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Uma aventura na Quinta de Paris com leite a preço justo

por Carlos Neves, em 28.02.20

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Uma aventura na Quinta de Paris
Eu e o Pedro. Só para ver a feira agrícola no parque de Versailles. Avião - transfer - feira agrícola - transfer - avião de regresso.
O SIA - Salão internacional de agricultura, tem nome agrícola, mas é sobretudo agropecuária, sobretudo pecuária. Tem cereais, vinho, legumes e frutas, mas tem sempre uma vaca em destaque,estrela vip com direito a fotos constantes. “Ideale”, vaca charolesa com 6 anos acompanhada do vitelo mais novo é a protagonista do “Salon” entre 22 de fevereiro e 1 de março de 2020. Mais as outras dezenas de raças bovinas de que os franceses têm enorme orgulho. E as ovelhas, de todas as cores, algumas gordas como aquela companheira da ovelha choné. E cabras. E porcos. Coelhos. Galinhas. Patos. E cavalos de trabalho e de lazer. Burros. Cães e gatos. Camelos e animais exóticos acho que também havia, mas não passei perto. E havia um ringue específico para concursos e demonstrações de cada espécie. Milhares de pessoas à volta e outros milhares a provar os produtos animais. Desde grandes companhias de lacticínios como as gigantes Danone e Lactalis até outras centenas de pequenas empresas de queijos e enchidos.
Na véspera da feira, um jornal francês dizia que os agricultores estão preocupados com as consequências do veganismo porque o seu discurso tem cada vez mais eco na comunicação social, mas as estatísticas dizem que os franceses continuam a comer carne e alimentar-se com outros produtos animais. Confirmo

Leite com sabor a preço justo!
Provei muitos produtos saborosos na feira agrícola de Paris mas nenhum soube tão bem como o "Lait equitable" - leite de preço justo, no stand da cooperativa FaireFrance, oferecido pelo Adrien Lefèvre. 45 cêntimos/litro para o produtor!!!
Em 2019 foram vendidos 12 milhões de litros sob esta marca, uma iniciativa que partiu do colegas franceses da Apli - Associação independente de Produtores de Leite, associada e fundadora do European Milk Board - Conselho Europeu do Leite, onde está agora também a Aprolep. Entre vários produtos, já tinham leite meio gordo UHT. Lançaram agora leite inteiro (leite gordo) com a novidade de ser “leite como antigamente” - não há desnatação, pelo que o teor de gordura do leite vendido acompanha o teor de gordura natural produzido pelas vacas ao longo do ano, sendo mais baixo no Verão e mais alto no Inverno. A FaireFrance tinha na feira um stand próprio e outro stand inserido na cadeia de supermercados Lidl, um dos parceiros desta cooperativa de 500 agricultores. Outro supermercado tinha também em destaque o leite garantido ao produtor a 44 cêntimos, nesse caso com o slogan "Les eleveurs vous dits merci” - “os produtores dizem obrigado”. Outro stand ainda destacava o certificado agri-ético - comércio justo. O presidente do EMB, Erwin Schöpges, explicou o conceito do “leite justo” e a sua experiência na Bélgica quando veio ao Colóquio Nacional do Leite em 2018.
Nem tudo vai bem na produção de leite em França. Também há preços médios e baixos. Estes exemplos são oásis no deserto, mas são muito importantes porque são exemplos concretos e positivos. Gente que puxa para cima e serve para apontarmos o caminho para as nossas associações, cooperativas, indústrias, distribuição e governo: - Estão a ver aqueles preços? É para ali que temos de ir!
#carlosnevesagricultor

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publicado às 15:52

É urgente comunicar agricultura

por Carlos Neves, em 22.02.20

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“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons.” (Martin Luther King)

Sabem aquela sensação de estar a ver a nossa equipa de futebol a sofrer golos e não mudar de tática de jogo? É assim que me sinto muitas vezes a ver a agropecuária a perder o jogo da comunicação com os movimentos ativistas para quem os criadores e as suas vacas são culpados de todos os males – depois do “bode expiatório” do antigo testamento temos as “vacas expiatórias” do século XXI. Não é um jogo fácil. De um lado somos amadores em comunicação (agricultores e técnicos) e do outro estão ativistas focados em comunicação permanente.

Os produtos da agricultura e pecuária que hoje chegam ao prato do consumidor são mais seguros e produzidos de forma mais eficiente do que há 100 anos. Produzir um kg de carne ou um litro de leite da moderna agricultura precisou de menos água, terra e energia. Isso é o resultado da investigação, do aconselhamento técnico e da execução profissional e cuidada no cultivo das plantas e criação de animais. Essa evolução deve ser comunicada aos consumidores.

É preciso entender que a comunicação é uma ciência que exige estudo e investimento no trabalho de profissionais. Investimos milhões em investigação, investimos milhões em máquinas e construções para cuidar dos animais com o máximo bem-estar seguindo a informação científica disponível e depois tudo o que fazemos é arrasado num documentário manipulado que não fomos capazes de prever e ao qual não somos capazes de responder de forma eficaz. A comunicação é uma ciência em que devemos investir.

A comunicação deve ser profissional, mas também autêntica e verdadeira. Temos de mostrar a realidade do cultivo dos campos, a criação das vacas, o rosto de agricultores e não apenas bonitos atores em prados de sonho orientados por publicitários para mostrar um ideal que os consumidores desejam mas não existe.

É importante sermos os primeiros a comunicar. Quem já visitou uma vacaria, quem souber como os agricultores normais trabalham e cuidam dos animais não vai acreditar no primeiro documentário manipulado que lhe mostrarem. Pelo contrário, se a primeira impressão for má será muito difícil retomar a confiança dessa pessoa que criou preconceitos.

A nossa comunicação tem de ser permanente como são permanentes os ataques á nossa atividade. Não basta escrever um comunicado em cada crise ou fazer uma campanha de comunicação a cada 5 anos. É preciso ter bons porta-vozes sempre disponíveis e num trabalho permanente.

A comunicação no século XXI está tão segmentada como um bolo de bolacha. Antigamente as guerras ganhavam-se na terra, no mar e no ar. Agora temos de travar a luta da comunicação em todos os níveis – nos jornais, na rádio, na televisão, nos documentários e nas várias redes sociais, do Facebook ao Instagram passando pelo Twitter e WhatsApp.  

Discutir com fanáticos é tempo perdido, mas denunciar mentiras é uma obrigação para proteger outros de serem enganados. Em Portugal dizemos que “onde há fumo há fogo”, mas também pode ser fumo artificial dos concertos de música, artificial e falso como a carne sintetizada em laboratório ou as bebidas que tentam imitar o leite. Ou pode ser o Lewis Hamilton a queimar pneus e gasolina na fórmula 1 depois de parar de comer carne para “proteger o ambiente”.

No futebol, se jogamos sempre à defesa no nosso campo arriscamos perder o jogo. Também devemos jogar ao ataque e no campo do adversário. Que interesses tem quem nos ataca? Quem ganha com a nossa desistência? Que subsídios procuram? Quem lhes paga? De que vivem? Que erros já cometeram? Quando foram apanhados a mentir? Quantas pessoas deixaram de comer carne e peixe e voltaram depois a uma dieta normal porque tiveram problemas de saúde? Quantas crianças já ficaram doentes ou morreram porque os pais lhes restringiram a dieta e até foram condenados em tribunal por isso? No futebol, não é tarefa do guarda-redes nem dos defesas fazer o ataque. Também esta tarefa de jogar no campo do adversário não compete aos agricultores, mas alguém a deve fazer, pelo bem de todos – da agricultura, do meio rural, do ambiente e da saúde da população.

Nós, agricultores, podemos usar as redes sociais para comunicar. Faço isso no meu blog  “Carlos Neves Agricultor”, no Facebook com o mesmo nome e no IInstagram. Outras páginas do Facebook que recomendo: “Agricultora, Veterinária e Mãe”, também aqui de Portugal. “Farmer Tim”, no Canadá; Farm Babe, nos Estados Unidos.

Sejamos positivos! A maioria da população está connosco, respeita o nosso trabalho e só precisa que saibamos ouvir as suas questões e responder sem mentir, ser agressivos ou desistir. Segundo um inquérito de 2019, 99,8% das pessoas continua a comer carne e peixe. O resto é muito ativismo, muito barulho e pouco conteúdo. Estamos a ganhar o campeonato da alimentação e podemos ganhar o jogo da comunicação.

(artigo publicado no nº 15 da revista vaca pinta)

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publicado às 18:00

Mau ambiente no debate ambiental

por Carlos Neves, em 18.02.20

IMG_20200218_132040.jpgAndou exacerbado o debate ecológico nos últimos meses. Vi muita raiva e pouco amor, muito acusar e pouco fazer, muita ignorância e falta de gratidão pelo que foi feito, muita greve e pouco estudo, muita arrogância e pouca humildade, muita discussão a favor e contra a Greta Thumberg e pouca vontade de procurar consenso e avançar.
Gostaria, por exemplo, que os jovens e menos jovens que tiraram os seu tempo para limpar as praias que ficaram cheias de lixo após a tempestade Elsa tivessem o mesmo destaque mediático de quem fez “greve climática”. E que a luta por um mundo mais limpo e ecológico não seja usada só para atacar “a América” ou “o capitalismo”. Houve bombas atómicas e desastres ecológicos em todos os regimes políticos, nenhum sistema político ou económico tem as mãos limpas, mas, ainda assim, nos países com “capitalismo”, democracia e crescimento económico temos menos fome, controlamos o crescimento da população, temos mais cuidado com o ambiente e podemos manifestar-nos e discutir isso. O mesmo não acontece nos países onde não há “capitalismo”, como a Coreia do Norte ou Cuba…
Não nego as alterações climáticas nem a urgência de corrigir erros. Mas desde que a terra é terra e somos uma sociedade civilizada, os avanços conseguiram-se com estudo e trabalho, com a gente que passa horas na biblioteca, em frente ao computador ou no laboratório à procura de soluções ou no cimo das chaminés das fábricas a colocar filtros de partículas. Há uma injustiça e uma ignorância enormes em certas acusações de quem acordou há meses, face a quem fez o melhor que soube e pôde para deixar um mundo mais confortável para quem veio a seguir, face a quem trabalha há muitos anos a controlar e reduzir as emissões dos automóveis ou das fábricas, ainda que se tenham cometido erros e excessos.
«Nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor”, entrará no Reino do Céus». Nem todo aquele que enche a boca com o ambiente, o verde, as energias renováveis, está a ser “ecológico” de corpo e alma. Também pode haver boa intenção sem conhecimento, também pode haver interesses económicos por trás das energias renováveis como há por parte das energias fósseis. Não acuso, não digo quer há, peço prudência na avaliação. Não existe um céu para empresários, engenheiros e funcionários das renováveis e um inferno para o pessoal das petrolíferas. As senhoras que fazem a limpeza ou os senhores que fazem a manutenção da central nuclear, da central termoelétrica a carvão, de biomassa ou de painéis solares, não são mais santos ou impuros por causa disso, são gente como nós que trabalha para alimentar e abrigar a família e sonha com um futuro melhor para os filhos.
Um exemplo que me intriga é o plástico. Quase de repente, o plástico tornou-se o último cavaleiro do apocalipse. Quase de repente apareceram imagens terríveis de ilhas de plástico no mar, de baleias com toneladas de plástico no seu interior, rios forrados de lixo plástico nos países subdesenvolvidos… a solução? Sacos de papel no supermercado, palhinhas de papel nos pacotes de sumo… se eu fosse dado a teorias da conspiração, diria que a indústria do papel está por trás disto, para compensar a redução do uso do papel nas cartas, faturas e jornais… Mas deixo três perguntas para refletir:
1) Li que a maior parte do plástico no mar são restos de material de pesca… que estamos a fazer para reduzir esse problema?
2) Quando substituímos o plástico por papel, vidro ou algodão, estamos a comparar os custos ecológicos alternativos, oo peso superior do vidro, da lavagem para reutilizar? Até acredito que sim, mas nunca vi explicar isso…
3) Em vez de culpar “o plástico”, como se tivesse vida própria, porque não condenamos e combatemos com toda a força o pecado de deitar plástico para o chão ou para os rios? O plástico não sabe nadar, não sabe andar nem voar, não vai sozinho para o mar… se for papel já podemos ser “porcos” à vontade? Bem dizia um grande amigo que “a culpa é sempre dos porcos” e não se referia aos suínos…
Retomo a minha proposta para um futuro mais ecológico e sustentável: mais amor e menos raiva, mais estudo e menos greve, mais trabalho e menos desperdício de alimentos e menos lixo para o chão. (escrito em Janeiro e publicado na revista "mundo rural" de Fevereiro 2020)
#carlosnevesagricultor
#mundorural
#ambiente
#plástico

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publicado às 14:41

Batatas!

por Carlos Neves, em 15.02.20

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Hoje foi dia de plantarmos as nossas batatas, mas apenas um saco de “batata de semente” para o nosso consumo e pouco mais, só pelo gosto de termos a nossa produção. A terra ainda estava um pouco húmida, ou “pesada”, como nós dizemos, mas era preciso aproveitar a ajuda disponível do Pedro que não tem aulas ao sábado. E no final, para fazer alguns acertos na plantação, o Hugo ensinou o Luís a plantar as batatas como o avô do Hugo fazia, usando os pés como medida de compasso entre os tubérculos.
Já agora, algumas curiosidades: apesar de chamarmos “batata de semente” à batata usada, dizemos que estamos a plantar batata porque a batata é um caule, um tubérculo comestível. Ao partir em pedaços esses tubérculos, cada um tem de ter um olho, o embrião do futuro caule para obtermos as novas plantas, a batateira.
Na wikipédia, ficamos a saber que a batata ou semilha (como é chamada na Madeira) tem nome científico de Solanum tuberosum e é rica em amido. “A espécie teve origem no Cordilheira dos Andes, há cerca de oito mil anos e o cultivo foi aperfeiçoado pelos Incas. Os espanhóis introduziram, no século XVI, a espécie na Europa. A grande dependência da batata fez com que o ataque de pragas que devastam as plantações causasse a morte de milhões de pessoas que tinham a batata como principal alimento, tal como aconteceu na Irlanda em 1845. Atualmente, o tubérculo é o quarto alimento mais consumido do mundo (atrás de milho,trigo e arroz), com milhares de variedades de diferentes cores, sabores e tamanhos que são utilizadas em receitas no mundo todo. O maior produtor mundial é a China, cuja produção em conjunto com a da Índia corresponde a mais de um terço da produção mundial.”
#carlosnevesagricultor

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publicado às 22:30

Quase tudo o que vocês comem é produzido pela agricultura intensiva

por Carlos Neves, em 09.02.20

84617666_205377470860560_1314969980734799872_o.jpgAposto que ao ler o título muitos de vocês engoliram em seco, sentiram um arrepio ou algum tipo de mal estar. É um paradoxo do nosso tempo. A população portuguesa, tal como toda a população do mundo ocidental, vocês, os 95% que não são agricultores, tem uma imagem negativa da agricultura intensiva que vos alimenta. No entanto, quase toda a comida que podem comprar nos supermercados, na mercearia do bairro ou na banca do mercado, é fruto da agricultura intensiva. Carne, leite, ovos, frutas e legumes. Foi a agricultura dos adubos químicos e dos pesticidas de síntese que matou a fome no mundo ocidental e matou a teoria catastrofista do Malthus que dizia ser impossível alimentar a população que estava a crescer.
É pelo facto de conseguirmos produzir comida para vós que vocês podem fazer outras tarefas. Com agricultura de subsistencia cada família produz a sua comida e passa boa parte do dia a fazer isso.
É graças a conseguirmos produzir comida muito mais barata, em relação ao passado, que vocês tem rendimento livre para gastar na cultura, nas férias, no conforto da casa, em roupa melhor ou num carro melhor.
À agricultura intensiva “má” opõem-se a agricultura extensiva “boa”? Não. Já disse e volto a repetir: para fazer agricultura extensiva é preciso ter espaço para “estender”. Podemos fazer isso em Trás-os montes ou no Alentejo, não podemos fazer isso no minifundio do Minho ou da Madeira. Com 8.000 m2 de hortícolas em estufa, um agricultor da Póvoa consegue manter a sua família e produzir a salada para a mesa de muitas famílias; Para ser eficiente, especializou-se em algumas culturas, para as quais tem equipamentos que substituem a mão de obra de antigamente. O mesmo aconteceu a mim quando escolhi produzir milho e erva para alimentar as vacas que produzem leite. Os nossos avós faziam “policultura” porque tinham famílias numerosas a trabalhar de graça e “moços de lavoura muito baratos. Muitos eram os vossos pais e avós, que emigraram para a cidade ou para o estrangeiro à procura de uma vida melhor. Aposto que a encontraram. Claro que tem saudades de certas coisas, mas se fosse melhor no campo e na agricultura tinham voltado, ou pelo menos tentado. Nós tentamos sempre mudar para melhor.
É muito bonito pensar num amor e numa cabana no meio do campo, mas depois não há internet, água canalizada, saneamento,ou pior, não há emprego, não há maternidade, não há escola, o hospital está a uma eternidade de distância e faltam muitas coisas que achamos básicas para um mínimo de qualidade de vida.
Alguns agricultores resistiram a mudar e continuaram a fazer a sua agricultura de subsistência, e fazem muito bem, porque se mantém ocupados, mantém a terra cultivada, complementam a magra reforma e tem uns miminhos para quando os filhos e netos vão visitar. Vão visitar. Não ficaram lá nem lhes pensam suceder, porque essa agricultura é muito bonita mas não dá para sobreviver com um rendimento, vá lá, “classe média”. Nós, os que ficamos na terra a produzir a carne, o leite, os ovos, a fruta, as hortícolas ou o algodão da vossa roupa, fomos os que aceitamos usar máquinas, adubos, pesticidas e todas as coisas que fazem parte da agricultura moderna, tão moderna como o vosso carro, o vosso telemóvel, as vossas máquinas de lavar roupa, louça e os detergentes que colocam lá dentro.
Não quer dizer que tenhamos feito tudo certo. Quem conduz na estrada, umas vezes acelera, outras vezes trava, vira para a esquerda, vira para a direita. Em caminhos de cabras vai devagar, em autoestrada acelera. Adapta-se às condições e vai aprendendo. Como os agricultores, uns no modelo extensivo, outros no intensivo. Cada um procurando adaptar-se às condições locais e aos meios disponíveis, mas todos trabalhando para vos alimentar.
#carlosnevesagricultor

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publicado às 14:10

As vacinas e uma história deliciosa

por Carlos Neves, em 01.02.20

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"Vacina": de "vaca"

Em plena emergência de saúde global devido ao coronavirus, milhares de cientistas em todo o mundo estão certamente a trabalhar noite e dia para descobrir a vacina para esta nova ameaça. Lembrei-me disso hoje enquanto vacinava as minhas turinas🐄🐄🐄. Elas não gostam da picada, eu também não, mas é o melhor para nós.
Não há vacinas obrigatórias para as vacas leiteiras, portanto esta e outras vacinas são uma opção para proteger os nossos animais de doenças que nos fazem gastar mais medicamentos e provocam baixa de produção e até mortes. Por isso, sob orientação veterinária, estou a usar cada vez mais vacinas e menos antibióticos.
A propósito disto, vale a pena recordar que a palavra "vacina" vem de vaca e aproveito para fazer uma pequena citação de um artigo que publiquei no "mundo rural" precisamente com o título "Vacinas"
"(...) As investigações🔬 do médico inglês Edward Jenner, publicadas em 1796, podem ser consideradas como as bases científicas da vacinação. Jenner tinha decidido investigar uma crença muito popular entre os camponeses, e que era a de que os trabalhadores rurais que lidavam muito directamente com vacas doentes com a varíola das vacas, conhecida como “cowpox”, e que desenvolviam pústulas semelhantes às dos animais, (uma condição benigna conhecida por “vaccinia”, do latim “vacca”), não eram contagiados com a varíola humana. Com base nessa investigação, Jenner inoculou um rapaz de 8 anos saudável, que nunca tinha tido nem varíola nem “vaccinia”, com pús de “cowpox”. A criança rapidamente desenvolveu sintomas benignos de “vaccinia” e, mais tarde, foi inoculado com o vírus da varíola humana mas não desenvolveu a doença (...)
Apesar dos erros que se cometeram e possam cometer, porque risco zero não existe, quero aproveitar para manifestar a minha confiança no método científico, na investigação médica, na medicina veterinária ou humana, cujo saber ensinado nas universidades e praticado nos hospitais é um saber acumulado ao longo de séculos, devidamente registado nos livros guardados nas bibliotecas e avaliado pelos cientistas ao longo do tempo. É desse trabalho minucioso de milhares de estudiosos e investigadores, passando por avaliações e testes de segurança, que se chega às vacinas, antibióticos ou outros medicamentos disponíveis.

Ainda a  propósito de vacinas - uma história deliciosa
Houve um tempo, até há 30 anos, em que a vacina da febre aftosa era obrigatória para os bovinos. Nessa altura o meu pai fazia engorda dos novilhos🐃 e um nosso vizinho, o senhor António, tinha um talho e comprava-nos alguns desses animais. Um dia combinámos vender-lhe um touro, ele veio vê-lo, eu entreguei-lhe o "boletim de sanidade” do animal e a folha comprovativa da vacina. Recordo bem que era uma folha A5, letra azul e papel fino. O Sr António quis ver novamente a traseira do novilho, para se certificar que estava bem gordo. O animal estava preso à manjedoura num anexo com 3 animais. O Sr António pousou os papéis na manjedoura, que ficava a 50 cm do chão, à moda antiga, e lá fomos todos avaliar a gordura do touro. Quando voltámos à frente a folha da vacina já estava na boca do animal😀. Basicamente, comeu a sentença de morte e durou mais uma semana, enquanto esperámos pela segunda via pedida na Zona agrária. Lembrei-me disso estes dias porque também foi ilibado em tribunal um autarca que comeu uns papéis.
De volta a coisas mais sérias, as vacinas que hoje damos às vacas são opcionais, mas, apesar dos custos, os agricultores aceitam bem os conselhos dos médicos veterinários. Aqui na agricultura não há moda anti-vacinas com teorias de autismo nas vacas ou conspirações de bigpharma. E podemos dar graças pelo trabalho conjunto de agricultores e veterinários para ter na Europa saúde e segurança alimentar.
#carlosnevesagricultor

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publicado às 18:48


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