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Imagine que você herdou um terreno e pretende cultivá-lo, mas porque é um terreno pantanoso terá primeiro que o drenar para poder cultivar. Inicia então os trabalhos de drenagem e descobre que o pântano está infestado com crocodilos. Compra uma caçadeira, aprende a disparar. Começa então a lutar contra os crocodilos para os exterminar, mas a luta não é fácil. A certa altura, você está tão empenhado a matar crocodilos que se esqueceu do seu objetivo inicial que era cultivar o terreno...
Desconheço o autor desta pequena história, que li há muitos anos. Recordo-me dela muitas vezes. É útil para refletir sobre a nossa atitude perante a vida. Por exemplo, no que toca ao trabalho e qualidade de vida, o objetivo de qualquer pessoa é ter uma vida confortável e ser feliz. Por isso trabalhamos. Mas algumas pessoas envolvem-se tanto no trabalho que acabam por viver para o trabalho e se esquecem do descanso, do conforto e da família.
O mesmo acontece com o poder, tanto o poder autárquico que vai a votos entretanto como o poder nas organizações agrícolas. Os dirigentes começam por se candidatar (creio eu) com o objetivo de servir as organizações e os colegas agricultores, mas com o tempo podem acomodar-se aos lugares e esquecer-se dos objetivos iniciais. Quanto mais tempo no poder, pior, por isso sou favorável à limitação de mandatos. Claro que nem sempre é fácil substituir as pessoas, mas nenhum de nós é insubstituível. Na verdade, só cá estamos na terra de passagem, mais cedo ou mais tarde havemos de partir e a vida continua sem nós.
Convém lembrar que a vida das organizações agrícolas não se joga apenas nas eleições. Anualmente, há assembleias gerais para analisar as contas do ano que passou e planear as atividades do ano que se segue. Os sócios podem e devem participar com sugestões, críticas ou pedidos de esclarecimento. Compreendo que, mesmo participando, muitos fiquem em silêncio por receio de falar em público. Mesmo esses podem e devem comentar com os colegas que estejam dispostos a falar ou então podem dirigir-se pessoalmente ao presidente ou outro elemento da direção e dizer a sua opinião, criticar, dar uma ideia. Muitas vezes, uma sugestão feita desta maneira dá mais resultados que uma crítica em voz alta feita na assembleia pela “oposição”, porque quem está no poder costuma ter receio de “dar o braço a torcer” publicamente. E, mesmo que a nossa ideia seja rejeitada no imediato, pode ficar a “semente” na cabeça de quem nos ouviu e dar frutos mais tarde. Isto é válido para todas as organizações, agrícolas ou não. É importante participar na gestão daquilo que é nosso.
Não é errado ter ambição de chegar ao poder. É preciso lutar para o alcançar e manter. Para “poder mudar” o que estiver mal ou para “poder fazer” o que falta é preciso ter “poder”. Mas é importante haver sempre “massa crítica” à volta do poder para o chamar à terra e não deixar esquecer os objetivos iniciais do bem comum de todos.
(adaptado a partir de um meu texto de 2005)
#carlosnevesagricultor
A manhã de hoje, fresca e nublada, mas sem o chuvisco dos últimos dias, foi o momento escolhido para arrancar e apanhar as batatas que plantámos a 15 de fevereiro. Temos máquina para arrancar a batata da terra, um arrancador “zaga”. É mais velho do que eu, nem sei a origem, creio que foi máquina de sociedade com outros agricultores. Gastei 300 euros a repará-lo há alguns anos e fiquei a pensar que só esse dinheiro daria para comprar batata para muito tempo… Mas assim temos o gosto de comer o que plantámos e dar ou vender alguma.
O ministro Matos Fernandes foi filmado dentro de um carro a 200 km/h na autoestrada. Confrontado com a situação, o ministro disse que não se apercebeu, que se aconteceu foi um erro e que tomaria providências para não voltar a acontecer.
Lembram-se do milionário Richard Branson, que foi dar uma voltinha ao espaço por estes dias e vai abrir uma empresa de turismo espacial? Deve ter gasto uns litros de gasolina com algumas emissões de carbono… Pois parece que tinha deixado de comer bifes para salvar o planeta (faz lembrar um certa pessoa que passa os dias a queimar pneus e gasolina). Encontrei sobre isso um texto da Brandi Buzzard, agricultora americana, e achei útil traduzir:
Na semana passada, fui com o meu filho Pedro e com o Hugo, nosso funcionário, “montar a rega” no “campo da mangueira furada” 😊 (a explicação para o nome está num texto anterior), que fica alguns quilómetros afastado de casa. “Montar a rega” significa colocar o motor no poço e fazer as ligações elétricas e de “canalização”, o que implica puxar mangueiras que quase sempre estão na bordadura dos campos, presas no meio das ervas que cresceram durante o inverno e primavera.
Não estava muito calor mas estava um tempo abafado, por isso fui comprar água a um café próximo. Quando voltei, na pequena pausa para refrescar, comentei: “Tive de vender três litros de leite para pagar cada uma destas garrafas de meio litro de água! Perante o seu ar de espanto (vosso também?), lembrei que vendemos o leite a 30 cêntimos e que paguei 90 cêntimos por cada garrafa.
Não digo que seja caro pagar 90 cêntimos por uma água num café. Percebo que num café ou restaurante não estamos a pagar apenas a água mas também o serviço. Com o consumo daquela água eu podia ter-me sentado à mesa e passar lá o dia a ver televisão, aproveitar o aquecimento ou ar condicionado e usar a casa de banho. Curiosamente, se pedisse meia de leite ou um galão, com outro valor nutritivo e que dá mais trabalho a preparar, pagaria um valor aproximado.
O problema aqui é o preço do leite, que ficou congelado (o que significa desvalorização tendo em conta a inflação) ao longo dos últimos 30 anos, tanto para o consumidor como para o produtor. Com efeito, desde que Portugal aderiu à União Europeia, se o preço do leite tivesse atualizado ao nível da inflação, o consumidor pagaria hoje 1,20€ por litro de leite, mas só se paga isso por “leites especiais”. As marcas brancas andam quase todas entre 40-50 cêntimos e as marcas próprias à volta dos 60 cêntimos e há sempre várias marcas em promoções, de modo que às vezes pode-se comprar leite UHT abaixo de 40 cêntimos por litro, mas as pessoas não bebem mais leite por causa disso. Os consumidores limitam-se a mudar de loja ou de marca para comprar a promoção dessa semana, ou comprar e armazenar o leite preferido quando está em promoção. Alguma coisa correu mal para chegarmos a esta “desvalorização do leite” que não acompanhou a evolução do preço do café, do pão e até da água engarrafada, mesmo aquela que é comprada no supermercado, naturalmente mais barata do que num café.
A desvalorização do leite UHT em Portugal não justifica tudo, mas é uma parte do problema que é preciso analisar e resolver. Para além do custo do leite ao produtor, há o custo dos transportes entre vacaria – fábrica – armazém – supermercado, o custo da embalagem, da pasteurização e do restante processamento conforme o caso. Mas de uma fábrica ou de um supermercado saem também produtos lácteos, alguns bem valorizados. É com os “produtos de valor acrescentado” que as indústrias e os supermercados equilibram as suas contas e compensam a margem nula das marcas brancas de primeiro preço que usam como isco para o consumidor… e que apresentam como justificação para o baixo preço ao produtor. Além disso, o leite entra na fábrica com um teor de gordura médio de 3,7%, e para fazer “leite magro” e “leite meio gordo” retira-se muita nata que tem um valor elevado no mercado.
Nota: Com exceção desta retirada de gordura, não há qualquer “desdobramento do leite”, como já me perguntaram. Um litro de leite crú que entra na fábrica para transformar dá um litro de leite UHT ou pasteurizado ou aproximadamente 1 kg de iogurte; E são precisos 10 litros de leite inteiro para fazer um kg de queijo. Sobra o soro e, se for queijo magro, sobra também a nata. Uma das melhores manteigas do mundo é feita no litoral minhoto a partir da nata retirada ao leite para fazer queijo magro…
#carlosnevesagricultor
Ontem publiquei a foto de uma fuga de água num acessório de rega – para os entendidos, um engate “Bauer” em ferro galvanizado. Quem olhou com atenção percebeu que numa peça de metal que devia ter a cor cinza da galvanização havia pontos de ferrugem e quem tem experiência com estas peças sabe que enferrujam de dentro para fora (onde passa a água) e, portanto, em breve haverá mais fugas e terei de trocar a peça em causa, que deve ter 10 ou 15 anos. É trabalho normal dos primeiros dias de rega. Também é normal nas mangueiras flexíveis aparecerem fugas, ao fim de alguns anos de uso. Em 2017, escrevi um texto sobre isso, então publicado no “Terras do Ave”, que vem a propósito recordar, por ser um problema na ordem do dia.
Faltavam 15 minutos para o final do jogo em que a seleção nacional de futebol deslizou para fora do Campeonato Europeu, quando toneladas de terra deslizaram 100 metros encosta abaixo na famosa aldeia de Sistelo, em Arcos de Valdevez. Ninguém ficou ferido, mas 30 pessoas foram evacuadas por precaução nessa noite (voltando a casa no dia seguinte) e os restantes habitantes da aldeia não ganharam para o susto causado por um barulho que “parecia um comboio”.
Nos primeiros dias de Março, quando as escolas estavam fechadas e os miúdos com ensino à distância, pediram - me uma "visita de estudo" via zoom para uma turma de miúdos de 6 anos. Era para mostrar umas fotos, mas quando vi um vitelo recém - nascido comecei a gravar... Sem guião, sem edição, deu isto: A vida numa quinta de produção de leite, por #carlosnevesagricultor (com a participação especial do aprendiz ):
Para ver vídeo (9 minutos) clicar aqui: https://youtu.be/TbKNudg0L6g