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O Rui Santos publicou esta foto num grupo de agricultura, apenas com a legenda “Trabalho finalizado”. O Bruno, da Trofa, disse que eram as “famosas cachopas”, mas na terra do Rui, em Vouzela, chamam-lhes “meninas” ou “bonecas”, nome também apontado pelo meu homónimo Carlos Neves, de Angeja. Em Vila Verde chamam-lhes “viúvas”. Para o Filipe Azevedo, são “cadouços". Na terra do Carlos Pinto são “cachouxos”. Eu disse que aqui em Vila do Conde chamávamos "coucos" e alguém da Póvoa de Varzim disse o mesmo, olha a coincidência :) . Na terra do Edgar são “macacos”. No Ribatejo nunca viram. Na terra do Marco Costa são “camouchos”...
E eu achei fantástica toda esta viagem por nomes e terras, e pensei que só faltava explicar o que é isto, para quem não soubesse, mas o Borges Silva antecipou-se: “O meu pai ensinou-me a fazer “cachopas” . Fiz tantas, depois ficavam a secar, eram carregadas no reboque do trator, descarregadas na eira, malhava-se para tirar a semente e depois punha-se em volta dum poste da luz em cimento, a que dávamos o nome de “medas” ou “moreas” de palha, com 4 metros de largo por 8 de altura, ficava em forma de cone, no final cobria-se com um bocado de plástico, atávamos uma corda em volta do poste, apanhando o plástico e mesmo no fim púnhamos um pneu por cima do plástico para o vento nao levantar o plástico nem a chuva entrar e estragar a palha. Era o modo de armazenar palha para os animais. Depois, quando era para dar palha aos animais, “ripávamos” a palha por baixo ... velhos tempos!”.
Acrescento só se se colhe o azevém ou outra erva quando já está maduro, mas antes de cair a semente. Depois fica a secar uns dias no campo, atada e levantada desta forma, até ir malhar para a eira, como explicado.
Também fiz isto pelo menos uma vez. Depois, como havia pouca mão de obra, durante alguns anos o meu pai improvisava: apanhava o azevém com o “reboque forrageiro” / “apanhador da erva”, levava para a eira e calcava com o trator. Atualmente, alguns vizinhos que ainda recolhem a própria semente de erva passaram a usar pequenas “ceifeiras-debulhadoras” que simplificam o trabalho… Mas depois é preciso ainda secar a semente, limpar, guardar e não fica com a mesma perfeição das sementes que compramos às empresas especializadas. É sobretudo um trabalho suplementar para o qual muitos de nós não tem tempo, porque hoje cada um de nós, com menos gente, além de ter mais animais, cultiva as terras que na geração anterior eram cultivadas por várias famílias. Por isso compramos a semente da erva para o Outono.
Recolher as próprias sementes, para autoconsumo, ou comprar sementes certificadas e que resultam do trabalho de investigação e seleção de agrónomos são opções diferentes para realidades diferentes. As duas são válidas. Portanto, quem quiser, compre sementes, quem não quiser comprar, faça cachopas! :) , bem feitas como as do Rui Santos 😀, ou o que lhe quiserem chamar, aceito mais sugestões de nomes que não estejam na lista😀
#carlosnevesagricultor
Foto de Rui Santos
O meu filho mais velho, o Pedro, perguntou-me se algum dia eu pensei ter uma profissão diferente de agricultor. Antes de responder, quero contar a história do meu tio Joaquim, já falecido. Na infância, ele dedicava-se mais às brincadeiras do que aos estudos. Um dia, a minha avó Esperança, sua mãe, avisada pelo professor de um possível “chumbo”, chamou-o junto do estábulo, e disse-lhe: “Ali estão as vacas, acolá tens os livros; agora escolhe!...” Ele escolheu os livros, a partir desse dia estudou a sério, emigrou para o Brasil onde já tinha família e licenciou-se em direito e contabilidade.
Entretanto, já não podemos escolher entre os livros e a agricultura. Temos sempre de escolher “os livros” antes de escolher o resto. Temos ensino obrigatório até ao 12º ano, mas podemos optar pelas escolas profissionais com cursos agrícolas. Quem tiver gosto e oportunidade de continuar os estudos tem os cursos superiores de agricultura, produção animal, florestal ou pode fazer outro curso do seu gosto e dedicar-se à agricultura a tempo inteiro ou parcial.
Antigamente, mandava-se os filhos estudar para saírem da lavoura. Umas vezes por uma visão negativa do setor, sem perspetiva de melhorar, outras vezes por uma questão prática: se dividissem a terra por todos os filhos dariam uma pequena parcela a cada um. Assim, seguindo a “lei do morgadio”, comum aqui no Douro Litoral, o filho mais velho ficava com a “casa de lavoura”, as irmãs que pudessem casavam para outras “casas agrícolas”, as solteiras ficavam sob a proteção do irmão ou iam para freiras e os irmãos iam para padres, para o exército, emigravam para o Brasil ou estudavam.
Curiosamente, assisti e vivi na pele o fenómeno oposto. Agricultores com imagem positiva da agricultura, com empresas dinâmicas, que tinham medo de que os filhos abandonassem a agricultura se fossem estudar. Isso significava ficar sem continuadores da casa agrícola. Eu não fui proibido de estudar pelos meus pais, mas nunca fui incentivado a tirar um curso superior. Fui encaminhado para uma escola profissional agrícola com a ideia de me instalar rapidamente na agricultura após a maioridade, porque os meus pais já tinham uma idade avançada. Já na escola agrícola, assisti ao esforço dos professores para que alguns colegas pudessem fazer o segundo curso, com equivalência ao 12º ano (dos 21 alunos que terminaram o 9º ano só metade continuou) e foi lá também que um professor nos incentivou a seguir um curso superior, com um exemplo muito prático: “mesmo que uma pessoa vá trabalhar como cantoneiro, se tiver estudos chega mais depressa a chefe dos cantoneiros!”
Após terminar os estudos secundários na escola agrícola, alguns problemas de saúde fizeram-me perceber que andar a cavar todo o dia não seria o mais indicado para mim. Não equacionei outra profissão, mas apontei como objetivo dedicar 60% do meu tempo à agricultura e o restante a outras atividades de menor esforço físico em que me envolvi, como o associativismo, a formação e a comunicação. Só voltei aos estudos oito anos depois de sair da escola agrícola, para fazer uma licenciatura em ciências sociais na Universidade Aberta, uma universidade pública de ensino à distância que me permitiu compatibilizar os estudos com o trabalho na agricultura e a vida associativa nos grupos de jovens da Igreja (com a ACR) e dos jovens agricultores (com a AJAP).
Não desejo que alguém vá estudar sem gosto. Não é obrigatório ter um curso superior para ter um bom rendimento, uma vida digna e ser respeitado. Por outro lado, espero que cada vez menos jovens sejam impedidos de continuar os estudos, por questões económicas ou de mentalidades, quando tiverem vocação e capacidade para isso. E aqueles que deixaram os estudos, que voltem, se tiverem vontade e oportunidade. Há exemplos fantásticos de quem aprendeu a ler ou se licenciou na idade adulta, na terceira ou quarta idade. Aprende-se até morrer e morre-se sem saber tudo.
#carlosnevesagricultor
Em fim de semana marcado pelo rali de Portugal, aqui estou a partilhar informação útil, ou, pelo menos, divertida😀. Claro que há Ralis de tratores😊! Na agricultura temos de tudo, como na farmácia😅.
1. Campeonato de motolavoura
Eu teria 8 ou 9 anos quando acompanhei o meu pai ao campeonato nacional de motolavoura. Não me recordo onde foi, talvez terras do estado, em Vairão ou Paços de Ferreira… as fotos e vídeos super oito que tenho são de pouca qualidade. Recordo-me de ver alguns tratores em alta velocidade a "sacar piões" ao dar as voltas na cabeceira do campo… e um trator David Brown, a lavrar em marcha lenta, muito lenta. Ganhou. Era um concurso de perfeição do serviço e não de velocidade 😉.
Ver aqui o campeonato mundial : https://youtu.be/PnB_dEGS4lo
2.Gincanas de tratores
Muito populares entre os agricultores. Exige - se velocidade e perícia para conduzir o trator com reboque num percurso de obstáculos. A Gincana mais famosa tem sido a da agrosemana. Pode ver aqui alguns dos melhores momentos de uma das edições:
https://www.youtube.com/watch?v=PFGXZS7J2rQ
3. Rali de tratores
Muito populares entre os agricultores nos países de leste. Pode ver aqui um exemplo, na Rússia:
https://www.youtube.com/watch?v=OafII8gikw0
#carlosnevesagricultor
(imagens de 2017 a 2020)
O Jornal da Notícias de 17 de maio de 2021 trazia a acusação de que a “Exploração pecuária polui mais de 30% dos rios e albufeiras” apontando “Metade da área de Portugal Continental com excesso de azoto animal por causa dos efluentes”.
Passada a fase da colheita da erva, das lavouras e da sementeira do milho, o silêncio reina sobre os campos e sobre as redes sociais de quem terminou as sementeiras. Quem ainda não terminou também fez uma pausa por causa da chuva dos últimos dias. Para quem já semeou, está o trabalho todo feito? Vejamos alguns exemplos:
(resultado de 2020)
Sábado, 8 de maio de 2021:
- Ó Luís, vamos semear flores para as abelhas?
- Ó pai, mas nós não temos abelhas!
- Pois… :)
Bem, não não temos colmeias de abelhas, mas “temos” direito à visita de abelhas, borboletas e outros insetos que, pulando de flor em flor e da parte masculina para a feminina das flores, transportam nas patinhas o pólen, ajudando assim a polinização, isto é, à fecundação das flores e reprodução das plantas. Em termos práticos isto significa mais flores, mais insectos, mais biodiversidade e melhor produção de
milho, legumes ou frutas.
Tal como no ano passado, semeámos uma mistura de várias leguminosas, desenvolvida pela Fertiprado para a operation pollinator, promovida pela Syngenta. Coentros, colza, sanfeno, trevos, ervilha e tremocilha.
Faz sentido usar uma berma em declive ou junto a um curso de água, o canto improdutivo de um terreno com pivô (sendo um círculo regado, os cantos ficam livres), outros locais difíceis de trabalhar com as máquinas, a entrelinha das culturas permanentes como vinhas e árvores de fruto.Faz sentido deixar algumas silvas e outras plantas silvestres ou árvores nas bordaduras dos terrenos.
Para receber as ajudas da atual PAC, 5% dos meus terrenos (e de todos os agricultores que cultivam mais de 15 hectares) estão com uma cultura diferente, no caso uma leguminosa, luzerna. Assunto a desenvolver num próximo texto.
Praticar agricultura moderna, de precisão, baseada na investigação e na ciência, para a máxima eficiência de recursos utilizados, será a única forma de alimentar todos os que vivem e os que vão nascer, de uma forma económica e socialmente sustentável. Dar atenção a pequenos/grandes detalhes e estar aberto ao que a ciência nos vai ensinando sobre a biodiversidade e a conservação é uma forma de cultivar de forma ambientalmente sustentável e duradoura. Saibam mais sobre este tema pesquisando sobre “Operação pollinator” e seguindo as publicações do agricultor João Coimbra, no blog “Milho Amarelo”.
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