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Presente com sabor especial

por Carlos Neves, em 27.12.20

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Entre os vários presentes e lembranças que recebi neste natal, quero partilhar aqui (lamento, só posso partilhar a imagem, não dá para partilhar uma fatia 😊) uma dupla surpresa, este queijo que me ofereceram. Surpresa pela oferta e pelo queijo em si. Não sou especialista de queijos e, portanto, não vou estar com muito detalhes descritivos, mas este queijo tem uma forma de prato achatado, “esborrachado”, mas sem rachas, devido a ser amanteigado. Lembra vagamente o queijo camembert. Sabe (soube😊, a toda a família) muito bem. Já acabou.
É um queijo da ilha do Pico, onde a produção de leite atravessou muitas dificuldades há alguns anos, com os produtores a passarem meses sem receber devido a uma cooperativa que terá falido. É um queijo diferente de uma ilha diferente, numa embalagem de aspeto original e instrutiva, que me ensinou o que são os mistérios da ilha do Pico (se não conseguirem ler a explicação na imagem terão de comprar o queijo 😊).
Nunca estive na ilha do Pico. Em junho de 2003, com a minha esposa, nas nossas primeiras férias, tivemos viagem marcada para o Pico a partir do Faial, depois de passar 3 dias em S. Miguel, mas, estando eu constipado e com febre, ficámos pelo Peter’s café na Baia da Horta e pelos restantes encantos da Ilha do Faial.
Este queijo é um excelente exemplo do que pode ser um futuro melhor para a produção de leite nos Açores e em Portugal continental: produzir diferente, com valor acrescentado; produzir mais queijo para substituir o queijo importado e para que sobre menos leite nos Açores que depois é oferecido, despejado e desvalorizado em promoções a 39 cêntimos nos supermercados de Portugal continental, o que é muito mau para todo o setor leiteiro.
#carlosnevesagricultor

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publicado às 07:04

Agricultura - Feliz Natal!

por Carlos Neves, em 25.12.20

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(texto publicado no "mundo rural" de dezembro)

Vamos lá tentar ver as coisas pelo lado positivo: se está a ler este texto, é porque sobreviveu a 2020, talvez o ano mais difícil da história recente do mundo ocidental.
Escrevo nos últimos dias de Outubro, quando batemos recordes diários de casos positivos de Covid-19. Não sei como vai evoluir até ao final do ano e em 2021.Continuo a pensar que não vai correr tudo bem nem vai ficar tudo mal. Vai correr mais ou menos, mais duro para uns, mais leve para outros.
A agricultura não parou. As vacas continuaram a arrotar metano ao digerir a erva, mas a poluição baixou. Não faltou comida na mesa, nem no supermercado, nem na horta de um amigo.
Na Europa, foi aprovada mais uma reforma da PAC, que os ministros da agricultura e o parlamento europeu dizem ser mais verde, mais ecológica, apesar da opinião contrária dos ambientalistas que queriam mais dinheiro para os seus ideais e projetos.
Entretanto, o Presidente da República disse que teremos de repensar o natal. Não podemos ter 50 ou 100 pessoas à mesa. Anda por aí muita gente indignada, mas acho que é fácil perceber a recomendação de celebrar o natal com o núcleo familiar mais restrito para não agravar o risco de propagar a doença. Vai doer a ausência. Mas também dói a doença, dói mais e pode ser irreversível. Quando isto passar, a correr bem, com vacinas a funcionar, já poderemos celebrar com normalidade o natal de 2021, as outras festas e as feiras agrícolas.
Mantenham a distância física, mas aproximem se das pessoas pelos meios de comunicação à distância. Telefonem, mandem e-mail, escrevam, façam vídeo chamadas, reuniões de zoom, etc, etc. Mantenham sentido crítico sobre o que se publica nas redes sociais. Há muita gente que gosta de criticar por criticar, de “incendiar” para ver arder e espalhar boatos ou coisas agradáveis aos ouvidos de quem está revoltado mas que podem enganar muito e fazer mal. Escolham bem se confiam no vosso medico de família, no diretor do hospital da vossa zona, nos médicos que estão na urgências de covid e não-covid ou numa pessoa que vos apareceu no Facebook, no Youtube ou no whatsapp. De vez em quando, desliguem das redes sociais. Cuidem da saúde física e da saúde mental. Fiquem bem, passem um bom natal com produtos agrícolas nacionais. Ofereçam, comam bem, bebam bem (pouco e bom), e mimem-se. Santo Natal! E um ano novo melhor!

#carlosnevesagricultor 

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publicado às 06:55

A história por trás de um filme de Natal

por Carlos Neves, em 24.12.20

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Estávamos a 30 de novembro e no grupo “Leite é Vida” a Marisa Costa lutava para fazer um vídeo de Natal, com testemunhos de vários agricultores e produtores de leite a desejar boas festas, tal como fizemos no início da pandemia desejar cuidado e saúde. O ano passado foi mais fácil para nós, pois o António, a Vânia, a Theresa e a restante família Campos trataram de tudo.
Desta vez, como de costume, o Sérgio Moninhas respondeu imediatamente ao desafio de mandar um vídeo, a Manuela Dias Pimenta também, mas os restantes convidados demoravam a reagir. Foi aí que, meio a sério meio a brincar, eu sugeri fazermos um vídeo a cantar, inspirado por exemplos americanos e espanhóis, apesar de não serem vídeos de Natal. Se eles conseguem, porque não havemos de conseguir? O ano passado, para o encerramento do colóquio nacional do leite, também descobrimos que o Manuel Maia é agricultor / veterinário / organista quando aceitou tocar o "Shalow" da Lady Gaga e Bradley Cooper. De certeza, insisti, haverá por aí agricultores que cantam no coro da igreja, no rancho folclórico ou em algum grupo musical, para além dos que simplesmente gostam de cantar, como eu. A Marisa continuava a torcer o nariz, mas a Ana apoiou a ideia e sugeriu convidar o Rui Nova para ajudar.
Bati à porta certa no dia seguinte. Bastou um telefonema para a minha prima Lurdes e a "família Penas" mostrar que podia ser a Kelly family portuguesa. A Lurdes sabe cantar e tem boa voz, o marido Manuel toca acordeão, a filha Isabel, para além do curso de medicina, toca órgão e viola, o irmão Álvaro tem uma voz linda que canta e encanta no salmo na missa, a esposa Florinda e os filhos Nuno e Pedro ajudaram no coro e as vacas fizeram o cenário para a sequência base do nosso filme. Pedi de manhã, filmaram á tarde e no dia seguinte tinha no mail o vídeo e o instrumental.
Depois foi "só" passar umas horas ao telefone, eu, a Marisa e o Sérgio, a ligar, convidar, mandar mensagens, "atirar o barro à parede ", pedindo para gravar com o telemóvel na horizontal e com o mesmo ritmo do primeiro vídeo. Para cantar, se tivessem coragem, ou pelo menos dizer umas breves palavras. Pouco a pouco, com falhas de comunicação pelo meio, surgiram as “peças do puzzle”, vindas de produtores de todo o pais, veterinários, podólogos de bovinos, mecânicos, técnicos de refrigeração do leite... Depois a equipa Norte Litoral TV fez em tempo recorde o milagre da montagem e edição, a parecer que cantamos todos bem. 13 de Dezembro, domingo à noite mandaram-nos a primeira versão, sugerimos pequenos acertos, o "grupo leite é vida" deu ok com nota máxima e pela meia noite o vídeo ficou online no YouTube e agendado para publicar no Facebook na manhã do dia seguinte, com um comunicado pronto a ser divulgado pela Nélia Silva da Comunicland.
Tudo parecia correr bem, reações positivas, quando o Eduardo Soares manda uma mensagem: "Então e o vídeo do meu irmão?" Referia-se ao irmão gémeo Filipe Soares. Só ao fim de vários anos aprendi a distingui-los, é mais fácil pela voz, mas não a cantar em família… Bem, fiquei espantado... Eu de facto estranhei o Eduardo ter mandado três vídeos e num deles só havia uma criança, mas era escuro e pensei que tivesse mandado um filme de ensaio por engano… O cenário era diferente do que ele me tinha prometido ( o viteleiro) mas ele tinha dito que o irmão não podia filmar… quando o vídeo chegou, eram quase 10h da noite, espreitei à pressa no telemóvel e encaminhei os vídeos que tinham vitelos para o Rui Nova, pois já passava da hora combinada. Não me passou pela cabeça que tivessem feito um esforço imprevisto para a família do Filipe também filmar e não olhei para o rosto das esposas e dos miúdos, que são diferentes… bem, já apresentei as desculpas, já nos rimos com isto e considerem, portanto, que está a toda a família Soares representada, bem como todo o setor leiteiro, pois era esse o nosso objetivo. Portanto, com mais ou menos imprevistos, desejo “A todos um bom natal, que seja um bom natal para todos nós! “
#carlosnevesagricultor
#natal
#boasfestas

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publicado às 08:03

Palha de Natal

por Carlos Neves, em 23.12.20

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O calendário Agros deste dezembro lembra-nos que a palha não serve apenas para fazer a cama do Menino Jesus no presépio. Também a usamos para garantir o bem-estar na cama dos vitelos, nas primeiras semanas de vida. Aliás, no presépio, que significa manjedoura, representamos o nascimento de Jesus num humilde abrigo de animais.
Dei comigo a pensar: Quem diria! A palha, quase sem valor, acabou por ter uma função tão importante. Mais tarde, Jesus perguntou (Mt 21, 42): «Vocês nunca leram isto nas escrituras? "A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se pedra angular" (Salmos, 118, 22).

Ou, na versão mais recente de Mafalda Veiga,

“Geme o restolho, a transpirar de chuva
Nos campos que a ceifeira mutilou
Dormindo em velhos sonhos que sonhou
Na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
Semear no pó e voltar a colher
Há que ser trigo, depois ser restolho
Há que penar para aprender a viver”

Penso que vem a propósito distinguir palha de feno. Feno é erva seca, cortada inteira ainda verde, com espiga, cortada na Primavera ou Verão antes da espiga estar madura e depois seca ao sol. Geralmente fazemos feno de azevém ou outra gramínea semelhante, às vezes com trevos à mistura. A melhor variedade para fenar, por secar mais rápido, é o tradicional azevém galego, embora seja menos produtivo e nutritivo que as modernas variedades de azevém. Por outro lado, o feno bravio dos lameiros de Trás-os-Montes tem um cheiro especial, a aromáticas selvagens...
Palha é o que sobra da planta colhida já seca, depois de tirarmos a espiga. Podemos ter palha de milho (que antigamente servia para fazer cabaneiros que abrigavam máquinas, animais e depois ainda dava para comer, enganando a fome às vacas) e palha de arroz, mas a palha mais comum, que vemos a circular na estrada em camiões com grandes fardos, é palha de trigo ou cevada. Enquanto o feno tem valor nutritivo, pois é rico em proteínas, a palha não tem valor alimentar, mas é uma importante fonte de fibra, fundamental para o bom funcionamento do rúmen das vacas, em conjunto com produtos que alimentam mas tem pouca fibra, como é o caso da silagem de milho, da erva fresca e da ração. Por falar em erva, era costume os lavadores darem uma refeição reforçada de erva na noite de natal, conta o meu pai que havia até a disputa sobre quem levava para casa o maior carro de erva. No fundo, ainda temos esse gosto de saber que os animais que criamos também tem direito à sua "ceia de natal".
Por falar em Natal, uma das memórias que tenho da infância na "Casa de Quintão" onde vivi até aos 6 anos, era colocar palha no chão da cozinha na noite da consoada, para brincarmos todos. Era um costume aqui de Árvore, mais comum no vizinho lugar da Areia. Ainda fizemos pelo menos uma vez na nova casa, mas depois o costume perdeu-se. Aposto que os miúdos iam adorar a experiência, mas acho que a minha esposa não vai apoiar o regresso desta tradição. 😂😂
Boas Festas, divirtam-se!
#carlosnevesagricultor
#palha
#feno

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publicado às 10:56

Imagens do nosso Natal

por Carlos Neves, em 22.12.20

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Em boa hora a Marisa Costa organizou o passatempo de Natal na página “Leite é vida”. Foi uma forma de manter a distância física por causa da Covid19 e aproveitar esta autoestrada de comunicação que é esta rede social.

Estão de parabéns todos os que responderam ao desafio de enviar imagens de Natal relacionadas com a produção e consumo de lácteos. Estão de parabéns pelas mensagens inseridas nas publicações, pela criatividade demonstrada, qualidade dos cenários, a pose de alguns jovens modelos e a votação expressiva. Agora que o concurso já terminou, sem risco de influenciar resultados, quero apontar 3 imagens que me encantaram:
A primeira a destacar é a foto vencedora, do Gonçalo Pereira. Aquele olhar feliz do Gonçalo na paisagem verde com cenário a condizer, lembrou-me uma palestra que fiz há cerca de 4 anos na Escola C+S da Ribeirinha, Macieira, Vila do Conde. Eu fui convidado para falar sobre agricultura aos miúdos do 9º ano, no âmbito da orientação profissional e dessa reunião recordo-me de ver, ao fundo, no centro da sala, o mesmo brilho no olhar enquanto eu falava. É natural ter reparado nele porque o conhecia, pois fui colega do seu pai na Escola Agrícola e na vida associativa e cooperativa, mas aquele olhar dizia o mesmo que dizem as imagens e filmes que vai partilhando do seu trabalho nos campos e na vacaria, no tempo livre do curso agrícola que já frequenta na Universidade. Vê-se que é feliz na agricultura.
Para ser feliz também é preciso ter sentido de humor, arriscar fazer certas “cenas” e não se levar demasiado a sério. É tudo isso que eu vejo numa foto do pai Natal com um vitelo ao colo (também vestido de vermelho) e um copo de leite na mão. Desta vez o Filipe Carneiro não ganhou, mas está de parabéns pelos sorrisos e gargalhadas que nos proporcionou!
Deixo para o fim a referência ao presépio mais original, surpreendente e ternurento que vi este ano. Dois pequeninos no papel de José e Maria, dois olhares deliciosos, um cachorrinho ao colo de Maria como o menino jesus, dois vitelos deitados na palha como o burro e a vaca do presépio e tudo isto à frente de uma verdadeira manjedoura atual com as vacas em cenário. O nosso cenário. Recordo que presépio quer dizer manjedoura, de alguma vaca ou boi, que representam a mansidão. E que o Papa Francisco, na carta apostólica sobre o presépio, disse que estava muito bem colocarmos toda a nossa vida no presépio. Está de parabéns a família do Cláudio Lourenço que representa aqui todas as que participaram e todas as que "dão o litro" neste setor.

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publicado às 11:07

Vacinas - história, opinião e experiência

por Carlos Neves, em 18.12.20

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Com as vacinas para o novo Coronavírus quase a chegar, vieram também as velhas dúvidas. Fui buscar um texto meu de 2018, na altura por causa do regresso do Sarampo devido á recusa da vacina, fiz uns recortes para não vos maçar, acrescentei alguns tópicos de reflexão e ficou assim:

“Vacina” é uma palavra com origem no latim “vacca”. Reproduzo a partir do site “Origem das coisas”: “Na Europa no século XVIII havia uma quantidade de doenças, sendo a pior delas a varíola. (…) Poucas pessoas conseguiam ultrapassar a juventude sem contrair varíola e a taxa de mortalidade situava-se entre os 10 e 40%, o que fazia dela a doença transmissível mais temida no mundo.
Nessa época, Lady Mary Montagu, que era a mulher do embaixador inglês em Istambul, reparou que a varíola podia ser evitada através da introdução na pele de indivíduos sãos o líquido extraído de uma crosta de varíola de um indivíduo infetado. Isto provocava a doença mas de forma muito menos agressiva para o organismo. Pensa-se que este método, conhecido por “variolação”, terá tido origem na China. O método foi trazido para a Europa Ocidental e, apesar de ter provocado vários casos de morte por varíola, foi ainda largamente utilizado em Inglaterra e nos EUA até virem a público as investigações do médico inglês Edward Jenner, publicadas em 1796, que se podem considerar como as bases científicas da vacinação.
Jenner tinha decidido investigar uma crença muito popular entre os camponeses, e que era a de que os trabalhadores rurais que lidavam muito diretamente com vacas doentes com a varíola das vacas, conhecida como “cowpox”, e que desenvolviam pústulas semelhantes às dos animais, (uma condição benigna conhecida por “vaccinia”, do latim “vacca”), não eram contagiados com a varíola humana.
Com base nessa investigação, Jenner inoculou um rapaz de 8 anos saudável, que nunca tinha tido nem varíola nem “vaccinia”, com pús de “cowpox”. A criança rapidamente desenvolveu sintomas benignos de “vaccinia” e, mais tarde, foi inoculado com o vírus da varíola humana mas não desenvolveu a doença.
Em resultado da conclusão desta experiência, o vírus causador da “cowpox” passou a substituir o vírus da varíola na técnica de variolação, com a enorme vantagem de causar uma mortalidade muito inferior à deste último (…)”
Alguns pontos de minha reflexão:
1. O processo inicial de vacinação causou vítimas. Depois foi investigado e desenvolvido para ser cada vez mais seguro e isento de efeitos secundários, mas risco zero não existe. Sabemos que usar o cinto de segurança ou ter airbag protege em 99% dos casos e provavelmente prejudica em 1% das vezes, mas não deixamos de usar o cinto por causa disso. Penso que devemos abordar as vacinas da mesma maneira.
2. Apesar dos erros que se cometeram e possam cometer, manifesto a minha confiança na investigação científica e nas medicinas veterinária e humana, cujo saber ensinado nas universidades e praticado nos hospitais é um saber acumulado ao longo de séculos, devidamente registado nos livros (agora computadores) e avaliado pelos cientistas ao longo do tempo. É desse trabalho minucioso de milhares de estudos e investigadores, passando por avaliações e testes de segurança, que se chega às vacinas, antibióticos ou outros medicamentos disponíveis.
3. As vacinas que chegam agora ao mercado são estudadas, produzidas, analisadas e autorizadas pelas mesmas pessoas, empresas e organizações que produzem e analisam as outras vacinas e medicamentos que utilizamos. São recomendadas e administradas pelos médicos e enfermeiros que nos tratam nos hospitais, clínicas e centros de saúde em todas as outras doenças. Se confiamos neles nos outros assuntos, porque havíamos de desconfiar agora?
4. Também os meus animais são regularmente vacinados de acordo com a indicação dos médicos veterinários (inclusive contra o velho coronavírus bovino, que não se transmite aos humanos). Com a sua vacinação evito mortes, sofrimento, prejuízos e reduzo substancialmente o uso de antibióticos para tratamentos.
5. Acho sintomático que muitas pessoas que defendiam ser preciso viver com o risco do vírus e não se preocupavam com as sequelas a longo prazo da doença estejam agora preocupadas com o risco da vacina e os seus efeitos a longo prazo.

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publicado às 12:30

Porque é que as nossas vacas não estão em pastagem?

por Carlos Neves, em 10.12.20

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Escrevo depois de uma semana de chuva e com mais chuva prevista nos próximos 10 dias. Não posso ir ao campo buscar erva para as novilhas, dou graças a Deus por ter comida armazenada para todos os animais e tenho finalmente o tempo e o motivo para explicar porque é que a maior parte das vacas leiteiras em Portugal estão dentro de vacarias.

No mundo da publicidade, as vacas estão sempre num prado verde, limpo e seco. Pois. Nesse mundo ideal da publicidade, as famílias também vivem quase sempre felizes em vivendas com jardim. Mas, na vida real, nem todas as pessoas têm casa. Algumas vivem em barracas (pior que vacarias), outras em casas pobres e a maioria em apartamentos nas cidades. Quase sempre por questões económicas, por não ter dinheiro para uma vivenda. Porque, apesar de tudo, um pequeno apartamento na cidade, a poucos kms de trabalho, escola e hospital tem mais qualidade de vida do que a aldeia dos avós, sobretudo se a escola já não existe e a maternidade fica a duas horas de distância. Eu sei que há imensos artigos nas revistas e no facebook a dizer como é bela a vida no campo, com dois ou três exemplos, mas na vida real as pessoas, vá-se lá saber porquê, moram cada vez mais nas cidades e não obedecem a essas opiniões de "boa imprensa").
A criação das vacas em estábulos permite-nos ser mais eficientes, produzindo mais leite na mesma área, na pouca área que temos disponível, o que significa produzir leite a um preço acessível, competitivo no mercado e que os consumidores podem pagar. Produzindo milho no verão, erva no inverno e armazenando sob a forma de silagem, conseguimos alimentar mais vacas que produzem mais leite. Ou, como é o caso de Portugal há vários anos, produzir o mesmo leite com menos vacas! Produtivismo? Ambição? Não. Realismo. É a vida. Estamos no mercado livre. Quem não acompanhou o ritmo ficou para trás, porque não faturou o suficiente para pagar as contas, comprar um trator, a máquina de ordenha e sustentar a família. Os filhos esqueceram a lavoura e foram procurar trabalho noutro lado.
Guardar as vacas nunca foi novidade aqui no Entre Douro e Minho. As vacas pastavam de dia no campo mas voltavam a casa à noite e lá ficavam no inverno, nas “cortes” do gado, no rés-do-chão da casa de lavoura, fazendo estrume com o mato trazido da bouça e aquecendo a casa com o seu bafo e a fermentação do estrume. Hoje não há camas de mato debaixo da casa do produtor de leite (haverá alguma exceção para confirmar a regra), mas quase sempre há colchões de borracha, às vezes camas de serrim, de areia, colchões de água ou camas de palha. Há um telhado isotérmico, cortinas nas janelas e ventiladores automáticos para os dias de calor. Às vezes, nos dias solarengos de Outono e Inverno, quando há espaço disponível, as vacas têm acesso a um parque próximo da vacaria. Na primavera / verão, quase todo esse espaço é necessário para produzir milho. Mesmo que houvesse área suficiente para pastagem, são poucas as casas de lavoura em forma de “quinta” fechada, com todos os terrenos juntos. Os campos estão longe da vacaria. Levar todas as vacas ao pasto seria impossível, pelo perigo de acidentes e porque sujava as estradas com os excrementos dos animais.
Ordenhar vacas na pastagem, com lama, frio e chuva, é duro. Não admira que, mesmo nos Açores, onde existem condições excecionais para a pastagem e pernoita dos animais no campo, se construam cada vez mais estábulos (parto do princípio que as vacas continuam a poder sair durante o dia para o pasto). É uma questão de conforto do agricultor e dos funcionários, de segurança no trabalho, de trabalhar abrigado, poder tratar mais facilmente os animais que precisam de assistência e obter leite com mais limpeza e segurança alimentar.
Na Alemanha, foi realizado um estudo comparativo entre pastagem e estabulação, “Systemanalyse Milch", pelo centro de pastagens da Baixa saxónia/Bremen, em cooperação com várias universidades. Entre outros aspetos, “tomando a pegada de CO2 como uma medida da eficiência climática da produção de leite, o estudo constatou que, em média, o leite das vacas mantidas exclusivamente no estábulo ou mantidas até seis horas no pasto tem uma pegada de CO2 ligeiramente menor e, portanto, tem uma melhor eficiência climática do que o leite das vacarias com pastagem todo o dia.” Há também uma referência a menores emissões de metano na digestão de silagem e concentrado face à pastagem, porque na pastagem há maior digestão de fibra / celulose e é no processo de fermentação / digestão da celulose que se liberta o metano, o que não é necessariamente mau porque esse metano é composto por parte do carbono que as plantas da pastagem captaram na fotossíntese.
Qualquer que seja o sistema de produção, o leite é um excelente alimento e uma importante fonte de fonte de lípidos, proteínas de alto valor biológico, vitaminas e minerais, com destaque para o cálcio. A composição nutricional dos vários “leites” é muito semelhante. As análises mostram uma ligeira vantagem do “leite de pastagem” ao nível de ácidos gordos insaturados, mas essa diferença deve-se à maior ingestão de erva fresca pelas vacas e não à pastagem em si. Portanto, poderemos considerar no futuro voltar a alimentar regularmente as vacas leiteiras estabuladas com alguma erva fresca e poderemos, em muitos casos, dar algumas horas de pastagem por dia para as vacas leiteiras ou, pelo menos, nos dois meses de descanso da vaca antes do novo parto, isto se a indústria e os consumidores estiverem dispostos a pagar o custo acrescido em área e mão de obra. O atual “leite de pastagem” apesar de significativamente mais caro para o consumidor, não é devidamente pago ao produtor.
#carlosnevesagricultor

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publicado às 12:13

O caminho do presépio até à bouça

por Carlos Neves, em 06.12.20

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No ano seguinte à morte da avó Esperança, meu pai e os irmãos venderam a última bouça que ficara como a “reserva de usufruto” da matriarca da família. Caso alguém não saiba, “bouça” é o nosso regionalismo para dizer floresta. A nossa floresta, quase sempre pequena e parcelada, como os nossos campos. Era a essa bouça que ia com o meu pai buscar o musgo e cortar um verdadeiro “pinheiro bravo” para árvore de Natal. Procurávamos numa zona da bouça onde houvesse muitas árvores e fosse útil fazer uma monda que deixasse espaço para as árvores restantes crescerem fortes e saudáveis. Nesse tempo, pinheiros e eucaliptos cresciam tranquilos e desordenados lado a lado por entre mato e fetos, sem as polémicas florestais do século XXI.
Depois, mantive o presépio, troquei o musgo por papel verde e comprei a árvore artificial que ainda hoje faz companhia ao presépio, que voltou a ter musgo. Sobre isso, podem (re)ler aqui a minha publicação de 15 de dezembro do ano passado (anda tudo adiantando neste 2020😊) (https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=171859227545718&id=109029053828736 ).
Com a venda da bouça, ficámos com uma “casa de lavoura” sem bouças, o que era estranho há 30 anos, mas também deixámos de andar com o coração nas mãos por causa dos incêndios. Ir à bouça cortar e carregar mato é trabalho de que não tenho saudades, mas, como expliquei aos meus filhos enquanto procurávamos musgo na bouça do avô Ribeiro, foi esse mato que serviu para “astrar” a cama dos animais e esse mato, devidamente amassado e misturado com os excrementos dos animais e depois curtido ao longo de meses, deu o estrume que tornou as nossas terras férteis e produtivas (transportado até lá em carros de bois). A bouça dava também a lenha para cozinhar e aquecer a casa dos lavradores e dos outros que, com ou sem autorização do dono, iam lá buscar lenha. A bouça servia, ainda serve para quem as tem e consegue escapar aos incêndios, como reserva ou “mealheiro” para acudir a uma despesa inesperada da família.
Curiosamente, hoje pela manhã o facebook mostrou-me uma imagem da página Farmers Against Misinformation (Agricultores contra a desinformação) com uma imagem que explica que tudo é agricultura: floresta, pecuária e cultivo dos campos. Mesmo a pecuária “sem terra”, por exemplo a criação intensiva de porcos, aves ou coelhos, é baseada na compra de alimentos a outro agricultor que os cultivou nas suas terras. Apesar de tudo isto, há algum tempo atrás, apagaram-me uma publicação sobre leite num grupo do facebook porque o tema do grupo era “agricultura”...
Estamos no inverno, todos preocupados e ocupados a comentar o vírus, mas era agora que devíamos estar a pensar e comentar como integrar a floresta de forma moderna num ciclo de equilíbrio com o cultivo dos campos e a criação de animais. Era agora que devíamos preparar a defesa da floresta para os incêndios do próximo ano, para continuarmos a ter tudo de bom que ela nos dá, incluindo o musgo e o serrim para o presépio cá de casa!

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publicado às 23:42

A “bimby” das vacas

por Carlos Neves, em 05.12.20

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Quando recebo visitantes na minha vacaria, costumo apresentar-lhe um estranho reboque amarelo que costuma estar acoplado ao trator e parado próximo das vacas como “a minha bimby” 😊. Para ser exato, tenho de reconhecer que os reboques misturadores que temos nas vacarias portuguesas, mais conhecidos como “unifeeds”, não são ainda os “robots” ou sistemas automáticos de alimentar vacas que já existem noutros países, mas andam perto. São a segunda máquina mais importante, a seguir ao sistema de ordenha.

Até há 40 anos, as vacas eram alimentadas com erva ou silagem de milho carregados à mão (com gancho e forquilha) para o reboque ou caixa de carga e às vezes levados em cestas para alguns corredores estreitos dos velhos estábulos. Em pequenas vacarias, esse trabalho duro ainda subsiste, mas ao longo destas 4 décadas fomos aliviando essa tarefa, primeiro com  “desensiladores” e depois com o reboque misturador “unifeed”.

O princípio do sistema “unifeed” ou TMR (total mixed ration – ração totalmente misturada) baseia-se em colocar à disposição das vacas, 24 horas por dia, toda a comida que precisam, devidamente misturada, sob análise e conselho do nutricionista. Carrega-se para o unifeed a palha ou feno, que podem ser recortados e junta-se depois a silagem de erva, silagem de milho, ração ou outros alimentos, mistura-se tudo como numa “picadora 1-2-3“ e distribui-se imediatamente às vacas. Estas, conforme a sua produção de leite ou estado corporal (mais ou menos gordo) podem ainda receber um suplemento individual de concentrado na ordenha ou “estações de alimentação”.

Oferecer sempre a mesma comida pode parecer monótono, mas é mais eficiente porque, na verdade, nós não alimentamos as vacas. Nós alimentamos a “flora ruminal”, que vive na sua pança ou rúmen, o primeiro dos seus 4 estômagos. Para a digestão de cada alimento, depois de triturado na boca, misturado com saliva, ruminado e fermentado, há uma equipa de digestão, composta por bactérias e protozoários específicos. Quando mudamos o alimento, temos de esperar que se desenvolva a nova “equipa” e só depois o animal vai alcançar todo o seu potencial de produzir leite ou engordar para produzir carne. É essa “bicharada pequenina” que é capaz de degradar a celulose e tornar disponível a digestão complementar nos 3 “estômagos” seguintes. É isto que permite alimentar os bovinos e outros ruminantes com pastagens (há áreas enormes que não poderiam ter outra forma de servir para nos alimentar) e aproveitar todo um conjunto de subprodutos para alimentação animal que doutro modo iriam para o lixo.

Nos últimos anos, os reboques misturadores, puxados por tratores, tem sido substituídos por “misturadores automotrizes” mais modernos, inclusive com sensores capazes de analisar imediatamente os alimentos para ajustar as doses de modo a equilibrar o alimento a fornecer. Tal como nos robôs de cozinha para uso humano, também para as vacas podemos escolher entre diferentes cores, marcas e sistemas. Para além das imagens, podem ver aqui um pequeno filme de 2 minutos a mostrar uma dessas maquinas em funcionamento.

#carlosnevesagricultor

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publicado às 00:59

Neste Natal, queijo e vinho nacional!

por Carlos Neves, em 02.12.20
Já escolheu todos os presentes para este Natal? Já escolheu as lembranças para os clientes especiais ou para aquela pessoa que lhe fez um favor quando mais precisou? Já pensou como “mimar” aquele amigo que é especial para si? A minha sugestão é “QUEIJO”, acompanhado de um bom VINHO. Porquê? Porque há imensas variedades de vinhos e de queijos. Porque “há mais filosofia numa garrafa de vinho do que em todos os livros”, segundo Pasteur, que não ficou conhecido pela sua filosofia ou pelas suas frases, mas pelos enormes avanços científicos que nos trouxe, como as vacinas e a pasteurização… do LEITE, que nos permite obter bons queijos de forma segura.
 
Queijo e vinho são alimentos que resultam de trabalhar a terra, cultivar as plantas e cuidar dos animais. São produtos da transformação do leite e das uvas, com técnicas apuradas através de milhares de anos de história, experiência e inovação. Difícil é escolher. Recomendo produção nacional, porque sabe bem a quem prova e faz bem à economia de Portugal. Com a pandemia e o consequente fecho de restaurantes, queijos e vinhos foram dois dos produtos agrícolas mais afetados!
 
Escolhi meia dúzia de exemplos para ilustrar esta proposta, entre pequenas empresas de amigos que são agricultores, criadores, queijeiros e amantes de queijo, mas que não tem orçamento para publicidade na TV ou espaço nos corredores dos maiores hipermercados. São apenas exemplos para vos abrir o apetite e deixar água na boca. Escolham à vontade. Há estes e muitos mais! Não precisam sair de casa, podem encomendar. Boas escolhas, bom apetite! Natal saboroso! Provem e partilhem!
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#queijariaflordovale
#caprinodeodemira
#cooperativapingodeleite
#queijosenras
#casagrícoladosarais
#dosqueijos

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