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Há muito tempo, quando olhava em direção ao mar (que dista 1 km de minha casa em linha reta), via muitas vezes um agricultor vizinho a regar o milho e aquilo parecia-me um exagero, porque começava cedo a regar, regava quase todos os dias e até final de verão e muito perto da colheita para silagem. Curiosamente, o mesmo agricultor tinha outras parcelas de terreno mais afastadas, sem água de rega, onde semeava cedo um milho de ciclo mais curto e sem regar tinha uma boa colheita, embora em menor quantidade. Achei boa ideia e comecei a seguir o exemplo numa parcela que tinha próximo e também sem água disponível no local.
Há cerca de 20 anos, tendo atingido a idade da reforma, esse agricultor vendeu as vacas e arrendou-me os campos e desde então descobri que algumas zonas são arenosas e precisam de ser regadas mais de 10 vezes por ano, outras apenas 3 ou 4 vezes e noutras é possível produzir milho sem rega, com maior ou menor redução da produção em relação ao máximo que poderia ter com a rega adequada.
Experimentei rega gota a gota, desisti numa parcela e mantenho noutra e fiz alguns investimentos no sistema de rega por aspersão, mas basicamente mantenho a estratégia que o meu antecessor usava.
Hoje quem me vir a regar intensamente essas parcelas pode pensar que sou muito trabalhador ou que gasto água em exagero ou que estou a cometer um “atentado ambiental” por “regar milho em agosto”. Quem vir as outras parcelas sem rega pode pensar que sou muito preguiçoso ou que sou muito esperto ou que estou muito à frente na poupança de água, mas basicamente quem vir só uma parte e não souber tudo o que o agricultor tem de ponderar na sua decisão pode estar a fazer um julgamento precipitado e errado.
No mês passado, num dia de chuva, alguém criticava um agricultor de um concelho vizinho que tinha a rega ligada. Não sabemos se era intencional, se ligou a rega antes de chover e não sabia ou podia ir desligar o motor. Os sistemas de rega que temos aqui no Entre Douro e Minho não tem sondas para detetar a chuva e desligar o motor. Além disso, apenas seria errado estar a regar se provocasse enxurrada. Para uma boa rega do milho são precisos mais de 23 litros por metro quadrado. Imaginem que chovem apenas 5 litros. É preferível regar ao mesmo tempo os outros 18 litros, dar uma “boa rega” e assim haverá uma correta infiltração na terra do que deixar chover, fica à superfície, evapora e depois regamos no dia seguinte, evapora uma parte, fica só humidade à superfície, as raízes do milho ficam à superfície e a seara não resiste se a rega faltar ou demorar. Os agricultores, como o resto do mundo, às vezes também cometem erros ou fazem escolhas diferentes dentro da sua liberdade e responsabilidade, mas não se precipitem a julgar ou condenar sem perguntar.
#carlosnevesagricultor
#milho #rega #agua #agricultura
“Mais uma ajuda!” Em jeito de desabafo, um agricultor de Coimbra partilhou a imagem de parte de um campo de milho destruído pelos javalis. Os relatos sucedem-se entre os colegas agricultores, do Minho ao Alentejo.
A Anpromis, Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo, através de um inquérito aos associados, estimou prejuízos de 8 milhões de euros nos campos de milho em 2022.
O “Plano Estratégico e de Ação do Javali”, apresentado este ano pelo ICNF, reconhece que "Portugal tem uma sobrepopulação de javalis, que se estima entre 300 a 400 mil exemplares, e é preciso reduzir o número de animais para mitigar prejuízos na agricultura e a ocorrência de acidentes rodoviários.
O governo está a ponderar "aumentar os períodos de caça ao javali praticamente para todo o ano”, segundo o secretário de estado João Paulo Catarino, citado pelo jornal Observador a 30 de maio.
Enquanto a caça não chega, os agricultores vão improvisando e partilhando soluções. Bolas de naftalina e perfumes parecem ter pouco efeito. Há quem tenha bom resultado com mantilhas de cães, enquanto o cheiro fica no meio das searas. Há quem recomende cercas elétricas, com bons e maus resultados e sobretudo com a despesa que seria vedar dezenas de parcelas. No meio da última discussão que tivemos, um colega sugeriu usar "velas elétricas" , com pilha, que se usam no cemitério e duram meses. Parece que os javalis não gostam. Portanto, como costuma dizer o Padre Guilherme (o famoso Padre - DJ), "acendam velinhas". Para espantar os javalis e para iluminar o caminho a quem tem que tomar decisões para controlar esta praga.
(foto de José Carlos Manco)