou podem surgir outras diferentes. Haja vontade e flexibilidade de todas as partes. Vila do conde já foi pioneira nestas coisas e está a ficar para trás quando todos os concelhos à volta estão a organizar mostras agrícolas. Li algures que a nossa vida é como um cobertor curto, puxa-se para cima e destapa os pés, puxa-se para baixo e destapa a cabeça, mas as pessoas flexíveis encolhem um pouco as pernas e encontram uma posição confortável. Fica a ideia. O que acham?

#carlosnevesagricultor

#viladoconde

#agricultura

#portugalrural

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publicado às 20:59

Uma colheita inesperada

por Carlos Neves, em 19.08.23

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Este milho veio de uma parcela semeada a 17 de Abril, não foi regado e só deveria ser colhido no final de Setembro ou início de Outubro. Entretanto, sendo necessário fazer uma obra de saneamento num terreno vizinho sem acesso para máquinas e camiões, pediram-me para abrir uma passagem na cabeceira do terreno que cultivo. Não era possível colher com uma máquina grande porque estou dependente de passar noutro terreno vizinho que foi semeado muito mais tarde. Este terreno que cultivo só tem acesso para máquinas com 2,5 metros de largura. Máquinas de colheita pequenas, para ensilar ou debulhar não estavam disponíveis de imediato. Ainda por cima confundi 16 de Agosto com 16 de Setembro. Chegou o dia de começar a obra, o milho estava no campo e eu ainda a tentar encontrar alguém disponível para esta colheita extra, mas com calma porque pensava que faltava um mês. A solução? Convocar o pessoal da obra que estava parado à espera de começar a trabalhar e em pouco mais de uma hora esfolhou-se 4 linhas de milho por 100 metros. Foi um trabalho inesperado para eles e uma colheita inesperada porque antecipada para mim.

#carlosnevesagricultor

#milho

#milhogrão

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publicado às 19:03

No avião de regresso a Roma o Papa Francisco comeu vitela estufada

por Carlos Neves, em 07.08.23

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Vou repetir, como faz o Papa com as coisas importantes. Comeu vitela. Também comeu outras coisas, produtos nacionais e variados, confecionados pelo Chef Vítor Sobral. Podia ter optado por peixe, como eu costumo fazer ao jantar. Sublinho esta parte da notícia do Expresso: “Sabe-se apenas que a única exigência do Papa Francisco foi a de serem servidas pequenas doses, à semelhança do que aconteceu em todas as refeições realizadas em Portugal, uma vez que o Sumo Pontífice não gosta de desperdício, nem de que se estraguem alimentos.”
Porque é que isto é importante? Porque alguns dias antes da JMJ começar, o mesmo jornal publicou um artigo sob o título “O impacto da Jornada Mundial da Juventude no ambiente”, onde se dizia, citando o “Manual da Pegada de Carbono” do evento, que “uma viagem de avião de ida e volta entre Atenas e Lisboa gera 1746 kg CO2e”. (…) Para anular esta pegada, numa lógica de compensação e já depois do evento, a organização recomenda aos peregrinos: 1) Realizar a viagem casa-trabalho de comboio ao invés de carro pessoal durante 2 anos, para um percurso de 10km; 2) Responder ao desafio de ser vegetariano durante um ano; 3) E apoiar programas de conservação de árvores durante um ano, correspondente a 65 árvores.".
Li, mas decidi não fazer publicidade ao assunto. Alguns dias depois, nova notícia a partir da mesma base puxava a parte “picante” para o título: “JMJ sugere aos peregrinos serem vegetarianos”; No mesmo dia, à segunda ou terceira partilha da notícia nas redes sociais, subiram a parada, colocando a foto do Papa e o título “Tornem-se vegetarianos e bebam água da torneira”. Mas o papa nunca disse isto, nem qualquer responsável da JMJ. Parece-me que houve uma tentativa de passar a mensagem da “religião vegetariana” através da JMJ. Entretanto, após o protesto público de CONFAGRI e CAP, a Revista Agricultura e Mar esclareceu que “A organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 não sugere aos peregrinos serem vegetarianos para compensar viagem de avião”. Ponto.
No antigo testamento os judeus atiravam pedras a uma cabra a simbolizar os pecados. O bode expiatório levava culpas. Na idade média, quando foi preciso dinheiro para as cruzadas e para construir catedrais, alguém inventou o pagamento das indulgências para compensar os pecados. Agora é deixar de comer carne para compensar as viagens de avião. No século XXI, as referências da sociedade já não são os santos da Igreja, mas os influencers e estrelas de Hollywood que viajam em jatos privados, tentando convencer-nos a trocar a proteína animal pelos produtos de base vegetal ou produzidos em laboratório por empresas em que investiram.
Na Igreja e na sociedade deve haver espaço para todos, omnívoros, vegetarianos e também para o resto do mundo que passa fome e não discute estas coisas. Os problemas ambientais e o aquecimento global são um problema de todos e devem ser preocupação de todos. Trocar carne por qualquer coisa para compensar viagens de avião é um erro, porque as alternativas têm sempre emissões e a diferença é insignificante. O carbono que as vacas, cabras e ovelhas libertam foi captado pelas pastagens e forragens produzidas pelos agricultores. Se essa terra for abandonada, mais cedo ou mais tarde haverá incêndios e o carbono vai todo para a atmosfera no meio de desgraças. É possível reduzir as emissões na agricultura e em toda a cadeia alimentar com mais eficiência, mas sobretudo menos desperdício. Uma agricultura com plantas e animais. Se o problema são as viagens de avião, façamos menos viagens de avião. Depois, a pé ou de avião, façamos uma alimentação variada, local, da época, em pequenas doses, para reduzir o desperdício.
#carlosnevesagricultor

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publicado às 17:02

JMJ Lisboa poderá ser uma nova estrada de Damasco?

por Carlos Neves, em 02.08.23
A 300 km de Lisboa, ouvi a missa de abertura da JMJ através da rádio na cabine do trator, saltando entre campos de milho a vigiar e mudar os sistemas de rega. Saí do trator nos primeiros acordes, voltei durante uma das inconfundíveis leituras de São Paulo. São Paulo foi um enorme evangelizador do mundo conhecido no seu tempo e também autor de alguns dos mais belos textos do Novo Testamento. Até certo ponto, é muitas vezes considerado ao nível de S. Pedro. Mas São Paulo não foi um dos 12 apóstolos, nem sempre foi "santo" e nem sempre foi Paulo.

Saulo era um fervoroso Judeu que ia a caminho de Damasco para prender os cristãos que encontrasse e já perto da cidade vendo uma luz e ouvindo uma voz "Saulo, porque me persegues?", converteu-se e mudou de nome.

Tenho lido por estes dias textos marcantes de gente impressionada com o testemunho dos jovens na JMJ. Gente que não é crente ou que está muito afastada da vida da igreja. Será a Jornada mundial da juventude em Lisboa a sua estrada de Damasco? Saibamos ter a porta aberta para esta gente e não gastemos demasiado latim a responder aos que insistem em criticar de fora ou a discutir dentro da igreja, como já fizeram no passado os seguidores de São Pedro e São Paulo.

#JMJ #jmj2023lisboa #JMJLisboa

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publicado às 18:25


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