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JMJ: O meu testemunho como agricultor, cidadão e cristão

por Carlos Neves, em 31.07.23

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Como agricultor, tive muito gosto em receber alguns peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na minha vacaria e mostrar como cultivamos a terra e criamos os animais para produzir os alimentos. Tive ainda mais gosto em dar a provar ao Anton, ao Michall, ao Martim e ao Lazlo “os frutos da terra e do trabalho do Homem”, os legumes do nosso quintal, o leite-creme feito com leite das nossas vacas, a carne e diferentes vinhos e doces de diferentes regiões do nosso Portugal, um país tão pequeno, mas com uma gastronomia tão rica e variada. E tive ainda a felicidade de ver que por esse país muitos colegas agricultores, nomeadamente os que me são mais próximos, os produtores de leite, receberem a visita de grupos de peregrinos, sinal da sua capacidade de acolhimento, mas sobretudo sinal da sua integração social e do respeito que merecem na comunidade em que os responsáveis entenderam que os agricultores faziam parte do melhor que tinham para mostrar!
Como cidadão, vejo como muito positivas esta JMJ. Proporcionar a jovens de todo o mundo a hipótese de se reunirem, conhecerem um novo país e conviverem como irmãos num espírito positivo, de festa, de esperança e a alegria, é valioso para a sua formação e um contributo prático para haver mais tolerância, menos xenofobia (medo do estrangeiro) e menos racismo.
As pré-jornadas, que decorreram na semana passada, levaram a JMJ a todo o país e a todas as famílias que quiseram e puderam receber peregrinos nas suas casas, nas suas comunidades, nas suas escolas e pavilhões. Acho que foi um exemplo fantástico de “descentralização” que outros eventos não tiveram e que levaram alegria e esperança a muita gente. Fui testemunha disso.
Os portugueses são bons a receber e, se tudo correr bem como esperamos, será bom para o turismo e para o futuro do país e estou convencido que, além da experiência social o investimento económico terá resultado positivo, para além dos novos espaços em Lisboa, Loures e Oeiras que ficam para toda a população desfrutar.
Como crente, católico praticante, mas nesta altura sem responsabilidades na igreja, tenho vivido esta jornada “por dentro”, desde que fui convidado para o COP, Comité Organizacional Paroquial. Eu nunca participei nas anteriores JMJ, mas desde que aos 15 anos participei num curso de animadores da Ação Católica Rural, fundei e fui animador do grupo de jovens na paróquia, membro da Equipa Diocesana e Nacional da ACR e organizei dezenas de encontros, campos de férias e por exemplo a participação do grupo na Expo 98. Sei o espírito que se vive nestas atividades.
Estive no grupo como um “soldado raso” que é convocado para voltar ao ativo, voluntariamente, como todos os outros elementos, como milhares de elementos em todo o país, ao nível de paróquias, vigararias (regiões equivalentes aos concelhos, dentro da Igreja Católica), dioceses e organização central da JMJ. Só assim se consegue proporcionar aos jovens estadia, alimentação, viagens e atividades numa semana pelo preço que uma família paga por uma noite num quarto de hotel. Digo isto porque leio comentários que revelam muito desconhecimento, pois há quem pense que as famílias receberam dinheiro para acolher os peregrinos.
Ao longo deste ano em que dei o meu pequeno contributo para a participação dos nossos jovens e para acolher os peregrinos de outros países, assisti em silêncio a muitos ataques, muitas críticas, muita raiva expressa contra a Igreja e a JMJ. Fiquei triste. Não venho aqui responder “olho por olho, dente por dente”, como no tempo do antigo testamento que ainda é realidade na Terra Santa. Também não venho aqui “dar a outra face”, nem tenho paciência de santo para responder sempre com amor a quem tiver demasiado tempo livre e quiser discutir comigo religião. Respeito a liberdade de todos, a liberdade de acreditar em Deus e procurá-lo na religião que escolher, a liberdade de ter dúvidas ou de não acreditar. Não venho aqui tentar converter ninguém à força. Venho apenas, excecionalmente, partilhar aquilo que conheço, aquilo que sinto e aquilo que vivo.
A Igreja é um barco enorme, com muita gente, com conservadores e progressistas, novos e velhos, mais radicais ou mais moderados, mais praticantes ou mais ausentes. Tem um lado lunar, tem gente que cometeu erros como a pedofilia e tem muitos outros defeitos mais ou menos graves. Tem também um lado brilhante que aquece a alma como o sol, gente fantástica, generosa, que todos os dias procura seguir o ensinamento de Jesus e amar o próximo, rezar por todos, perdoar e ajudar os que mais precisam, nomeadamente os mais velhos e doente. Gente que não é perfeita, que também cai mas procura levantar-se e ser melhor. Os jovens da JMJ são expressão desse lado luminoso da Igreja.
Que este seja um tempo de encontro, tolerância, amor e descoberta de uma igreja positiva. Bem-vindos aos peregrinos, e boa JMJ para todos, mesmo para os que assistem de fora a este evento único no nosso país.

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publicado às 23:03

Não se precipitem a julgar os agricultores

por Carlos Neves, em 23.07.23

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Há muito tempo, quando olhava em direção ao mar (que dista 1 km de minha casa em linha reta), via muitas vezes um agricultor vizinho a regar o milho e aquilo parecia-me um exagero, porque começava cedo a regar, regava quase todos os dias e até final de verão e muito perto da colheita para silagem. Curiosamente, o mesmo agricultor tinha outras parcelas de terreno mais afastadas, sem água de rega, onde semeava cedo um milho de ciclo mais curto e sem regar tinha uma boa colheita, embora em menor quantidade. Achei boa ideia e comecei a seguir o exemplo numa parcela que tinha próximo e também sem água disponível no local.

Há cerca de 20 anos, tendo atingido a idade da reforma, esse agricultor vendeu as vacas e arrendou-me os campos e desde então descobri que algumas zonas são arenosas e precisam de ser regadas mais de 10 vezes por ano, outras apenas 3 ou 4 vezes e noutras é possível produzir milho sem rega, com maior ou menor redução da produção em relação ao máximo que poderia ter com a rega adequada.
Experimentei rega gota a gota, desisti numa parcela e mantenho noutra e fiz alguns investimentos no sistema de rega por aspersão, mas basicamente mantenho a estratégia que o meu antecessor usava.
Hoje quem me vir a regar intensamente essas parcelas pode pensar que sou muito trabalhador ou que gasto água em exagero ou que estou a cometer um “atentado ambiental” por “regar milho em agosto”. Quem vir as outras parcelas sem rega pode pensar que sou muito preguiçoso ou que sou muito esperto ou que estou muito à frente na poupança de água, mas basicamente quem vir só uma parte e não souber tudo o que o agricultor tem de ponderar na sua decisão pode estar a fazer um julgamento precipitado e errado.
No mês passado, num dia de chuva, alguém criticava um agricultor de um concelho vizinho que tinha a rega ligada. Não sabemos se era intencional, se ligou a rega antes de chover e não sabia ou podia ir desligar o motor. Os sistemas de rega que temos aqui no Entre Douro e Minho não tem sondas para detetar a chuva e desligar o motor. Além disso, apenas seria errado estar a regar se provocasse enxurrada. Para uma boa rega do milho são precisos mais de 23 litros por metro quadrado. Imaginem que chovem apenas 5 litros. É preferível regar ao mesmo tempo os outros 18 litros, dar uma “boa rega” e assim haverá uma correta infiltração na terra do que deixar chover, fica à superfície, evapora e depois regamos no dia seguinte, evapora uma parte, fica só humidade à superfície, as raízes do milho ficam à superfície e a seara não resiste se a rega faltar ou demorar. Os agricultores, como o resto do mundo, às vezes também cometem erros ou fazem escolhas diferentes dentro da sua liberdade e responsabilidade, mas não se precipitem a julgar ou condenar sem perguntar.
#carlosnevesagricultor
#milho #rega #agua #agricultura

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publicado às 17:13

Javalis? Acendam velinhas!

por Carlos Neves, em 15.07.23

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“Mais uma ajuda!” Em jeito de desabafo, um agricultor de Coimbra partilhou a imagem de parte de um campo de milho destruído pelos javalis. Os relatos sucedem-se entre os colegas agricultores, do Minho ao Alentejo.

A Anpromis, Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo, através de um inquérito aos associados, estimou prejuízos de 8 milhões de euros nos campos de milho em 2022.

O “Plano Estratégico e de Ação do Javali”, apresentado este ano pelo ICNF, reconhece que "Portugal tem uma sobrepopulação de javalis, que se estima entre 300 a 400 mil exemplares, e é preciso reduzir o número de animais para mitigar prejuízos na agricultura e a ocorrência de acidentes rodoviários. 

O governo está a ponderar "aumentar os períodos de caça ao javali praticamente para todo o ano”, segundo o secretário de estado João Paulo Catarino, citado pelo jornal Observador a 30 de maio. 

Enquanto a caça não chega, os agricultores vão improvisando e partilhando soluções. Bolas de naftalina e perfumes parecem ter pouco efeito. Há quem tenha bom resultado com mantilhas de cães, enquanto o cheiro fica no meio das searas. Há quem recomende cercas elétricas, com bons e maus resultados e sobretudo com a despesa que seria vedar dezenas de parcelas. No meio da última discussão que tivemos, um colega sugeriu usar "velas elétricas" , com pilha, que se usam no cemitério e duram meses. Parece que os javalis não gostam. Portanto, como costuma dizer o Padre Guilherme (o famoso Padre - DJ), "acendam velinhas". Para espantar os javalis e para iluminar o caminho a quem tem que tomar decisões para controlar esta praga. 

(foto de José Carlos  Manco)

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publicado às 22:00


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