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legenda: Campo de produção de milho semente; fonte da imagem: Agrolink - produção de sementes de milho
legenda: Esquema de produção de milho híbrido; fonte da imagem: Agrolink - produção de sementes de milho
O tempo de colheita também é para nós, agricultores, tempo de avaliação e projeção da próxima sementeira. Avaliar a escolha das sementes, a data de sementeira, o semeador, a técnica usada, a fertilização, o "corte de limpeza", os cortes múltiplos ou o "corte único" até à escolha da data de colheita e da técnica utilizada (feno? Silagem? Rolos de fenosilagem?)
Na quinta-feira da semana passada, ao início tarde, ligou-me um colega agricultor:
- O Luís não está aqui contigo?
- Não, deve estar ali com as novilhas…
- Disseste-lhe para dar erva?
- Não, porquê?
- Queres ver a gravação? (vou meter em alta velocidade que isto demorava uns minutos :) )
...
PS - Cada ser humano é único e irrepetível. Cada criança é ainda mais especial. Gosto muito da frase que um dia ouvi: “Cada vez que Deus faz uma pessoa, no final parte a forma”. Mas, dito isto, quero dizer que, na sua espontaneidade, o Luís não é diferente dos outros meninos e meninas que crescem em quintas, fazendas ou granjas, por esse mundo fora, a criar vacas, cabras ovelhas, porcos, coelhos ou galinhas, a plantar hortícolas ou a colher frutos e que nestes dias de pandemia e confinamento passaram ainda mais tempo em casa. Não mostro aqui os seus “melhores momentos” (pois também tem o seu “lado lunar”, como a canção do Rui Veloso) por vaidade, por ser melhor ou diferente. Apenas para lembrar que na agricultura somos essencialmente famílias a cultivar a terra e a criar animais para vos(nos) alimentar. Tanto em pequena como grande escala, nas "micro-granjas" ou nas vacarias com centenas de vacas, 99% da nossa comida é produzida por empresas/quintas familiares. Por pais que sonham que os filhos continuem a sua atividade e se preocupam em conservar, aumentar e deixar uma terra mais fértil. Por filhos que respeitam o legado dos pais idosos e contam ainda muitas vezes com a sua presença, o seu conselho e a sua ajuda. Um dia próximo vou também escrever sobre os mais velhos. Por agora, votos de um bom domingo, em família, nem que seja em contacto remoto com a família! Mantenham-se em contacto! Abraço!
#carlosnevesagricultor
Link do vídeo: https://youtu.be/gIkYc_PBTvA
O meu colega Gareth Wyn Jones , agricultor e Blogger do País de Gales, Reino Unido, partilhou uma publicação da Liam's Chicken Farm (A Quinta de galinhas do Liam):
“Olá, eu sou o Liam, tenho 10 anos e administro a minha própria granja em Cross Hands. Comecei há dois anos com 6 galinhas e no momento tenho pouco mais de 35 galinhas. Vendo ovos frescos na minha 'pequena' loja de fazenda (atrás da cerca viva) na Estrada Pontardulais (no beco sem saída) em Cross Hands.
Pronto para desfrutar de ovos frescos da fazenda? As galinhas ficam fora o dia todo e têm acesso a uma área arborizada. Espero vê-lo em breve! Diolch Liam”
Nada mais sei sobre o Liam, além deste texto e 3 ou 4 fotos que publicou na sua página, mas posso imaginar que tenha apoio dos pais neste seu pequeno negócio. Lá não devem conhecer o ditado “gado de bico nunca fez ninguém rico” (exceto se forem milhares de bicos😀…). Deve ter bons EXEMPLOS.
Em Portugal também temos bons exemplos, mas os maus exemplos têm mais atenção. Por exemplo, gostamos de enriquecer depressa e sem trabalho. Têm vindo a público histórias de youtubers que são seguidos por milhares de miúdos e ganham dinheiro à custa deles para comprar carros de luxo enquanto “alegadamente” “ensinam” a ganhar dinheiro sem trabalhar, investindo em criptomoedas e coisas parecidas. Gente nova no velho esquema da pirâmide, em que os primeiros espertos ganham dinheiro enquanto conseguem enganar os palermas seguintes.
Na agricultura, há dezenas de anos, também tivemos um esquema da pirâmidade, com minhocas para compostagem. Criavam-se minhocas para vender a outros que esperavam ganhar dinheiro a vender minhocas… os primeiros tiveram o lucro, os últimos o prejuízo. Tivemos ainda um ex-primeiro-ministro sob suspeita numa série de negócios. Pode escapar à prisão por falta de provas mas não consegue explicar-nos como levou uma vida de luxo com base numa herança da mãe e nos dinheiros de um amigo. Parece que venceu mas entrou num beco sem saída: ou assumia que era corrupto como o acusam ou desculpava-se dizendo que é um gastador irresponsável e incompetentente que não serve para governar.
Haverá sempre gente a tentar viver de esquemas, a enganar os outros e a si próprios, mas quem faz avançar o mundo e quem o alimenta são os miúdos e as suas famílias que criam galinhas, vacas, ovelhas, que cultivam, que ajudam os pais, é a gente que trabalha no duro todo o ano, que é capaz de entrar pela noite dentro para colher a erva antes que venha a chuva estragar, mesmo a vender barato, a ganhar pouco e às vezes a perder dinheiro porque há outros mais “espertos” que se aproveitam pelo caminho do prado ao prato.
#carlosnevesagricultor
"-Já é Páscoa???” - perguntou (gritou!) o Luís à mãe quando chegou do colégio e me viu a cortar a erva aqui na Arroteia de Cima, o campo onde está a vacaria e todo o “assento de lavoura”. Há alguns meses alguém lhe deve ter dito que só haveria silagem de erva ou feno por altura da Páscoa e ele leva estas coisas muito a sério, tal como as máquinas ou reboques que cada trator pode engatar. Por isso, a seguir essa cena que perdi, tive direito ao interrogatório que já partilhei há tempos enquanto cortava o resto da erva na sua companhia.
Tenho uma vaga memória da primeira charrua que o meu pai comprou para o trator Ford Super Dexta 45, mas sei que lavrou muitos hectares de Vila do Conde nesses primeiros anos a partir de 1963, quando havia poucos tratores. Recordo-me que era uma charrua azul e foi trocada por outra laranja, da marca “Curval”, no início da década de 80, após a chegada do Massey Ferguson 265. Era uma charrua feita aqui na Junqueira, em Vila do Conde, com uma inovação exposta na feira de Braga - uma “mola” que funcionava como fusível para não empenar a charrua quando encontrava alguma pedra. Era uma charrua “2 ferros / 12 polegadas”. A largura de trabalho das charruas mede-se sempre em polegadas, não sei porquê. Mais tarde, na “Metalúrgica Arvorense”, essa charrua foi aumentada para 14 polegadas e levou aivecas “Galucho” (A aiveca é aquela parte brilhante que vira a terra).