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Mais cedo ou mais tarde, com mais ou menos diplomacia, com mais ou menos justiça, haverá paz na Ucrânia. Espero que seja mais cedo do que tarde, porque a guerra é algo muito mau e espero que seja com o máximo possível de diplomacia, respeito e justiça, porque uma paz sem justiça é uma paz podre.
Qualquer que seja o futuro que agora nos parece incerto, uma coisa parece certa: vamos gastar mais dinheiro com a defesa. Seja para a guerra efetiva, seja para a paz, porque "quem quer a paz prepara-se para a guerra", seja para reconstruir a Ucrânia destruída pelas bombas, seja para integrar a Ucrânia na União Europeia, isso vai custar dinheiro.
Um orçamento, nacional ou comunitário, é sempre uma escolha na gestão de uma manta curta. Para tapar uma coisa destapa-se outra. Temos de estar conscientes que aumentar o orçamento da defesa irá pressionar cortes nos outros setores, como a agricultura.
Governar é fazer escolhas e as escolhas atuais não são fáceis nem são simples como pode parecer quando teclamos furiosamente no telemóvel e vivemos em bolhas informativas, com manipulação cada vez mais sofisticada. Convém manter o espírito aberto para ponderar entre os valores que não podemos esquecer e as limitações da realidade com que temos de viver. Convém estudar a história para não repetir os erros do passado e antecipar o que pode acontecer. O meu pai lembrava muitas vezes que "a história é uma velha chata que se repete com frequência".
Quando estive em Paris com a família há poucos dias, pelo interesse de visitar o túmulo de Napoleão, fomos visitar o museu militar que fica nos "Invalides", o antigo hospital para os feridos da guerra. Num museu repleto de armas, chamou-me a atenção este cartaz do Ministério da agricultura francesa na primeira guerra mundial, "Semear batatas, pelos soldados, pela França". Lembra-nos que o povo e os soldados precisam sempre de comer. A agricultura faz parte da segurança estratégica de um país ou de uma comunidade democrática, como devemos defender que seja a Europa.
#carlosnevesagricultor
Para o “Dia dos namorados” de 2025, o “presente de luxo” mais sugerido pelos utilizadores de redes sociais nos Estados Unidos são… ovos!
O site AGDAILY mostrou várias dessas publicações e deu um exemplo de Lisa Shepard que publicou: “Não sou de me gabar, mas o meu marido comprou-me 4 dúzias de ovos de presente de dia dos namorados hoje!”
As piadas multiplicaram-se à medida que o sentido de humor acompanhou a subida do preço dos ovos registada nos últimos meses. A principal causa desta subida parece ser a gripe aviária, que tem levado ao abate de muitas galinhas e consequente redução da produção, mas o meu colega Derick Josi, TDF Honest Farming, não sendo produtor de ovos, chamou a atenção para outra hipótese que merece ser considerada: Esta subida do preço dos ovos acontece depois da imposição de uma série de regras nos últimos anos ao nível de aviários, nomeadamente a obrigação das galinhas terem acesso ao ar livre, regras que aumentam os custos.
Já agora, convém lembrar que a gripe aviária é transmitida pelas aves migratórias e quando as galinhas têm acesso ao exterior o risco de contrair a doença é maior.
E outra coisa ainda: as regras de bem-estar animal, que podem parecer razoáveis, que muita gente defende preocupando-se genuinamente com o bem-estar dos animais de produção, também podem ser um “truque” para causar o aumento do preço da proteína animal, nomeadamente o custo dos ovos e da carne de frango e assim favorecer o mercado das alternativas de base vegetal ou as imitações de carne produzidas em laboratório...
Lembram-se do filme Forrest Gump? Protagonizado por Tom Hanks, conta-nos 40 anos de história dos Estados Unidos de uma forma divertida, através das histórias da vida de um rapaz com Q.I. abaixo da média. Numa das cenas mais comoventes do filme, Forrest, com o coração nas mãos, pergunta se uma certa criança (ao contrário dele) é normal. Noutra cena, corta a relva. Cortar a relva também é uma coisa que eu gosto de fazer. Sinto-me “normal”, igual a qualquer outra pessoa de classe média, de qualquer profissão, que corta a relva do seu jardim.
Na cabeça de muita gente, trabalhar na agricultura não é ser normal, é estar um bocadinho abaixo do normal na pirâmide da sociedade. Lembro-me, ainda criança, de ouvir coisas como “desperdiçar na agricultura uma cabecinha boa para estudar”. Lembro-me mais tarde de me aperceber que muitos e muitas jovens preferiam trabalhar numa fábrica de confeções a ganhar o salário mínimo (que já foi muito mais mínimo do que é hoje) em vez de trabalhar na agricultura da família. Lembro-me ainda de ler George Stilwell relatar o “orgulho de ser agricultor” que observou no Royal Show em Inglaterra, por oposição à baixa autoestima dos agricultores em Portugal…
Com tudo isto, com o trabalho às vezes duro, com os preços baixos dos produtos agrícolas, não admira que uma parte significativa dos agricultores tenha saído do meio rural em direção à cidade ou ao estrangeiro ou diga aos filhos para fugirem da agricultura e procurarem um trabalho atrás de uma secretária.
Entretanto, se antigamente os portugueses tinham pena dos agricultores, por causa da dureza do trabalho e da pobreza da maioria dos trabalhadores agrícolas, hoje, por vezes, têm medo e veem os agricultores como malfeitores que poluem o ambiente, maltratam animais e enchem a comida de químicos que fazem mal.
No entanto, com as novas tecnologias, a agricultura pode ser mais confortável e cativante. Há muitas pessoas descontentes noutras profissões, a trabalhar por turnos, a fazer trabalhos duros e repetitivos que na agricultura poderão encontrar um trabalho mais compensador… se forem chamados, se lhes for proposto um ordenado compensador, se o preço dos produtos agrícolas compensar esse pagamento e ainda se não acontecer a resistência social que referi atrás.
Com a saída da mão de obra agrícola, com a redução normal do número de filhos por família, com o fim do trabalho infantil, a solução de quem fica na agricultura manter a atividade passa pela mecanização possível e pela contratação de imigrantes para o trabalho agrícola.
Neste momento, 40 em cada 100 trabalhadores agrícolas em Portugal já são estrangeiros. São 40% da força de trabalho e também são 40% das pessoas que fazem descontos para a segurança social…
Por muito que alguns possam ter saudades do passado em que não faltava gente (pelo contrário, havia tanta gente que emigrar era a única forma possível de fugir à pobreza), por muito medo que possa haver em relação a rostos e línguas estranhas que chegaram, esta é a realidade atual da nossa agricultura.
A dignidade desses imigrantes é posta em causa pelas redes de tráfico humano, pelas condições miseráveis em que por vezes são alojados, pela falta de resposta dos serviços do Estado que deviam proceder ao seu registo e tratar da documentação e pela insegurança que a população portuguesa vai percecionando com o aumento da imigração. Os imigrantes são essenciais na agricultura e noutras atividades económicas, são essenciais para manter viva essas atividades, para manter vivo o meio rural português, mas tem de ser integrados e acompanhados para não serem marginalizados ou se tornarem marginais com todas as consequências sociais que se podem esperar. Escrito para Mundo Rural - Janeiro / Fevereiro 2025
Tenho saudades do tempo em que o estado do tempo era um desbloqueador de conversas e não um detonador de discussões entre guerreiros do teclado. Uma pessoa chegava à sala de espera do médico, comentava que estava frio ou vinha chuva e uns acenavam com a cabeça, outros ficavam calados e outros, se quisessem, tinham conversa para ocupar o tempo de espera comentando o calor das férias do Algarve, o frio de Trás-os-montes ou a nortada da Póvoa. As discussões aconteciam entre os adeptos dos boletim meteorológico, das fases da lua, do almanaque ou dos ditados antigos como o humor da Senhora das candeias.
Agora, aparece uma notícia sobre vento e chuva e começa a discussão entre os adeptos da teoria do “fim do mundo” (que vai acabar por causa do aquecimento global) e do “fim do mês” (o que interessa é ganhar o dia a dia e depois vê-se). Para os primeiros, no limite, cada vez que alguém espirra a culpa é das alterações climáticas, para os segundos ventos de 200 km / hora é normal no inverno. Pelo meio, ou por trás de tudo isto, há sempre negócios. Uns tentam manter as vendas e outros vender novas coisas e às vezes até são os mesmos que vendem gasóleo e eletricidade, que furam num lado e colocam painéis solares no outro e ganham em ambos enquanto nós, o povo, nós consumimos a consumir, a discutir e a fazer publicidade grátis.
Para complicar, a própria meteorologia “privatizou-se” e agora em vez do boletim meterológico no fim do telejornal temos 20 canais de televisão, 40 jornais e 400 páginas “meteo” a lutar por likes e visualizações, e se alguns tentam manter o rigor, outros não se importam de anunciar a “tempestade do século” em letras garrafais quando o centro da tempestade está a milhares de kms e aqui “só” está previsto um bocado de vento e chuva. E depois, como na história do Pedro e do lobo, o povo deixa de dar atenção aos avisos e responde sempre “é inverno, é normal”, e não toma os cuidados que devia ter…
Ó gente, quando a Proteção civil faz avisos, é como quando a vossa mãe dizia “Está frio, leva o casquinho! Vem chuva logo à noite, leva o guarda-chuva ou anda para casa mais cedo!” Vocês respondiam “Ó mãe, é normal, estamos no inverno?” Então…
#carlosnevesagricultor #tempo #meteo #chuva #vento #herminia