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Numa hora que já é de descanso para muitos de nós, aposto que ainda há máquinas de ensilar a trabalhar por aí. Há 5 horas de diferença entre Portugal, o Canadá ( Ontário e Montreal, que já visitei) e algumas zonas dos Estados Unidos, onde nunca fui mas que vou acompanhando pelas redes sociais. Em latitudes semelhantes, de um e do outro lado do Atlântico andamos na silagem, uma tecnologia, como muitas da agricultura, que foi daqui da Europa para o novo mundo, evoluiu e voltou compartilhada. Usamos os mesmos tratores, genética animal e sementes. Curiosamente, há uma coisa que não vemos aqui na Europa: Os silos verticais do tipo “Harvestore”, o ponto mais alto na imagem típica da quinta americana junto ao celeiro vermelho.
A sabedoria popular diz que “ninguém está bem com o que tem”. Uma amiga de longa data lembrava muitas vezes que “A felicidade está onde a pomos mas nunca a pomos onde estamos” - a frase é um excerto de um poema de Vicente de Carvalho. A economia afirma que o valor de uma coisa depende da sua raridade. E o mundo está cheio de pessoas que vivem no campo a desejar viver na cidade onde vivem pessoas a sonhar voltar ao campo. Lembrei-me destas coisas ao ver uma imagem impressionante partilhada pelo Pedro Brás Marques. Foi na Grécia, certamente numa das manifestações dos últimos dias contra as máscaras e todas as medidas de controlo do covid.
Há muitas pessoas com memória curta (e também pavio curto, aqui pelas redes sociais, explodem rapidamente). É normal esquecermos o que aconteceu, perante a avalanche de informação. Edgar Morin chamou “nevoeiro informacional” aos três filtros que impedem de ver corretamente a sociedade: excesso de informação, sub-informação a e pseudo-informação.
Mas é muito preocupante e perigosa a falta de memória, a falta de bom-senso e a campanha que se vai fazendo contra as máscaras.
Quando o covid chegou em força ao nosso país, quando os médicos da Itália ou de Madrid tinham de escolher quem tinha direito ao ventilador para não morrer, não havia essa raiva às máscaras. Até os Chineses compraram aqui todas as máscaras possíveis e mandaram para os familiares lá na China. Não era obrigatório, a DGS ainda estava preocupada com a “falsa sensação de segurança” que as máscaras podiam dar e já estavam esgotadas em todo o lado. Nessa altura, todas as máscaras e fatos de proteção que estavam disponíveis nas cooperativas e lojas agrícolas para usar na agricultura ou nos cursos de formação para aplicadores de pesticidas foram encaminhados para unidades de saúde. Recordo-me do telefonema de um responsável de uma associação agrícola que tinha um familiar que era médico no Hospital de Viana e que pediu ajuda para angariar mais equipamentos. Divulguei mas não tivemos sucesso, o que havia já tinha sido encaminhado.
Passados poucos meses, agora que já há máscaras para todos, que foram ganha-pão para as nossas costureiras e salvaram algumas confeções, que são baratas, que podemos escolher descartáveis ou reutilizáveis, que podemos sair de casa e usar máscara para nos protegermos ou proteger os outros, da mesma forma que usamos capacete na mota ou cinto no carro, estamos bem? Não, tem de andar gente a “cismar” com a concentração de CO2 (coitado do pessoal dos blocos operatórios que já deviam ter morrido há anos!) ou que usar máscara é uma forma dos governos nos controlarem, etc, etc… enfim!
Isto faz-me lembrar que a fartura de comida que temos na Europa também faz os consumidores esquisitos (como aquele anúncio polémico e genial do pão de forma sem côdea “tem casca… tem côdea… tem… tem…”). Bem, nos países onde há fome as pessoas procuram comida… não precisam dos mil certificados no rótulo que nós temos nos corredores cheios com milhares de produtos diferentes. Desde as restrições durante a segundo guerra mundial que a nossa sociedade não sabe o que é fome… Sim, há pessoas que passam fome, doentes, idosos, casos dramáticos que precisam ajuda, mas há ajuda alimentar disponível para todos os que precisam, se não houver vergonha ou incapacidade de pedir ajuda. Esta “fartura” de comida explica muito do desprezo pela agricultura. Esta fartura de comida é o resultado do trabalho conjunto dos cientistas e dos agricultores.
Também as máscaras, os fatos de proteção, as vacinas e tratamentos que surjam são o resultado do trabalho conjunto de cientistas e profissionais de saúde. Agora já temos “fartura” de máscaras. Utilizemo-las corretamente e coloquemos no lixo corretamente depois de usar, seguindo as recomendações da comunidade científica e dos representantes credíveis dos profissionais de saúde. Sim, em caso de contágio 99% de nós deve sobreviver mas podemos passar o vírus aos outros 1% que podem ser nossos familiares e amigos. Ah, e nisto de usar máscara, como na estrada, cuidado com a malta que decide inverter a marcha e vir em contra-mão porque se acha mais inteligente que os outros, quer atenção, bebeu uns copos ou “deu-lhe alguma coisa” e não está bem da cabeça.
#carlosnevesagricultor
“Só os entendidos entenderam” porque coloquei a foto de uma espiga de milho, partida, como primeira foto do meu álbum da silagem. É certo que escolhi a foto porque achei bonita, mas houve um motivo agronómico para partir a espiga. E, depois de ver as publicações de dois colegas, lembrei-me que também devia dar aqui uma explicação.
1.Partilhei hoje um ALERTA do Ministério da Agricultura sobre “o envio, por via postal, de pequenos pacotes de sementes, não solicitados, provenientes de países asiáticos” pedindo o ministério a todos os que recebam embalagens de sementes não solicitadas, que NÃO AS SEMEIEM NEM AS COLOQUEM NO LIXO e que as mesmas sejam entregues num serviço regional da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária ou numa Direção Regional de Agricultura e Pescas ou enviadas para a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV, Campo Grande 50 – 1700-093 Lisboa. (...) As embalagens não estão identificadas como contendo sementes e, para além das sementes de várias espécies vegetais, constatou-se que estas poderão ainda conter solo, larvas mortas ou, ainda, estruturas de fungos.”