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Algum tempo depois de jantar, como é habitual, fui "dar a volta ao gado", isto é, ver se estava tudo bem, incluindo a vaca em fim de gestação que tínhamos colocado de manhã na maternidade. Por sorte, mesmo antes de ir dormir, vim ao exterior da casa e pareceu-me ouvir uma vaca a berrar da forma aflita que fazem quando estão a parir. Fui ver e estava de facto em trabalho de parto, já com uma pata do vitelo à vista. Equipei-me, calcei as luvas obstétricas (que vem até ao ombro) e meti a mão para observar. A pata do vitelo que não se via estava dobrada no "cotovelo" e foi fácil de puxar para a posição correta. A vaca tinha-se levantado quando me aproximei e assim foi mais fácil ajudar no parto com os forceps e o vitelo, nos segundos que esteve pendurado, deitou fora os líquidos amnióticos que tinha nas vias respiratórias. A vaca veio logo lamber o vitelo e por isso fui descansar e deixei-a cuidar dele. É um macho cruzado de angus, por isso é preto. Foi fácil e correu bem. 70% dos partos aqui em casa não precisam de ajuda, mas neste caso podia correr mal. É a vida.
#carlosnevesagricultor
Já foram à Feira de Gastronomia de Vila do Conde? Podem lá encontrar o melhor da gastronomia portuguesa e também um “boteco” onde podemos comprar produtos típicos do Brasil incluindo um bolo património imaterial da humanidade que é de comer e chorar por mais. Também podem encontrar o melhor dos produtos portugueses: vinho, azeite, mel, vários queijos de cabra e ovelha bem como queijo de vaca “Senras” (de Famalicão) e queijos dos Açores. Falta o leite e derivados com origem em Vila do Conde.
O leite é o principal produto agrícola de Vila do Conde que assegura quase 10% da produção nacional. Em Modivas está localizada a maior fábrica de leite UHT do pais, da Lactogal, empresa detida a 33% pela AGROS que nasceu em Vila do Conde e tem agora sede na Póvoa de Varzim.
Até 2019, a ausência do “leite vilacondense” na feira de gastronomia foi compensada pela Feira de atividades agrícolas, sob o nome “Portugal Rural”, realizada no mesmo local no início de setembro, recuperando a tradição da “feira das colheitas”. Dei o meu contributo para a organização das diversas edições e tive um gosto enorme em contactar com as pessoas no stand da AJADP / APROLEP. Em 2020 e 2021 não houve feira agrícola por causa da pandemia e depois não houve conjugação de vontades para voltar a organizar o certame.
Eu compreendo que o surgimento e crescimento da AGROSEMANA, realizada no final de Agosto no Espaço AGROS entre Póvoa e Vila do Conde obrigou a repensar a realização da “Portugal Rural”, mas fico triste e preocupado pela falta de alternativas de comunicação da agricultura vilacondense com a população.
Em Vila do Conde , nas primeiras décadas após o 25 de abril, agricultores, poder autárquico e população urbana de Vila do conde viveram de “costas voltadas. Mais recentemente, as 16 edições da “Portugal Rural” permitiram aproximar as pessoas, levar o campo à cidade e criar uma dinâmica e um relacionamento diferente entre todos, com um enorme trabalho didático desenvolvido por associações e casas agrícolas.
Não sendo possível mudar as datas nem realizar a feira nos mesmos moldes, ocorreu-me que se podia juntar a agricultura à Feira de Gastronomia, com a presença dos produtos agrícolas de vila do conde, a começar pelo leite e produtos lácteos mas sem esquecer frutas, hortícolas e flores. Poderia haver uma concentração e passeio de tratores antigos como já fizemos em 2009 em jeito de manifestação na Póvoa, aconteceu há semanas na Maia e vai voltar a realizar-se na Póvoa no próximo dia 27 de agosto, numa nova dinâmica. A maior dificuldade seria a gestão do espaço, mas poderia usar-se a parte de baixo dos jardins da avenida Júlio Graça como já costumava acontecer na Portugal Rural. Estas ideias podem ser melhoradas ou podem surgir outras diferentes. Haja vontade e flexibilidade de todas as partes. Vila do conde já foi pioneira nestas coisas e está a ficar para trás quando todos os concelhos à volta estão a organizar mostras agrícolas. Li algures que a nossa vida é como um cobertor curto, puxa-se para cima e destapa os pés, puxa-se para baixo e destapa a cabeça, mas as pessoas flexíveis encolhem um pouco as pernas e encontram uma posição confortável. Fica a ideia. O que acham?
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Este milho veio de uma parcela semeada a 17 de Abril, não foi regado e só deveria ser colhido no final de Setembro ou início de Outubro. Entretanto, sendo necessário fazer uma obra de saneamento num terreno vizinho sem acesso para máquinas e camiões, pediram-me para abrir uma passagem na cabeceira do terreno que cultivo. Não era possível colher com uma máquina grande porque estou dependente de passar noutro terreno vizinho que foi semeado muito mais tarde. Este terreno que cultivo só tem acesso para máquinas com 2,5 metros de largura. Máquinas de colheita pequenas, para ensilar ou debulhar não estavam disponíveis de imediato. Ainda por cima confundi 16 de Agosto com 16 de Setembro. Chegou o dia de começar a obra, o milho estava no campo e eu ainda a tentar encontrar alguém disponível para esta colheita extra, mas com calma porque pensava que faltava um mês. A solução? Convocar o pessoal da obra que estava parado à espera de começar a trabalhar e em pouco mais de uma hora esfolhou-se 4 linhas de milho por 100 metros. Foi um trabalho inesperado para eles e uma colheita inesperada porque antecipada para mim.
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